Rouge: crônica de um sucesso anunciado

O êxito das cinco egressas do Popstar foi meticulosamente traçado por executivos das gravadoras, que agora colhem os frutos: 500 mil cópias em três meses

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Por Agencia Estado
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O fracasso estava no ar. Um bando de meninas saídas de um programa tipo reality show não iria longe. Não duraria mais do que a exposição de Mariana Kupfer pós-Casa dos Artistas, não venderia mais de 100 mil discos, soaria falso. Sem saber cantar, seria a chacota do ano, tentativa frustrada de vir a se tornar uma versão verde-amarela das Spice Girls. As profecias levaram um nó. Rouge, nome de um quinteto fabricado em parceria entre o SBT e a gravadora Sony Music, veio como um trator e se tornou fenômeno de marketing, de cifras e de popularidade. Em três meses saíram das lojas exatos 533 mil discos e suas músicas são as mais executadas nas rádios. Em seu primeiro show, na tarde de uma quarta-feira em um shopping de Campinas, havia 10 mil pessoas. "É o grande acontecimento da música pop brasileira", deu a revista americana Billboard, ao falar das meninas saídas do programa Popstar. Nada em sua história é por acaso. A glória das meninas foi arquitetada passo a passo nos escritórios da Sony Music por Alexandre Schiavo, vice-presidente de Marketing da companhia. Quando as meninas ainda estavam sendo selecionadas entre 30 mil inscritas para o programa Popstar, do SBT, Schiavo pensava em como fazer decolar um conjunto que nem existia. Havia uma disputa entre todas as grandes gravadoras para saber qual ficaria com o projeto. A Sony Music foi a última a ser avisada. Em 24 horas, Schiavo fez seu plano de marketing, uma revista ilustrada que contava minuciosamente que caminho seria seguido, e o mandou à diretora da produtora RGB, responsável pela idéia. Sua regras: as garotas teriam de cantar, de verdade. "E sem técnicas de laboratório", fala. Beleza seria importante, não fundamental. "Não tem nenhuma modelo ali. Elas saíram como se fossem mesmo a vizinha que está dando certo." Saber dançar e ter facilidade para trabalhar em grupo - característica testada por uma psicóloga - foram pesos decisivos. O Rouge contraria os defensores da idéia de que o tamanho do sucesso seja igual à quantidade de suor despejado. Ainda que não haja artista de show biz sem estratégias de marketing por trás, as meninas representam o êxito de uma produção decidida a portas fechadas. Em seus históricos ainda não há uma linha que justifique um estouro internacional. Patrícia Lissa, filha de médico e de uma cantora de músicas folclóricas japonesas, freqüentou aulas de japonês e participou de festivais na adolescência. Luciana Andrade, mineira, cantava nas igrejas e em uma banda de pop rock. Karin Pereira era fã de Rosana, a de Como uma Deusa, e de Whitney Houston. Fantine Thó fazia apresentações no Hopi Hari. E Aline da Silva só conhecia músicas gospel até entrar no grupo. A operação de guerra para lapidá-las ganhou os aliados-produtores Liminha e Rick Bonadio. Liminha foi a uma reunião com representantes da Sony de todo o mundo e comentou que precisava de repertório para um grupo que iria lançar no Brasil. Recebeu da Espanha uma tal Asereje, cantada por um grupo chamado Las Ketchup. Bonadio fez uma versão e a transformou em Ragatanga, hit chave que diz palavras sem nexo adotadas pelas crianças. "O segredo de uma boa versão é ter fidelidade à original, não tentar inventar", ministra Bonadio. "O Rouge não foi a descoberta da gravadora Sony, foi uma descoberta para o mercado fonográfico", falou ao JT em tom de festa, em férias em uma praia do Ceará. Um jogo vencido mais por produtores do que por talentos individuais é explicado por Schiavo como sinais dos tempos. "Quando comecei havia um tabu de que artista não poderia falar em vendas. Hoje ele quer saber o quanto vende, para onde seu disco vai, qual será o investimento da gravadora para fazê-lo tocar em rádio e tevê. Mas só marketing não adianta." Os resultados são coletados aos montes. O disco Rouge, depois da Argentina, será lançado no Peru e no Chile. Dezenas de empresas estão em seus calcanhares para poder licenciar brinquedos e artigos de papelaria com a marca Rouge. E o contrato com a Sony prevê a gravação de mais três discos e um outro opcional. "Gosto de desenvolver carreiras, não entrei nessa para fazer um produto instantâneo", diz Schiavo. No vácuo, a Sony anuncia a chegada das três espanholinhas do Las Ketchup, que descansam no topo das paradas espanhola, portuguesa, francesa, inglesa e grega com a original de Ragatanga. O disco, que estará nas lojas esta semana, se chama Hijas del Tomate - ao pé da letra, "Filhas do Tomate". É o poderio do departamento de marketing das companhias fazendo história.

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