Rob Halford, do Judas Priest, fala sobre show da banda no Monsters of Rock

Grupo toca no festival no dia 25 de abril na Arena Anhembi

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Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Se existissem de fato os Deuses do Metal, Rob Halford seria o veloz e astucioso Hermes, que fez música com o casco de uma tartaruga - um invólucro rude para um artesanato que encantava as feras.

Vocalista de um dos monstros sagrados do metal, o grupo Judas Priest, Halford, de 63 anos, foi o primeiro a assumir a homossexualidade no gênero. Em vez de homofobia, colheu ainda mais aprovação. Há quatro anos, ele deu contundente depoimento ao Estado sobre o assunto: “Os gays sempre estiveram no heavy metal, não é uma situação nova. Assim como estão no futebol. Mas a minha declaração foi pessoal, não posso cobrar dos outros. Há razões pessoais que temos de respeitar. Sabemos que há gays em todas as áreas, gays ocupam cargos importantes nos governos, nas empresas, no esporte, nas artes. E eu acho que é uma situação estranha viver fingindo que se é heterossexual, o estereótipo é um erro que se comete. No heavy metal, isso era ainda mais tabu, e eu continuo a ter orgulho de representar o movimento gay no metal. Não preciso afirmar isso continuamente, mas tenho orgulho. É mais ou menos como dizer: ‘Hey, eu sou um cantor de heavy metal, e eu sou hetero’. Ninguém diz isso, não faz sentido. Não é uma escolha, é o que eu sou. Mas, na circunstância social em que vivemos, acaba sendo importante por ajudar a derrubar a opressão. Vivemos uma era de grande intolerância racial, sexual, religiosa. É preciso ser inteligente e abraçar a humanidade”.

Halford. 'Na minha idade, seria fácil ser cínico e pessimista' Foto: JF Diorio/Estadão

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Prestes a voltar ao País para a sexta edição do Monsters of Rock, nos próximos dias 25 e 26, na Arena Anhembi, em São Paulo (o festival mais estrelado do ano), Rob falou novamente com a reportagem. 

Você esteve no Anhembi pela última vez em um show somente do Judas Priest. Agora, vai dividir os holofotes com o Kiss, Motörhead, Ozzy Osbourne, entre outras estrelas. Vai ser mais fácil ou mais difícil?

É um sentimento especial tocar com todos eles. É a primeira vez, que me lembro, que esses artistas estarão fazendo shows exatamente no mesmo festival. Vai ser muito legal. Todos nos conhecemos desde o começo, somos todos bons amigos. Certamente vamos ter tempo para sentar e conversar sobre o rock e os rumos que ele está tomando.

E você está gostando dos rumos que o rock and roll está tomando? Há tão poucas bandas novas de rock alcançado o estrelato. Estou me lembrando apenas de uma, o Royal Blood.

É um debate interessante. Todo dia eu coloco no meu iPad uma combinação de 10 ou 12 diferentes bandas novas. Vejo que a maioria delas faz uma mistura do velho rock and roll, são combinações de AC/DC com alguma coisa, Judas com alguma coisa. Há poucos que se destacaram nos últimos anos, como o Avenged Sevenfold. Eu curto o que o Royal Blood está fazendo. Mas veja: na minha idade, é fácil ser cínico e pessimista. Dizer o tempo todo: “No meu tempo era tão melhor...” Ainda há muitas bandas famintas pelo mundo, eu ouvi muitas por aí, na América do Sul, no norte da Europa. O heavy metal está quicando na área. É preciso que as pessoas se conscientizem que os velhos tempos não vão mais voltar. Por exemplo: eu me lembro do Rock in Rio, em 1991, e o Guns and Roses foi gigante naquele festival. Mas isso já tem um tempo. Eu acho que o rock agora é uma experiência diferente, é mais fragmentado e rápido como são os novos tempos. Muito do que as novas bandas fazem é com o intuito de atrair a atenção, porque a internet, ao mesmo tempo que é democrática, ela dissolve a atenção. É duro. Também é diferente o jeito que as bandas desenvolvem o seu trabalho que, muitas vezes, não tem a experiência do palco. É por isso que eu sou eternamente grato ao fato de ter conhecido e integrado uma banda como o Judas Priest.

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Vocês se caracterizaram por fazer um espetáculo de grande impacto, com motocicletas no palco, fogos de artifício. Você não acha que esses procedimentos ficaram um tanto banalizados? Há muita banda de mascarados, muito show de fogos hoje em dia.

Você está certo. O que acontece é que o único jeito de o circo ter sucesso é quando tem boa música por baixo. A música é a fundação de tudo. E o Judas Priest também evoluiu, hoje em dia temos um show mais enxuto, com menos efeitos, o palco mais limpo. Há grandes telões e vídeos excepcionais, e as projeções são elementos vivos do concerto, é uma coisa mais elaborada. O show é garantido pelas luzes. É um grande espetáculo, de qualquer forma. É preciso oferecer ao público o melhor concerto para que justifique o preço dos ingressos, e as apresentações teatralizadas são uma grande experiência. Ma, no final das contas, o que importa é qualidade das canções. Se tiver um milhão de fogos e nenhuma música, não adianta.

Você é uma pessoa de gostos refinados, sempre frequenta lugares sofisticados e tem um jeito de se expressar bastante erudito. Que tipo de artefatos culturais você costuma consumir?

O metal é a minha vida. Mas eu gosto muito também de música country. Veja, é preciso dizer que você ter um gosto refinado para filmes, livros, teatro, musicais, nada disso ajuda um letrista. Na música, a gente tem que aprender a projetar os sentimentos, e esses sentimentos têm de ter uma ressonância na vida real das pessoas, no dia a dia. Não pode ser pedante. Eu tenho um gosto meio clássico, de qualquer modo. Até hoje, gosto de ler Herman Melville. Mas também curti muito os livros de Stephen King. MONSTERS OF ROCKArena Anhembi. Av. Olavo Fontoura, 1.209. Tel. 4003-1212. Dias 25 e 26/4, a partir de 12h. R$ 700 (p/ todos os dias)/ R$ 400 (p/ dia). 

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