Roger Waters encerra turnê no Brasil com show memorável

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Por Agencia Estado
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Roger Waters encerrou na madrugada deste sábado sua quarta e última apresentação no Brasil da turnê de In The Flesh. A exemplo da primeiro noite em São Paulo, ontem, e das vezes no Rio e em Porto Alegre, o ex-líder e principal compositor do Pink Floyd ofereceu às cerca de 25 mil pessoas presentes um show memorável que, devido às fortes chuvas que caíram na cidade no final da tarde, quase não pode ser realizado. As águas e os ventos derrubaram a torre que sustentava os canhões de luz, localizada no centro do estádio. A abertura dos portões e o início da apresentação tiveram que ser atrasados para que a equipe técnica da banda conseguisse contornar o problema. Com isso, Roger Waters e banda não conseguiram fazer a passagem de som. No entanto, o som desta noite estava mais potente, fato que, ontem, foi o único motivo das tímidas reclamações do público. Repertório - No set list do segundo show em São Paulo, nenhuma surpresa. In The Flesh, The Days of Our Lives, Another Brick in The Wall e Mother, todas do antológico The Wall, de 1979, abriram o espetáculo, pouco depois das 22h00. Na seqüência, duas faixas de The Final Cut, de 1983, último disco de Waters gravado sob a marca Floyd. Seguem duas músicas de Animals, de 1977, que provaram a composição surround do projeto de som, com seus quatro PAs espalhados pelo estádio, além de um convencional no palco, mais 108 caixas. Em conjunto, o sistema permite espalhar os latidos, rugidos, vozes distantes, barulho de helicóptero e outros ruídos por diversos pontos da platéia. A boa distribuição do equipamento estende a mesma sensação ao público das arquibancadas, embora neste caso o volume de som já não seja o mesmo. Para encerrar a primeira parte do show, Waters enfileirou quatro pérolas de Wish You Were Here, de 1975. Começou com Shine on You Crazy Diamond, homenageando Syd Barrett, o primeiro gênio da banda, cuja imagem é reproduzida no imenso telão central e nos dois laterais. Depois, Welcome to the Machine, a balada Wish You Were Here e a segunda parte de Shine on You Crazy Diamon. Extasiada, a platéia aproveita um intervalo de 20 minutos. Segundo tempo - Waters volta ao palco com a única canção da fase anos 60 da banda que integra a turnê: Set the Controls for the Heart of the Sun, de Saucerful of Secrets, o segundo álbum do Floyd, de 1968. É a oportunidade de confrontar o experimentalismo original da banda, sob maior influência da força criadora de Barrett, com a fase anos 70 do Floyd, já sob a liderança absoluta de Waters, e com Gilmour na guitarra. A ausência de Gilmour, hoje um desafeto de Waters, é o maior fantasma do show. Embora sua banda seja bastante competente, e os três guitarristas (Andy Fairweather-Low, Snowy White e Chester Kamen) muito calejados, o timbre de Gilmour não chega a ser alcançado. Lembrando à platéia que o show é sim, como sustentam os cartazes promocionais, do gênio do Pink Floyd. Mas de um só gênio. Depois de Set the Controls, Waters revisita o mítico The Dark Side of the Moon, de 1973, o famoso álbum do prisma. Com Breathe, Time e Money. É mais um dos grandes momentos do show. A platéia - uma mistura heterogênea que vai de adolescentes imberbes a cinqüentões saudosos - canta, grita, chora, acende seus isqueiros. E tem certeza de ter sua mais alta expectativa atendida. Dando um breve descanso à era Pink Floyd, o show prossegue com alguns momentos da fase solo de Roger Waters. Depois de 1983, quando largou a banda, Waters tentou guardar para si a marca Pink Floyd. Mas a briga com seus ex-colegas Gilmour, Nick Mason e Rick Wright foi parar na Justiça e ele perdeu. Mesmo sem a marca, porém, Waters conseguiu manter uma sonoridade muito mais próxima da história do Pink Floyd que os atuais integrantes da banda. Sua carreira solo é freqüentemente acusada de irregular ou menor. Mas há grandes momentos também. E Waters os incluiu em In the Flesh, uma boa surpresa para as platéias no mundo todo, que chegam ao show sedenta de hits, mas que acabam prestigiando composições também sofisticadas, competentes, embora sem o mesmo misticismo. De seu primeiro álbum solo, The Pros and Cons of Hitchhiking, Waters selecionou 5.06 AM ? Every Strange Eyes. De Amused to Death, de 1992, ele trouxe as duas partes de Perfect Sense, Bravery, It´s a Miracle e a faixa-título. De volta aos velhos tempos de Floyd, já perto do encerramento do espetáculo, Waters ataca de Brain Damage, Eclipse e a clássica Comfortably Numb. Mais um momento alto do show, provando que esta turnê é mesmo bastante generosa com os novos e antigos fãs da banda inglesa. Para finalizar, depois de três horas de espetáculo, uma recente composição de Waters, Each Small Candle, feita em homenagem à Anistia Internacional para a turnê de In the Flesh, rebatizada na África do Sul como Flickering Flame. Alguns tímidos "obrigado", e o adeus sem cerimônia de Waters. Para quem se entusiasmou pelas composições de sua carreira solo, resta esperar por seu novo álbum, ainda sem título. Depois de passar a maior parte da década de 90 sumido, ele grava agora seu primeiro álbum de estúdio em oito anos, desta vez sobre um sobrevivente das atrocidades nos Balcãs que vira motorista de táxi em Nova York. Mais um disco sombrio e conceitual para sua extensa galeria. Turnê - De São Paulo, o baixista segue para Venezuela e México, depois passeia pela Ásia, Oceania e Europa. Ao todo, In The Flesh prevê 52 apresentações em 33 países, ao longo de quatro meses. Roger Waters e banda levaram cerca de 110 mil pessoas aos estádios por onde passaram no Brasil. Em Porto Alegre, 24 mil, Rio de Janeiro, 35 mil, e São Paulo, 26 mil na primeira noite e 25 na segunda. E deu sobrevida, para contemporâneos, jovens e adolescentes, à fama mítica do grupo que ajudou a fundar o rock progressivo.

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