Sai o CD de despedida de Joey Ramone

O disco póstumo Don´t Worry about Me preserva uma imagem romântica e melancólica do pioneiro do punk rock

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Por Agencia Estado
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Um punk romântico, de bom coração e que se apaixonava por musas de telejornal, daquelas que lêem números e cotações da Bolsa de Valores. Essa é a imagem que escapa da última viagem musical de Joey Ramone, o ex-frontman do grupo americano Ramones, morto de câncer há cerca de um ano. Trata-se do álbum póstumo Don´t Worry about Me" (Zomba Records), que chega esta semana às lojas. Joey Ramone foi a imagem e a ideologia do mais importante grupo da gênese do punk. Tanto é verdade que, na contracapa interna do CD, está presente o logotipo da banda, a águia estilizada - só que, agora, somente com o nome de Joey. Com a morte de Joey - e, na semana passada, do ex-baixista da banda, Dee Dee Ramone -, a banda se esfarelou definitivamente, mas não seu legado. Produzido pelo ex-parceiro dos Ramones Daniel Rey, o disco de Joey mistura duas facetas do som dos Ramones. A primeira é o flerte com o pop, em faixas como a versão de What a Wonderful World, a balada histórica que foi sucesso na voz de Louis Armstrong. A segunda é o peso estonteante e de dura fricção da banda que influenciou como poucas o rock mundial. Joey Ramone morreu no domingo de Páscoa, em abril do ano passado, e deixou esse disco gravado. São 11 faixas e 35 minutos, com alguns convidados, como a cantora inglesa Helen Love e Captain Sensible, do The Damned, além de Andy Shernoff (baixista dos Dictators), Frank Funaro (baterista dos Del-Lords) e Marky Ramone, o velho parceiro, também na bateria. Os vocais estão tomados de uma melancolia premonitória. Na faixa I Got Knocked Down (But I´ll Get Up), Joey faz seu manifesto de uma dor pessoal, abordando a questão do câncer. "Eu quero vida, eu quero minha vida", brada o punk crepuscular. Ele também fala de temas mais alheios à temática punk, indagando coisas como ?What´s happening with Nasdaq?" e "What´s happening with Yahoo?" (na faixa Maria Bartiromo). Ouvi-lo no rádio, cantando a balada celebrizada por Armstrong e Sam Cooke, What a Wonderful World, soa triste, como uma espécie de epitáfio sonoro. Lembra Sid Vicious cantando My Way, mas sem a ironia deste último. Joey Ramone, nascido Jeffrey Hyman em 19 de maio de 1951, morreu de câncer linfático, aos 49 anos. Ele não sabia tocar nada muito bem quando o grupo começou, em meados dos anos 70, fazendo shows no CBGB. Hoje, ele vai virar nome de uma esquina em Nova York, nas imediações do clube que ajudou a tornar mítico. Em 22 anos, os Ramones lançaram 13 discos até a separação definitiva, em 1996. No livro Mate-me, por Favor, de Legs McNeil e Gillian McCain, Joey Ramone revelou que gastou US$ 6,4 mil para fazer o primeiro disco dos Ramones, em 1974, num tempo em que o Fleetwood Mac gastava meio milhão de dólares para gravar. Os Ramones perambulavam por hotéis pulguentos e Dee Dee contou que tinha o hábito de abrir a torneira da pia do banheiro e ficar debaixo dela fingindo que aquilo era uma cachoeira "para esquecer onde estava". Com sua jaqueta mulambenta e o jeans muito justo e muito rasgado nas pernas finas, o grandalhão desajeitado Joey Ramone tornou-se a imagem mais definitiva do punk rock americano. Nova-iorquino do Queens, ele manteve durante sua vida estrita fidelidade aos princípios de um rock antiglamuroso, simples e com grande força de palco. Joey ajudou a criar os Ramones em 1974 com os amigos John Cummings e Douglas Colvin, o Dee Dee Ramone, encontrado morto na semana passada em sua casa em Los Angeles. Seu corpo foi cremado terça-feira em Hollywood pelos Ramones sobreviventes - Johnny, Tommy e CJ _ no mesmo cemitério onde estão os restos de Jayne Mansfield, Rodolfo Valentino e Peter Lorre. Serviço - Don´t Worry about Me. CD de Joey Ramone. Preço médio do CD: R$ 29,00. Já à venda nas redes de venda de discos

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