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Sem grilo, Emanuelle Araújo canta Jards Macalé

Gravado em Nova York, segundo álbum solo da cantora aborda obra do autor de ‘Vapor Barato’

Por Renato Vieira
Atualização:

Na adolescência, quando participava de um grupo de teatro em Salvador, Emanuelle Araújo foi apresentada à obra de Jards Macalé. Ela achou instigantes as melodias não óbvias do compositor, que ganharam letras de Capinan, Torquato Neto e Waly Salomão. Desde que se mudou para o Rio de Janeiro, há pouco mais de 15 anos, ela pensava em fazer um disco com músicas dele.

A ideia se concretizou no fim de 2018. Em Quero Viver Sem Grilo – Uma Viagem a Jards Macalé, Emanuelle interpreta dez músicas do compositor. Nos últimos anos, o cancioneiro dele foi reavaliado e o artista se aproximou de nomes importantes da geração contemporânea no elogiado álbum Besta Fera, que saiu no ano passado.

Homenagem. 'Macalé é um artista corajoso e influenciou muita gente', diz a cantora Foto: Ana Cissa Pinto

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Enquanto passava uma temporada em Nova York, no fim de 2018, Emanuelle decidiu se dedicar às canções de Macalé, convidando instrumentistas brasileiros e americanos para participar do álbum. “Após as eleições eu fiquei muito mexida, era um momento emocional de muita ebulição. Pensei que era a hora”, conta a cantora. Ela optou por um formato de power trio, sustentado pelas presenças do guitarrista Guilherme Monteiro, do baixista francês Ben Zwerin e do baterista americano Bill Dobrow, com intervenções de Lan Lanh e Mauro Refosco na percussão.

A cantora escolheu músicas representativas da trajetória de Macalé, mas passou ao largo das obviedades. Mal Secreto e Vapor Barato, lançadas por Gal Costa, por exemplo, ficaram de fora. “Achei que eram canções muito conhecidas”, justifica, ressaltando que ambas devem ser incluídas nos shows com o repertório do disco.

Das canções célebres, Emanuelle escolheu Movimento dos Barcos, Anjo Exterminado – ambas foram lançadas por Maria Bethânia – e Hotel das Estrelas. Escolhida como single de Quero Viver sem Grilo, a faixa também ganhou videoclipe dirigido por Jorge Farjalla. “Procurei ser fiel à essência de cada canção”, explica a cantora.

Quando a gravação estava no fim, Emanuelle se lembrou de uma música que Macalé fez em 1977 para a trilha sonora do programa infantil da TV Globo Sítio do Pica-pau Amarelo, baseado na obra do escritor Monteiro Lobato. Na internet, ela achou a gravação de Tio Barnabé. “A música tinha uma identidade afro-baiana, tribal. Pensei na referência africana da letra e melodia”, afirma. 

Emanuelle pensava em batizar o álbum como Boneca Semiótica, curiosa parceria do homenageado com o multiartista Rogério Duarte e os poetas Chacal e Duda Machado. Depois da mixagem, ela optou por Quero Viver Sem Grilo. A música veio à luz quando gravações caseiras do compositor saíram em uma caixa com discos que ele fez nos anos 1970. “Essa música combina com o processo que me fez começar o disco, o cenário que eu estava vivendo e o momento atual”, diz a cantora, que ainda este ano vai se dividir entre o cinema e os palcos. 

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Ela está no elenco de O Meu Sangue Ferve Por Você, filme baseado na vida e carreira do cantor Sidney Magal. No segundo semestre, ela começa os ensaios para uma nova montagem nacional de Chicago, sua estreia em musicais.

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