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Roberto Carlos vem de roupa nova no Natal

Quebrando a tradição, vestiu terno azul-escuro, fez broma com letra de sua música, cantou rock acelerado e canção de motel no "Especial de Fim de Ano" da Globo      Imagens

Por Agencia Estado
Atualização:

Falou um ´quase-palavrão´ ("Tá ferrado!"), vestiu terno azul-escuro (quebrando uma tradição de mais de 20 anos), fez broma com a própria letra de sua música, cantou rock´n´roll acelerado e canção de motel. Roberto Carlos, decididamente, não é mais o mesmo. Mas é cada vez mais o Roberto multifacetado que foi pioneiro do rock, gênio do iê-iê-iê, fã da bossa de João Gilberto, adepto do funk e do soul nacional, cantor romântico picante e tudo o mais que encenou em sua vida profissional, ao longo de quase 50 anos de carreira. Todos esses Robertos Carlos estarão no "Especial de Fim de Ano" da TV Globo, que vai ao ar no dia 21, após a novela Belíssima. Roberto gravou o programa ontem à noite, no Credicard Hall, em São Paulo, para uma platéia de mais de 3 mil convidados, muitos deles sorteados em programas de rádios, além de VIPs como Regina Duarte, Wanderléa, Lu Alckmin, John Herbert, Washington Olivetto, Gabriela Duarte. Hebe Camargo, que é do SBT estava no gargarejo (será que vão mostrá-la na telinha da Globo? Tem quem duvide). Esforçando-se para mostrar que está se curando da doença psicológica conhecida como TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) o cantor encarou o desafio de trocar de roupa. Em vez do terno branco que sempre usa na gravação anual, ele desta vez envergou um azul-escuro, e ainda por cima elegante. "Sou eu mesmo. Troquei de roupa hoje", explicou, rindo, à platéia. "Ou melhor: de cor. Ou melhor: de tom", continuou. Mudou tudo, mas ninguém conseguiu tirar dele o cintão country de fivela redonda Gigante. O show é excepcional. Roberto gravou tudo sem repetir música alguma, nem papo algum com os convidados. Os músicos não erraram nada, ele não esqueceu nenhuma letra. Foi pá-pum, entrou cantando um pot-pourri com Pra Sempre e Emoções, emendou Eu te Amo, Te Amo, Te amo e foi até o fim sem paradas, culminando com a eucaristia de Jesus Cristo, com a oferenda de rosas para as fãs. O cenário era high tech, com telões ao fundo e painéis luminosos nas laterais, com imagens manipuladas por computador. Muito sofisticado, reforçava a impressão de "banho de loja" em Roberto, que se mostrou incrivelmente à vontade na noite. As histórias que ele conta, é claro, são repetidas, como a resistência a cantar Outra Vez, de Isolda, porque "nem sempre as mesmas coisas têm o mesmo sentido", mas é preciso fazer um esforço: "Eu sei que vocês gostam muito dessa canção." O entusiasmo é que parece diferente, renovado. Tocando violão, à moda joãogilbertiana, Roberto cantou Detalhes. Tocando piano, cantou Acróstico, cujas iniciais dos versos formam a frase Maria Rita, Meu Amor. Com "o carro e o coração acelerados", cantou Por Isso Corro Demais. O grupo mineiro Jota Quest desafiou Roberto a cantar com eles a sua versão lisérgica de Além do Horizonte, que o vocalista Rogério Flausino chamou de hino pela paz. "Um hino não sei. Mas a vontade pelo menos é", retrucou Roberto. "Vai encarar o rock´n´roll? Você que começou", provocou Flausino. "Vamos nessa!", devolveu o Brasa. Antes, sozinho, o Jota Quest executou seu hit Do Seu Lado (Nando Reis). "Há muito tempo, nem me lembro quando, fui ver um filme de Elvis Presley", começa a contar o ´Rei´, para justificar a admiração por uma música do outro ´Rei´ do rock, Loving You. "Pensei em gravar uma versão em português, mas decidi cantar assim mesmo, em inglês." De política, nem um pio. Ou melhor, só um arranhão de crítica. Nos versos iniciais de É Preciso Saber Viver, ele declama os versos "Quem espera que a vida/Seja feita de ilusão...", faz uma pausa e diz: "Tá ferrado!" Com Cláudia Leite, da banda de axé baiana Babado Novo, ele cantou Amor Perfeito. Em seguida, ela sozinha (belíssimo transgênico blonde de Ivete Sangalo, mas com uns dez anos a menos) carnavalizou o ambiente e cantou Você Pirou Minha Cabeça e Meu Coração. "Obrigada, meu rei", disse a cantora, ao finalizar. "E ainda por cima ele é simples pra dedéu!", derreteu-se. Simples, mas não simplório. Os dons de interpretação de Roberto são incomparáveis na MPB, ele é único no gênero. Obviamente, é triste vê-lo submeter sua voz a canções menores ou jecas, como a novíssima Arrasta Uma Cadeira, que ele conta ter levado 14 anos para finalizar. A música estará no disco que ele lança quarta, no Rio. Mas o que levanta a platéia são mesmo os clássicos, como não poderia deixar de ser. São os standards de Roberto. "As coisas velhas são como os velhos amigos: a gente gosta de ter sempre com a gente", disse ele ao cantor do Jota Quest. Então, quando ele retoma a velha canção de motel Cavalgada, com tudo que ela traz de metáfora musical (até o clímax final), é a afirmação de uma verdade inescapável: Roberto Carlos ainda é, e provavelmente será até o fim, o maior cantor popular do País.

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