
27 de setembro de 2019 | 10h00
É injusto dizer que Iris “engoliu” o Goo Goo Dolls, a banda americana que fez a música para a trilha sonora de Cidade dos Anjos, em 1998. Porque o grupo — hoje com seus dois membros originais remanescentes, o guitarrista e vocalista John Rzeznik e o baixista Robby Takac — tem uma rica história antes e depois de Dizzy Up The Girl, o álbum daquele ano que os levou ao estrelato internacional. O Goo Goo Dolls toca no Palco Mundo do Rock in Rio 2019, no domingo, 29, como parte de sua primeira turnê pelo Brasil.
Mas é inegável dizer que a música cumpre uma função definitiva nessa trajetória. Formada em Buffalo, Nova York, em 1986, a banda consistia em um trio punk tocando com gente como Bad Religion e Motorhead e lançando discos semi-profissionais com músicas rápidas, curtas e barulhentas. O começo dos anos 90 viu um sucesso moderado, já com melhor produção e um som mais direcionado para o rock alternativo da época.
E aí Rzeznik foi contratado para escrever uma música para Cidade dos Anjos (o remake de Asas do Desejo, o filme de Win Wenders em que um anjo se apaixona por uma humana). Iris, a canção, foi o primeiro Top 10 do Goo Goo Dolls na Billboard Hot 100 e se tornou um dos maiores sucessos “crossover” da história, sendo a música mais tocada do ano em rádios de rock moderno, pop e música contemporânea.
Em uma entrevista no Allianz Parque, em São Paulo (onde a banda abriria o show do Bon Jovi na quarta, 25), Rzeznik sabe que a pergunta sobre a música vem, mas o baixista, Robby Takac, é mais bem humorado sobre o assunto. “A última vez que ouvimos a música, fora dos nossos shows, foi quando entramos no nosso hotel em Recife (o primeiro show no Brasil foi lá, no dia 22), um cara estava tocando ao vivo no bar”, disse Takac aos risos. “Passei de fininho e fui para o meu quarto”, completou Rzeznik.
É a primeira vez do Goo Goo Dolls no Brasil e o vocalista diz que ficou muito feliz com a resposta no primeiro show. “É legal que gente mais nova ainda se relacione com o nosso tipo de música”, diz o músico. “Ainda me faz sentir que talvez tenha algo relevante a dizer.” Takac concorda. “É incrível passar de uma geração a outra. Os pais compartilham com os filhos, é bonito”, diz o baixista.
Mas tudo isso, na verdade, não esteve na cabeça da banda nos últimos 12 meses, período em que eles escreveram e lançaram Miracle Pill, seu 12.º disco de estúdio, no dia 13 deste mês. O álbum é um compilado de canções que não se distanciam do som soft rock a que a banda se apegou, nem entram em vanguardismos de nenhum tipo, mas exploram um synth pop e regiões do rock que os fãs mais novos do gênero podem aproximar do Imagine Dragons.
“Todo mundo está obcecado com gratificações instantâneas”, diz Rzeznik sobre o conceito do disco — a pílula milagrosa do título. “Usei isso como uma metáfora, mas parece que estamos perdendo o contato com nossa humanidade e com as conexões com as pessoas. Eu não sei se a tecnologia fez todo mundo ficar mais próximo ou se fez todo mundo ficar mais próximo do final.”
Ele conta que se irrita quando liga para alguém e a pessoa não atende, mas logo em seguida responde uma mensagem de texto. “P…! Agora há muitas desses laços superficiais que não alimentam sua alma, não fazem do mundo um lugar melhor. Que tipo de mundo vamos deixar? Estávamos pensando nisso tudo quando fizemos o álbum.”
Musicalmente, ele explica que buscava apenas o que o faria se sentir melhor enquanto estava tocando. “Chegava ao estúdio com a guitarra, murmurando a parte das letras, e então trabalhando com colaboradores e aprimorando o trabalho, é isso que cria o crescimento e o movimento. Não estou preocupado em ser definido por um ou outro estilo.” Takac, por sua vez, conta que utilizou muitos softwares de programação para trabalhar nas melodias.
Sobre os momentos antigos, pré-Iris, o baixista compara com o sentimento com o de olhar para fotos de si mesmo tiradas muitos anos atrás. “Mas é divertido”, concede. O vocalista também diz gostar de todos os discos, mas admite que os primeiros álbuns eram quase que uma “brincadeira” para eles. “Nunca pensamos que viveríamos da música”, afirma.
O ponto de virada foi o terceiro disco, Hold Me Up (1990). “Ali começamos a aprender a ser uma banda”, diz Takac.
É a primeira vez do Goo Goo Dolls no Rock in Rio, e o baixista acredita ser uma grande oportunidade. “Não estamos acostumados a tocar para tanta gente”, conta. “Vamos tocar o mais alto que pudermos.”
Cidade do Rock. Parque Olímpico. Av. Embaixador Abelardo Bueno, 3401 - Barra da Tijuca, Rio de Janeiro - RJ.
27 a 29 de setembro e 3 a 6 de outubro de 2019.
Ingressos: R$ 525 (ainda disponíveis nos dias 28/9, 29/9, 3/10 e 5/10).
Atrações: clique aqui para o line-up completo.
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