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Seguindo o rei Roberto mar adentro, em cruzeiro

Há 4 anos ele faz show no navio Costa Fortuna, onde mais de 3 mil pessoas pagam felizes entre US$ 1,2 mil e US$ 1,6 mil por cabeça para vê-lo cantar

Por Agencia Estado
Atualização:

Estela, de Belém do Pará, o encontrou pela primeira vez nos anos 60, nos bastidores de um programa da TV Marajoara, recostado em um balcão, esperando pacientemente a sua vez de entrar em cena. "Naquela época, ele ainda fazia show em cima de caminhão", lembra. O padre Antônio Maria recorda, durante uma missa no restaurante do navio, a sua primeira vez com Roberto Carlos. "Eu fiquei eufórico quando o encontrei e, como todo tiete, pedi para tirar uma foto com ele. Ele topou, mas, de repente, falou: ´Pára, pára! Tem um espelho aqui atrás, padre, vai estragar sua foto. Vamos mais ali adiante.´ Roberto é um homem de uma tremenda humildade e simplicidade." Para o trompetista Walmir Gil, um dos fundadores da famosa banda Mantiqueira, que já acompanhou Djavan e hoje está há "apenas" três anos acompanhando Roberto (há outros músicos, como o percussionista Dedé e o vocalista de apoio Djalma, que seguem o ´Rei´ há mais de 40 anos), o cantor é "um homem com algumas manias, mas acima de tudo um músico de grande talento, um fabuloso intérprete". A bordo do navio de cruzeiro Costa Fortuna, no qual o cantor mais popular do País se apresenta anualmente há 4 anos, é possível colher muitos retratos de Roberto Carlos, quase todos elogiosos, quase todos incondicionalmente elogiosos. Mais de 3 mil pessoas pagam alegremente todo ano entre US$ 1,2 mil e US$ 1,6 mil por cabeça para acompanhar esse cruzeiro, que reúne parte da corte excêntrica de Roberto - este ano, além do padre-cantor Antonio Maria, da cantora Martinha, do ator José Valien (o ´baixinho´ da Kaiser), estava lá até um homem que ganha a vida como sósia de Roberto Carlos, o goiano Raul Nazário. "Sim, ele sabe que eu estou aqui e até trocou uns sorrisos comigo do palco", comemora Nazário, que "já foi hippie, seu apelido é Zinho, torcedor do Palmeiras e Vasco", segundo nos conta o pequeno cartão que distribui a quem o interpela. Nazário se refere a Roberto sempre como a uma divindade. Não é o único. "Muitos de nós perderam o barco de Jesus", discursou o padre Antonio Maria. "Mas Roberto não, ele não esquece nunca do principal, ele sabe que é o rei com minúscula, que aquele é o Rei com maiúscula", disse, apontando para o céu. Foi Roberto, ele teoriza, que após cantar Jesus Cristo em shows, demoliu a barreira que havia entre a canção religiosa e a canção pop, possibilitando o aparecimento de gente como ele mesmo, padre Antonio Maria. Inédito Um único membro da corte carliana correu o risco esta temporada de desagradar ao cantor com um pedido "sacrílego". O dançarino Carlinhos de Jesus colocou mais de 300 senhoras e senhores para dançar ao som de Quero Que Tudo Vá pro Inferno - ora, todo mundo sabe que Roberto não fala a palavra "inferno" e não canta mais essa canção. "Mas eu pedi autorização antes", diz Carlinhos. E Roberto consente. "O Carlinhos pode, está previamente aprovado." Os admiradores acorrem ao mar, segundo dizem, pela possibilidade de ficar perto dessa entidade particular do mundo pop. Ano a ano, ele parece realizar cada vez um pouco mais esse sonho dos fãs. Na madrugada de terça-feira, depois de um show de 2 horas no teatro do navio, desceu de sua cabine e caminhou pelo convés como um homem comum. Estava à procura de um novo parceiro, o MC Leozinho, que o introduziu ao mundo do funk carioca. Juntos, cantaram Se Ela Dança Eu Danço, hit do funkeiro, e Negro Gato (1966), de Getúlio Cortes, hit da Jovem Guarda, o movimento jovem do qual ele foi o capitão e timoneiro nos anos 60. Desinibido, o rei saiu beijando as dançarinas, mas pareceu mais entusiasmado com uma de olhos azuis e derrière de fazer inveja à Scheila do Tchã. "Já estou com o Leozinho há uma cara, mais de um ano", disse a invejada popozuda, que assina o singelo nome de Gracie Kelly. O show de Roberto Carlos a bordo do Costa Fortuna é rigorosamente igual ao que faz em qualquer lugar em terra firme. Só uma novidade: ele canta a quase desconhecida canção Comandante do Seu Coração, dele e de Erasmo, de 1966, ultrakitsch ("Mas se você quiser, tomo conta de tudo/ desatraco esse barco, traço nosso mundo/O caminho do amor/Eu sei a direção"). O Projeto Emoções em Alto-Mar, como foi batizado o cruzeiro, é um cardume de expressões, trocadilhos e metáforas com o mundo marinho e o mundo robertiano. "Esse é o maior barco do mundo. Mas nem mesmo o sol, nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito é maior que o meu amor por vocês", discursou aos comensais do seu principal restaurante o capitão italiano do barco, Michele de Gregório, citando a música Como É Grande o Meu Amor por Você (1967). No cruzeiro de Roberto Carlos, velhas senhoras sonham em ser escolhidas a dedo para a sucessão ao trono vago de rainha. Dona Elvira, colega de dona Estela, ambas de Belém do Pará, acha graça quando ouve dois homens gritando a mesma frase que ela ("Roberto, eu te amo"). "Tem esposa que é cega", ironiza. Uma das senhoras rompeu o cerco da segurança e das tietes no final do show e conseguiu entregar a ele uma boneca que carregava com um cartaz colado nas duas mãos, onde se lia: "Roberto, você sabe que eu te adoro, mas não sabe quanto." Roberto recolheu o brinde, leu e abraçou a boneca. E depois o pessoal ainda não sabe porque ele se mantém há quase 50 anos no coração de seus fãs.

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