PUBLICIDADE

Samba-rock amplia público e ganha novos espaços

O ritmo que nasceu dos bailes improvisados dos anos 50 ensaia retorno triunfal aos salões de dança e às gravadoras, de olho no grande público

Por Agencia Estado
Atualização:

Quase tudo começou com a fabulosa Orquestra Invisível Let´s Dance. Era lá pelo ano de 1955 quando o eletricista Oswaldo Pereira cismou de fazer bailes na zona norte de São Paulo sem conjuntos musicais. Montou uma geringonça elétrica com uma pick-up e caixas acústicas poderosas, jogou discos de Glen Miller e Chubby Checker no prato da vitrola e fez os vizinhos entrarem na dança. O que aconteceria nas próximas décadas não estava nos planos de "seu" Oswaldo. Os bailes de sua Orquestra Invisível ajudaram a desenhar um conceito de festa na qual - ao contrário dos glamourosos agitos da alta sociedade - ninguém precisava pagar caro para entrar. É neste meio alternativo que, em fins dos anos 60, começa-se ouvir falar em samba-rock. A dança, de rodopios inspirados no twist americano, e a música, um samba com levada ao violão linear e mais suingada que o normal, são remexidos na mesma panela. Não demora nada para virem ao mundo Jorge Benjor, Trio Mocotó, Bebeto, Marku Ribas, Luis Vagner. A história toda, iniciada pelo visionário "seu" Oswaldo, tem mais de 40 anos. Mas o fato, ainda sem uma explicação lógica, é que o tal samba-rock voltou a São Paulo como sensação dos novos tempos. As gravadoras não param de revirar seus arquivos e começam a contratar gente nova. As casas de baile, que até o ano passado embriagavam suas pistas com o funk e o soul dos anos 70, inserem noites de samba-rock nas programações. Os velhos concursos de dança, sumidos do mapa há décadas, também iniciam seu retorno. Mesmo os japoneses, que nunca aprenderam a sambar, já colocam o pé no samba-rock. A revista Latinaé, considerada a mais importante publicação de música latina no Japão, saiu com considerações entusiasmadas sobre o ritmo que, segundo diz, está "pegando fogo" no Brasil. O autor da reportagem, um disc-jóquei oriental de música brasileira, escreveu que os grupos Clube do Balanço e Trio Mocotó e os cantores Paula Lima e Seu Jorge lançaram recentemente os discos que ele mais coloca para tocar. "O Clube do Balanço é uma tentativa de somar todas as obras de samba-rock, samba-soul e outras do passado no ponto de vista de agora." Público novo - Os grandes bailes "de nostalgia" nos clubes também marcam datas para retornarem com suas melodias. A sede do Palmeiras, o Parque Antártica, fará em seu salão a reestréia de suas festas tradicionais no dia 10, com apresentação de Paula Lima. Equipes de som velhas de guerra, como Musicália, Os Carlos, Musicaliando e Mistura Fina, que anunciam suas festas mensalmente e em endereços diversificados, são cada vez mais procuradas por um público novo. Outra estréia no ramo é da Black Gold Night, casa que, a partir das 20 h de hoje, com um show do guitarrista Claudio Zoli, passa a pescar também os notívagos adeptos das sonoridades negras. Com capacidade para 600 pessoas, terá programação mais voltada ao soul e ao funk nacional. A gravadora Regata Música, do compositor Bernardo Vilhena, pegou o bonde primeiro e, com a produção de um concurso de samba-rock, tem reativado um velho circuito. As primeiras eliminatórias foram realizadas nos dias 21, no Consulado da Cerveja, e 27, no Green Express. As próximas serão segunda-feira, no Consulado da Cerveja, e dia 9, no Green Express. A final será no Blen Blen, pioneiro em levar o ritmo da periferia para redutos da classe média. Um dos especialistas no negócio, com 25 anos de baile black, sobrinho de segundo grau do velho "seu" Oswaldo, é Grandmaster Ney, atual gerente de Divulgação da Regata. "Os baileiros sempre estiveram aí, mas em um circuito mais alternativo. Agora, por alguma razão, o samba-rock está sendo pulverizado no mercado." As gravadoras agradecem. A Abril lançou, há dois meses, o primeiro álbum do grupo Farufyno, que chega na esperança de soprar ares novos a velhos clássicos. Até agora, nada de relevante aconteceu com eles. A Universal, com um trabalho de arqueólogo do titã Charles Gavin, foi mais séria. Reuniu 14 títulos seminais do soul e do samba-rock. Assim, chegaram pela primeira vez em CD álbuns como África Brasil e Samba Esquema Novo, ambos de quando Jorge era só do Ben e tocava violão em vez de guitarra.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.