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Royal Blood balança os alicerces com recados diretos

Duo inglês acaba de lançar disco de estreia no Brasil

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Vocês têm uma banda nova, de apenas um ano, e Jimmy Page pede para ir ao camarim cumprimentar vocês depois de um show. Os Arctic Monkeys e os Pixies ligam para pedir para vocês abrirem shows deles. Vocês são indicados para o maior prêmio da música britânica? Delirium tremens? Nada disso: isso tudo aconteceu com o duo inglês Royal Blood (formado por Mike Kerr, baixo, e Ben Tatcher, bateria), que acaba de ter lançado no Brasil o seu disco de estreia (lançamento Warner). 

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“O melhor guitarrista da temporada é um baixista”, foi a grande exclamação da temporada. O Royal Blood é um power duo, como o White Stripes, o Death from Above 1979, o Blood Red Shoes ou o Black Keys. Também flerta com o blues, com a sujeira do blues rock inglês dos anos 70. Mike toca apenas um baixo barato Gretsch de fabricação chinesa, mas usa alguns pequenos truques eletrônicos para fazê-lo soar como guitarra (2 amplificadores GVT para guitarra e um SVT para baixo, além de um pedal compressor e um equalizador). A mágica é que ele toca os dois ao mesmo tempo durante um show.

O primeiro sinal do hype começou quando o baterista dos Arctic Monkeys, Matt Helders, foi visto vestindo uma camiseta da banda durante o concerto do seu grupo no festival de Glastonbury. A imprensa especializada rasgou o verbo, incluindo NME, Clash, DIY e outros, e eles entraram na lista de bandas mais votadas do BBC Sound of 2014. Um ouvinte desconfiado escreveu sobre o baixista, em um fórum de debates: “Eu tava convencido que tudo foi feito com overdubs no estúdio, mas ele soa exatamente igual ao vivo. Duca!”.

Dupla. "Sempre quisemos soar como se fôssemos um quarteto" Foto: Divulgação

Kerr não revela qual é o maior segredo, sua tábua de pedais. Surpreendentemente, Kerr diz que não tem o hábito de ouvir White Stripes ou Black Keys (cuja dialética é centrada em guitarra e bateria). “Sempre quisemos soar como se fôssemos um quarteto com só duas pessoas. A maior parte dos duos querem explorar minimalismo e espaço, enquanto a gente é o oposto: queremos soar forte e preencher tudo. Gosto da ideia de tocar tão alto quanto possível”, afirmou Kerr.

A Warner Music lançou seu álbum de estreia, Royal Blood, que contém 10 faixas de bom barulho, impulsionadas pelo falsete ultra-Jack White de Kerr e pela bateria poderosa de Tatcher (que foi comparado a um jovem Dave Grohl). As letras são de uma simplicidade pueril, não possuem o artesanato dos seus rivais, mas têm grande eloquência pelos recados diretos e crus. Destaque para o primeiro singles, Out of the Black, e por blues como Blood Hands e Better Strangers. Mike Kerr, o baixista que balançou os alicerces da grande irmandade da guitarra, falou ao Estado por telefone na semana passada.

O que há de bom e o que há de ruim em ganhar tanta fama em tão pouco tempo?

Primeiro, acho que estar em maior ou menor evidência é resultado do julgamento das pessoas, é só uma opinião, mas não é o principal. Antes mesmo de as pessoas saberem sobre a gente, nós já fazíamos nossa música. Honestamente, iríamos continuar a fazê-la com ou sem todo esse reconhecimento.

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Você é pianista de formação. Como chegou a adotar o baixo?

Sim, eu tocava piano. Mas sempre houve uma guitarra em casa e eu tocava um pouquinho. Sempre toquei. Também experimentei os teclados, mas aí decidi que o som que queria mesmo estava no baixo. Só precisava mexer numas coisinhas.

Vocês foram visitados pelo Jimmy Page no camarim e os Pixies chamaram vocês para abrirem shows deles, como foi isso?

O Jimmy veio ao nosso show, e a gente, sabendo que ele estava lá, o convidou para ir ao camarim. Ele aceitou. Foi uma grande honra receber alguém que é tão respeitado quanto ele, que criou uma música tão especial. Já os Pixies foi uma coisa muito inspiradora tomar parte na turnê deles. O que posso dizer é que eles sempre foram importantes para mim, especialmente nos anos 1990. Era algo que eu ouvia sempre.

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Por enquanto, vocês só têm um disco. Não é complicado tocar em grandes estádios com repertório tão pequeno?

Não queremos nos tornar reféns dos grandes estádios. Além do mais, é bom tocar aquilo que é nosso, que tivemos tanto apuro em fazer. Usamos as armas que temos, não as dos outros. Nesse momento, estamos compondo novas canções, sabemos que isso é importante para o público dos grandes festivais, que querem nos ver por um tempo mais amplo. Mas não temos pressa. Adoraria ir ao Brasil, estamos falando com a companhia de discos nesse momento para ver a possibilidade. Aqui no Reino Unido, tenho alguns amigos brasileiros, músicos, e privamos de experiências musicais juntos, mas não conheço muito da música do seu país e quero conhecer.

E nesse próximo trabalho para o qual estão compondo músicas, qual você acha que será a direção que tomarão?

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Sinto que a direção vai permanecer a mesma. Nós desenvolvemos nosso estilo e ele nos representa. Não acho que seja preciso tomar uma nova direção, importante é que a música seja a representação do que o artista pensa e acredita.

Muitos críticos comparam vocês a outras 2 duplas, Black Keys e White Stripes. Você se sente conectado a alguma delas?

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Sempre fui grande fã de Jack White, um músico prolífico, sempre buscando novas aventuras musicais, nunca se deixando estagnar no chamado estrelato. O jogo dele está sempre mudando.

Vocês disputaram o Mercury Prize, um prêmio da indústria musical. Estão preparados para fazer parte desse mundo?

Nós perdemos o prêmio, mas foi interessante participar daquilo, tivemos um palco enorme e uma grande equipe técnica trabalhando para a gente, isso não é ruim. Não é que a gente vá se tornar parte disso, mas há algum valor na indústria. O que acho é que a música nunca pode ser uma competição. Isso não importa. O Led Zeppelin, por exemplo, nunca foi número um nas paradas britânicas, e, no entanto, é uma das grandes influências da música em todo o mundo.

Por falar nisso, sua música Figure It Out tem muito a ver com Led Zeppelin, não?

Sim, eu acho que sim. Eles são muito influentes no que fazemos, mas não só o Led Zepellin.

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Como vocalista, quais são seus ídolos?

Tem alguns. Jeff Buckley, por exemplo. E Jimi Hendrix, que não cantava de um jeito comum, era muito complementar a seu jeito de tocar. Gosto do palco, gosto de estar na estrada. A estrada é a casa, e nunca é a mesma casa.

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