Sepultura toca no Rock in Rio

Confirmada a presença de uma das bandas brasileiras de maior prestígio internacional. Eles vão tocar na noite pesada, que tem ainda Iron Maiden, Rob Halford, Queens of the Stone Age, Pavilhão 9 e Sheik Tosado

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Muitos bateristas do planeta dariam um braço para integrar uma banda como o Guns n´ Roses. O baterista do Sepultura, Igor Cavalera, declinou gentilmente do convite, feito anos atrás pelo empresário do grupo em nome do seu bandleader, Axl Rose. "Eu disse a eles que minha parada é o Sepultura, está no meu sangue", diz Cavalera, um dos fundadores do quarteto mineiro que conquistou o mundo e tornou-se a banda brasileira de maior prestígio internacional no começo dos anos 90. Curiosamente, o Sepultura divide hoje esse título de "banda brasileira padrão exportação" com um grupo que nasceu de uma dissidência sua, o Soulfly, liderado pelo irmão de Igor, Max Cavalera. O Sepultura foi confirmado oficialmente pela produção do Rock in Rio por um Mundo Melhor para a jornada roqueira de janeiro. Vai integrar a noite pesada, que tem ainda Iron Maiden, Rob Halford, Queens of the Stone Age, Pavilhão 9 e Sheik Tosado. Mas perguntem a Igor se ele está satisfeito com a companhia. "Poderia ser bem melhor", ele diz, com seu jeito franco. "A banda que eu mais vou gostar certamente é o Pavilhão 9", confessa. Na verdade, a paixão pelos rappers do paulistano Pavilhão 9 é antiga e já rendeu parceria. O Sepultura participa da faixa Mandando Bronca, do CD Cadeia Nacional. Já sobre o Iron Maiden, o baterista diz que chegou a curtir no passado, mas na fase em que o vocalista era Paul Di´anno, que tinha "uma pegada mais punk". Segundo ele, o cantor histórico da banda, Bruce Dickinson, canta bem, mas "sem atitude". A recíproca não é verdadeira: Dickinson, em entrevista recente, disse que adora o Sepultura. De qualquer modo, o confronto de janeiro entre Sepultura e Iron Maiden não vai ser só de gostos e preferências. Igor conta que já desafiou a banda - amante histórica de um joguinho de futebol - para uma pelada em janeiro. Mas não é covardia? Eles não são demasiado pernas-de-pau? "Tem que dar uma canseira neles", diverte-se o baterista. Segundo Igor, o show do Sepultura na terceira edição do Rock in Rio ainda não vai marcar a estréia do novo disco do quarteto. Segundo ele, não terão aprontado ainda o CD, mas, certamente, haverá algumas canções novas no show. Duas que podem pintar são Sepulnation (letra de Igor e música do guitarrista Andreas Kisser) e Saga (de Andreas e do vocalista Derrick Green). O músico conta que a banda já tem 16 músicas gravadas. Algumas coisas vão para singles, os chamados B-Sides. Há três covers entre as gravações: Bela Lugosi´s Dead, do Bauhaus ("Ficou bem tribal, super-forte", diz Igor); mais uma música do grupo Crucifix e outra do Black Flag (que já foi o grupo de Henry Rollins), Rise Above. "Nessa música do Black Flag tem a participação do João Gordo fazendo um dueto com o Derrick, tipo Celine Dion e Elton John", brinca Igor. O novo CD do Sepultura deverá chegar às lojas em fevereiro de 2001. Será o definitivo teste de fogo para o grupo, que, após a saída de Max Cavalera, teve de trocar de vocalista e lançou Against, um disco ainda de transição. Agora, com o novo cantor Derrick Green totalmente integrado, a exigência da "nação Sepultura" (os fãs do grupo) será maior. Igor não se furta a comentar o trabalho novo do grupo de Max Cavalera, Primitive, lançado no mês passado com boa acolhida da crítica internacional. "A faixa com o Sean Lennon é uma b...", ele disse. "E eu achei que a voz do Max tá f... e o CD está bem fraquinho", afirmou. De qualquer modo, ele afirma que não é um "radical" a ponto de dizer que não toca com esse ou aquele músico. "Eu tocaria com o Sean Lennon, mas se fosse um projeto legal", afirma. Igor, que mora em Incinitas, cidadezinha a meia hora de carro de San Diego, na Califórnia, diz que concorda com as queixas das bandas nacionais quanto ao tratamento dispensado a grupos americanos em grandes festivais. Os brasileiros acusam produtores de prejudicarem os grupos nacionais em detrimento das bandas estrangeiras. O próprio Sepultura sentiu isso na pele quando fez um show recentemente no Anhembi, em São Paulo, abrindo para os americanos do Metallica. O guitarrista, Andreas Kisser, acusou o Metallica de boicotar o sistema de som do Sepultura. "Eu acho que é cagaço, acho que é medo", definiu Igor. "Os gringos sabem que o bicho pega se botar som de igual para igual e preferem prejudicar", confidenciou. Ainda assim, ele diz que vai ao Rock in Rio já "vacinado" contra o problema. "Nós soubemos do lance que resultou no afastamento de grupos nacionais antes de ter qualquer contato com o festival", contou. "Então, já negociamos as coisas com prudência, exigindo tudo que era de direito do Sepultura". De acordo com Igor, um contrato bem-feito pode afastar essa possibilidade de tratamento diferenciado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.