
30 de março de 2020 | 12h06
O cantor e compositor Riachão morreu nesta segunda, 30, aos 98 anos. Ícone do samba da Bahia, o sambista morreu durante a madrugada enquando dormia em sua casa, no bairro do Garcia, em Salvador.
Riachão faz música popular com alegria
Clementino Rodrigues, nome de batismo, estava ao lado de compositores do samba como Batatinha, Ederaldo Gentil e Nelson Rufino. Riachão é autor de Cada Macaco no Seu Galho, regravada por Gilberto Gil e Vá Morar com o Diabo, na voz de Cássia Eller.
Nascido em Salvador, os pais de Riachão saíram de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo, para a capital baiana. Nos anos 40, já conhecido nas rodas de samba e da malandragem, estreou na Rádio Sociedade da Bahia. Ganhou o título de "cronista musical da cidade". Sua linhagem é a nobre dos grandes sambistas.
Mas não saiu da Bahia - e o sucesso foi menos nacional do que local.Em 1972, Caetano Veloso e Gilberto Gil gravaram um samba dele - Cada Macaco no Seu Galho. Estavam voltando do exílio londrino e o samba ganhou sentido político, embora a intenção do autor fosse prosaica: Riachão era sócio de um pequeno negócio, que lhe rendia algum dinheiro e começou a não dar certo.
Mandou o sócio passear: "Cada macaco no seu galho", disse-lhe. É o que conta no programa. Conta, ainda, que, um dia, leu, numa revista, uma frase que considerou insultante: "Se o Rio não escrever, a Bahia não canta." Tomado de brios, largou o ofício de alfaitate e resolveu ser o cantor da Bahia.
Além do samba - Embora seu nome esteja sempre associado ao samba, Riachão compõe também marchas, modas, toadas. No programa, canta uma toada, Linda Morena, a duas vozes com o velho companheiro Sabiá. E canta um samba novo com o jovem parceiro Paquito, co-produtor (com J. Velloso) de seu CD Humanenochum, lançado como brinde e com lançamento comercial ainda não programado.
Elegante, à sua maneira, de gorro e sapatos brancos, paletó xadrez e toalha em volta do pescoço, Riachão é bem falante, orgulhoso de sua terra e sua música. Ainda hoje, pontifica no famoso Mercado Modelo, no centro velho de Salvador, e encarna a estirpe do bom malandro - bom de música e de copo, rei da madrugada - que as grandes cidades não sabem mais abrigar.
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