Rock in Rio: Ray Lema sintetiza Tenda Raízes

Instrumentista é convidado especial da abertura do festival, no dia 12 de janeiro, quando mostrará a ópera Le Rêve de la Gazelle, que teve uma única apresentação mundial até agora

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Por Agencia Estado
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Durante a apresentação para convidados no bar Rock in Rio Café, ontem, o maestro, compositor e instrumentista Ray Lema, do Zaire, sintetizou a proposta da Tenda Raízes, o mais sofisticado dos vários palcos de música que a versão 2001 do Rock in Rio apresentará ao público. Lema é o convidado especial da abertura do festival, no dia 12 de janeiro, quando mostrará a ópera Le Rêve de la Gazelle (O Sonho da Gazela), que estreou em 1998, na Suíça e teve uma única apresentação mundial até agora, com a Orchestre de Saint-Sundswall. Ele deve ser acompanhado por seu sexteto e uma orquestra sinfônica de 120 integrantes, formada especialmente para a ocasião. O tema da peça, que tem 40 minutos é a caça. Nela, ele faz reflexões sobre os motivos que levam o homem a matar animais. A produção de Lema está longe de ser discursiva, mas reflete o seu engajamento natural. Atualmente venerado na Europa por criar uma sonoridade calcada na música étnica e com linguagem extremamente autoral, Lema foi exilado durante a ditadura Mobuto e mora em Paris há cerca de 20 anos. O maestro já esteve no Brasil outras vezes, uma delas em 1998, na noite de abertura do 6.° Heineken Concerts. Mas para a badalação de ontem no Rock in Rio Café, Lema trouxe outro grupo, o Tyour Gnaouas, que faz música tradicional marroquina, e com o qual acabou de produzir um disco. Depois de tocar a primeira composição, o maestro definiu: "Eles fazem uma música mental, física e espiritual." De fato, foi uma oportunidade única para assistir a autenticidade gestual e a sonoridade composta por timbres típicos desses marroquinos, que usam percussão e instrumentos de corda impressionantes. E é justamente essa sensação de estranhar, conhecer e depois encantar-se que deve ocorrer na Tenda Raízes. No decorrer da festa de apresentação da Tenda Raízes, Lema e o Tyour Gnaouas cantaram também Atendele, que significa "liberdade" no dialeto lingalá, do Zaire. Na entrevista coletiva, ele fez questão de ressaltar o valor que a música tradicional possui. "O Tyour Gnaouas vai tocar suas raízes e eu me aproximarei dessa tradição com sapatinhos de cristal", afirmou. "Mas para o Rock in Rio, eu pretendo trazer o meu groove pessoal." Na noite de segunda-feira, Lema havia sido recebido por Gilberto Gil - os dois se conhecem há cerca de 12 anos e admiram-se mutuamente. Por isso, o músico africano tenha preferido não fazer uma análise da música brasileira - "acabaria citando a música feita por amigos, como Gil e João Bosco". Segundo o produtor musical Toy Lima, responsável pela escolha dos convidados para a Tenda Raízes, esse espaço musical estará aberto para encontros com brasileiros. No festival, além da presença quase certa de Gil, Lema pode receber o clarinetista Paulo Moura, outro amigo. Toy Lima ressalta a proposta anticomercial da Tenda Raízes. "Busquei o mais novo e interessante na música mundial, principalmente com referências africanas e árabes", contou. "A idéia da Tenda não é a de trazer a world music manjada nem somente ícones." Para ele, os convidados têm potencial para atingir o status de Ray Lema e Paco de Lucia. Mais de 80% do elenco nunca veio ao Brasil. O produtor sabe que esse ainda é um mercado musical com que o brasileiro não tem tanta intimidade, mas garante que selecionou grupos e artistas que podem resgatar, ou descobrir, uma memória desconhecida. "Não será música puramente étnica ou folclórica", garante. Já estão confirmados 16 nomes, dos quais 5 são da África 5 da Europa (incluindo música flamenca), 1 da Ásia, 1 do Oriente Médio, 1 do Caribe e 3 do Brasil.

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