Sem Yuka, Rappa mostra sua nova cara

Banda fala em harmonia e criação coletiva na entrevista de apresentação do primeiro CD sem o ex-líder Marcelo Yuka, O Silêncio Q Precede o Esporro

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Por Agencia Estado
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Seu Antônio é um paraibano que saiu de João Pessoa e abriu seu boteco em uma rua estreita de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. Serve cabrito, buchada, sarapatel de bode e pede a seus clientes que não fiquem sem camisa e não façam batucada nas mesas porque o ambiente ali é familiar. Os músicos do Rappa, que não saem do Antonio?s Bar, adotaram a mesma filosofia. O Silêncio Q Precede o Esporro é o título de seu novo disco e a resposta que dão depois de ficarem dois anos sem músicas inéditas. A saída do ex-líder Marcelo Yuka, responsável pelas letras de maior impacto do grupo, havia deixado o navio sem rumo. Os silêncios do bar de Seu Antônio e do Rappa foram quebrados na tarde de terça-feira. Quatro opalas pretos rebaixados, motor 4.1, alugados pelo departamento de marketing da gravadora da banda, chegaram ao Antonio?s Bar com quase 20 jornalistas prontos para entrevistar os músicos. As interrogações que a saída de Yuka haviam deixado eram em relação às letras. Afinal, quem assumiria o bastão de autor? Seria possível manter o nível da poética politizada do ex-parceiro? "Nos aproximamos muito mais agora. Escrevia um pedaço de alguma letra e mostrava para os outros. E ela podia mudar umas dez vezes até ficar boa", conta Falcão. As apostas estão todas a favor do grupo. Marcelo Maia, diretor de marketing da gravadora, revela que a Warner tem hoje duas grandes prioridades: Maria Rita e O Rappa. As boas intenções da empresa são autênticas. É bom sinal saber que, em plena fase de se caçar usinas de hits para o verão de 2004, uma gravadora como a Warner investe pesado em um grupo com o discurso de difícil digestão que tem o Rappa. Mas O Silêncio Q Precede o Esporro dificilmente chegará ao topo dos mais vendidos. Seu maior mérito é o de ir justamente contra esse desejo. São treze músicas, onze inéditas, com participações de Zeca Pagodinho, em uma regravação para Maneiras, e da rapper argentina Malena D?Alessio na faixa Óbvio. Outra regravação foi para Deus lhe Pague, de Chico Buarque. Ao contrário dos outros discos, quando a liderança de Yuka pesava no estúdio, os músicos tocaram vários instrumentos, como as guitarras gravadas pelo baterista Lobato e o violão tocado em uma das faixas pelo baixista Lauro. Sobre a saída de Marcelo Yuka, Marcelo Lobato disse mais nas entrelinhas: "Uma banda é um casamento onde todo mundo tem de abdicar um pouco..." Falcão, em outro momento, deixou mais desabafos implícitos. "Somos um grupo e jamais vou deixar que um fale mais alto do que o outro." E fez a análise: "Vejo muitas bandas que o vocalista quer ser a parada. Aqui não sei nem dizer quem fez a letra ou quem fez a música. Estamos muito unidos e o que sinto por esses caras que estão aqui é um amor real."

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