São Paulo tem final de semana de ´Sobradinho´

Zeca Pagodinho e Martinho da Vila fazem shows na cidade. Enquanto a casa de samba de Maria Clara Diniz na novela das oito vira ponto de encontro de sambistas, casas de SP torcem pelo fenômeno

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Por Agencia Estado
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A música de Beth Carvalho, Martinho da Vila, Fundo de Quintal, Jorge Aragão e Dudu Nobre, gente que defende com cuícas e dentes o que se convencionou chamar ´samba de qualidade´, não iria parar na novela das oito por gentileza da Rede Globo. Eles são ou serão atrações do ´Sobradinho´ - a casa de shows da empresária Maria Clara Diniz (Malu Mader) da novela Celebridade - porque, nas palavras dos próprios músicos e donos de casas noturnas de São Paulo, o mesmo samba que um dia agonizou vive seus dias de celebridade. Com apresentações de Zeca Pagodinho e Martinho da Vila, São Paulo vai ter um final de semana de ´Sobradinho´. O samba agora pode pedir passagem e, no caminho, aproveitar para agradecer ao autor do folhetim das oito da Rede Globo, Gilberto Braga, pelo revival do ritmo. Aos 66 anos, quase 40 de carreira, Martinho da Vila, que se apresenta amanhã no Tom Brasil ? Nações Unidas tem certeza de que algo de novo acontece no front do gênero nascido e criado na periferia. Sua empolgação com o novo show e com a participação que fez na novela Celebridade é indisfarçável: "O interessante é que o samba está ganhando cada vez mais espaço. O samba está dando ibope", diz Martinho."E não é só na novela da Globo, não. Se você observar, vários programas de televisão estão colocando sambistas na programação para ganhar audiência". E os ´sobradinhos´ da cidade torcem para que um fenômeno não seja passageiro. "As classes mais privilegiadas estão tratando o samba como nunca trataram. Mesmo bairros mais nobres como Vila Olímpia e Pinheiros estão investindo em casas de samba de raiz", diz Humberto Miranda, assessor e programador do Carioca Club, endereço de sambistas de Pinheiros que chega a receber até duas mil pessoas em uma noite. A linha de pensamento dos novos empresários do samba, a exemplo da fictícia Maria Clara Diniz, quebra a regra do quanto-menor-o-nível-maior-o-público. O Traço de União, no Largo da Batata, tem noites quentes e rentáveis quando toma o caminho inverso da fórmula comercial e chama nomes como Moacyr Luz, um dos papas do ´bom samba´ que se apresenta hoje, e Bandeira Brasil, compositor parceiro de Arlindo Cruz, Monarco e Noca da Portela que será a atração de amanhã. "O samba vivia no gueto há até pouco tempo. O que vejo hoje é uma ebulição", considera um dos sócios da casa, Germano Sehr. O Sobradinho de ´Celebridade´ é cheio de boas intenções com o samba de roda mas peca ao embrulhá-lo demais como artigo de luxo. Os empresários que viram a novela acreditam que o clima da casa de Maria Clara é fichinha perto do que se vê pela noite. "Por ser uma casa de samba, ela é muito fria. Não existe integração de palco e público. Tudo lá é muito organizado. E uma ´desorganização´ é importante para dar o clima´, diz Sehr. Outros pré-requisitos para um bom Sobradinho dar certo, em sua opinião: "cerveja sempre gelada, copo americano, petisco caprichado." O Fundo de Quintal, conceituado grupo carioca que mudou a forma de fazer samba no início dos anos 80 com novos instrumentos como repique de mão e banjo, interrompeu uma turnê turbulenta e a divulgação de seu novo disco para atender ao pedido da Rede Globo. Os músicos chegaram ao Rio de Janeiro de um show que haviam feito em Belém, no Pará, e foram direto ao Sobradinho gravar participação cantando a música ´Lucidez´. Quando pensavam voltar à vida normal de shows, a mãe do integrante Mário Sérgio virou-se e quis saber: "E aí meu filho? Quando é que vocês vão passar na novela?" Era o primeiro sintoma do efeito Sobradinho antes mesmo das cenas irem ao ar. A mesma pergunta viria de jornalistas, fãs, amigos e, por outras várias vezes, da mesma mãe de Mário Sérgio. "Não sei, não sei quando vão mostrar estas imagens. O comentário disso está geral. É só começar a novela que minha mãe pensa que vamos aparecer", afirma. São Paulo vira um ?Sobradão? neste raro final de semana, que terá shows de samba para agradar a todas as vertentes. Veja onde eles vão tocar: ZECA PAGODINHO: Hoje e amanhã, às 22h. Credicard Hall (Av. das Nações Unidas, 17.955. Tel. 6846-6010). R$ 50 a R$ 100 MARTINHO DA VILA: Amanhã, às 22h. Tom Brasil - Nações Unidas (Rua Bragança Paulista, 1.281. Tel.: 2163-2100). R$ 20 a R$ 60 GRUPO REVELAÇÃO: Hoje, às 22h. Carioca Club (R. Cardeal Arcoverde, 2.899. Tel.: 3813-8598). R$ 30 LUIZ CARLOS DA VILA: Hoje, às 20h. Sesc Itaquera (Av. Fernando do Espírito Santo Alves Matos, 1.000. Tel.: 6523-9200). R$ 6 MOACYR LUZ: Hoje, às 21h. Projeto ?O Traço do Samba?. Traço de União (Rua Cláudio Soares, 73. Tel.: 3031-8065). R$ 20 SAMBA: Casa noturna da Rua Fidalga, 308, Vila Madalena. Tel.: 3819-4619. Couvert artístico: R$ 5 a R$ 8

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