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Rosa Passos homenageia Tom e Elis, com bossa e humor

Cantora evita abusar do scat singing e também tem seu lado pop bem resolvido

Por Agencia Estado
Atualização:

O apelido de João Gilberto de saias pegou com mais sentido em Rosa Passos do que na Gal Costa do início de carreira. A voz e o violão interligados pela significância própria, a sutileza da interpretação, a técnica apurada - esses elementos combinados identificam o estilo desses preciosistas procedentes da bossa baiana. Engana-se, porém, quem supõe que a delicadeza de Rosa Passos se resuma à "voz pequena". Quem não viu vá ver sua estatura crescer nos shows que continuam no Teatro Fecap. Nesta semana em que Tom Jobim (1927-1994) faria 80 anos, Rosa faz um tributo a ele no meio do roteiro. Na semana passada também fez, mas a homenageada principal era Elis Regina (1945-1982). Há muito tempo o repertório de ambos está na pauta de Rosa; afinal uma como cantora e o outro como compositor são seus modelos. Quando é uma canção de Tom que Elis cantou, então, a liga é de qualidades insuperáveis. Pois Rosa fez de Águas de Março e Fotografia sublimes cortesias a suas fontes de inspiração, João Gilberto incluído. Na sexta-feira, dia do aniversário da morte de Elis, visivelmente emocionada, Rosa intensificou seu canto por um punhado de canções amorosas, como Por Causa de Você (Tom e Dolores Duran), com brilhante solo de piano de Fábio Torres, a bossa cool de Você Vai Ver (Tom) e Preciso Aprender a Ser Só (Marcos e Paulo Sérgio Valle), o bolero Dois pra lá, Dois pra cá (João Bosco/Aldir Blanc). Apesar de ter começado o show com o suingue arrasador de Ladeira da Preguiça (Gilberto Gil), houve grande concentração de temas lentos em dois blocos pedindo atenção e silêncio. A platéia manteve-se reverente, propiciando apreciar detalhes de interpretação que Rosa se esmera em cultivar. O controle da respiração, o domínio da dinâmica e do ritmo da canção, desenhando-se por vezes de forma lenta e progressiva, se reproduz na interação com o sentido das palavras que pronuncia. Quem ouve sente o "tor-tu-ran-te" band-aid no calcanhar. O humor que imprime em Só Danço Samba (Tom) revela outra notável aptidão. Com esse modo de proceder, Rosa incita o saber ouvir. É conseqüente que tenha em sua companhia, e para dividir os méritos pelo conjunto de arranjos, músicos como Fábio Torres e o baixista Paulo Paolelli (seu "filhote"). Como eles, Celso Almeida (bateria) e Vinícius Dorin (sax) também dão seus shows à parte, mas os saxofones de Dorin, especialmente o soprano, se excedem, próximos da pasteurização. Rosa evita abusar do scat singing e também tem seu lado pop bem resolvido. É quando por exemplo, interpreta A Ilha e Samurai, ambas de Djavan, e até Só Deus É Quem Sabe (Guilherme Arantes), num arranjo mais vivo que o registrado por Elis. No bis, ela volta a homenagear Elis em dois de seus números mais esperados: a balada Altos e Baixos (Sueli Costa) e o samba avassalador Bala com Bala (João Bosco), ambos com letra de Aldir Blanc. Infelizmente, mais uma vez os exageros de Dorin, destoando do estilo da cantora, soam como um bode na missa. Rosa Passos. Teatro Fecap. Av. Liberdade, 532, (11) 3272-2277. De 5.ª a sáb. às 21 h., dom. às 19 h. R$ 5 e R$ 10 (5.ª), R$ 20 e R$ 40 (6.ª a dom.). Até 28/1

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