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São Paulo endurece, o show biz faz as malas

Falta na cidade o que se vê em qualquer metrópole no mundo: os shows de arena, parte de um esforço de democratização da música popular

Por Agencia Estado
Atualização:

A Prefeitura de São Paulo nunca esteve tão distante dos interesses dos jovens. Em 2005, fechou as portas do Pacaembu para os shows de arena, dizendo atender aos reclames da vizinhança do estádio. Agindo assim, empurrou os espetáculos para o estacionamento do Anhembi, um dos mais inadequados espaços de shows da cidade, que já estrangulou concertos de bandas bacanas como Arcade Fire e Strokes. Não existe um equivalente do Pacaembu em termos de conforto, localização, facilidade de acesso, segurança e até beleza. Dizia a administração municipal, na época, que ofereceria uma alternativa ao Pacaembu, provavelmente no espaço onde hoje é o Campo de Marte. Até agora, nada avançou. Qualquer metrópole no mundo tem shows de arena, é parte de um esforço de democratização da música popular: os shows ficam mais baratos, mais gente vê (e não só os eleitos de sempre). Os garotos economizam às vezes um ano para ver seu grupo favorito, um momento em que, por meio da música, as diferenças sociais parecem mais distantes. É notória a vocação de São Paulo para o show biz. É hoje o maior mercado da música na América Latina, ao lado da Cidade do México. Mas o asfixiamento da atividade também é visível na nova ordem: locais alternativos, e privados, como o Jockey Club, por ignorância, fecham suas portas para a juventude. E o resultado já é possível de se observar. O maior show de arena desse segundo semestre, o do cantor inglês Robbie Williams, vai acontecer no Estádio do Flamengo, no Rio. O empresário Luiz Oscar Niemeyer negocia a megabanda The Who para janeiro, e é provável que eles façam show somente no Rio. O TIM Festival, maior mostra de música internacional do País, está fugindo de São Paulo, levando o grosso de sua programação para a Marina da Glória, também no Rio. Colaboram para isso os ?esforços? entre o poder público e a ?ousadia? da iniciativa privada. Se se juntassem, em vez de duelar como os novos moralistas do século, só ajudariam os jovens. Proibir é fácil, difícil é realizar. A juventude é incômoda? Então vamos engaiolá-los, tirá-los de circulação, é mais cômodo. Longe de mim querer questionar a competência e a necessidade de a Prefeitura fiscalizar os espaços de espetáculos em São Paulo. Mas não seria também uma atribuição do poder público facilitar a oferta de lazer e entretenimento para os jovens, em vez de simplesmente proibir continuamente? Não seria interessante reunir os empresários do setor e alertar para os problemas, em vez de agir com fúria policialesca? Há diversos equívocos nessa política. O secretário Andréa Matarazzo diz que é preciso evitar uma repetição do que ocorreu no show do grupo mexicano RBD, em 2005, no estacionamento de um supermercado, quando houve uma aglomeração histérica de fãs, com três mortes e 40 feridos. Aquilo foi uma tragédia, causada por um principal motivo: a organização subestimou a quantidade de fãs que acorreriam ao local. Não é o que acontece num evento do porte do Motomix: não costuma haver superlotação e, se houver, é facilmente detectável e os organizadores passíveis de punição. Enquanto isso, nossa administração continua vigilante, às vezes confundindo as coisas: sua obsessão em punir o MuBE (Museu Brasileiro de Escultura) deve-se ao confronto da diretora do museu, Marilisa Rathsam, com a direção das administrações regionais. É correto dizer que o MuBE tem uma programação questionável, de gosto duvidoso, mais ligada a interesses mercantis. Mas outros museus, considerados de ?bom gosto?, também incorrem nesses erros. Quem vai julgá-los? A prefeitura de São Paulo, agora investida das funções de crítica de arte?

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