Rita Lee lança o ´samba do crioulo espacial´

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Por Agencia Estado
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Rita Lee não está preocupada com o século 21. Para quem já orbitou quase todos os planetas desta e de outras galáxias na época dos Mutantes, 2001 é apenas uma constatação. Na chegada do novo milênio, Rita lança 3001, 27º álbum da carreira. Nas 12 faixas, revive parcerias com Tom Zé e Itamar Assumpção, divide atenções com Zélia Duncan e Fernanda Takai, lança o filho Beto Lee. Dá continuidade à longa parceria rock and roll com Roberto de Carvalho, seu marido há 24 anos, que assina a produção e várias músicas deste novo disco. Vale ressaltar o trabalho do designer Gringo Cardia. O encarte do disco é um primor de originalidade. Brinca com cores e formas circulares, modernas e psicodélicas. Cardia já trabalhou com vários nomes da MPB, como os Paralamas do Sucesso, em Nove Luas. 3001 é diversão do começo ao fim. Sinuoso, como é próprio de Rita Lee. Abre com a faixa título, definida pela cantora como Deep Trance Samba do Crioulo Espacial. A canção recupera o parceiro Tom Zé, que em 1969 co-assinou 2001, um dos clássicos dos Mutantes. Na sequência, a própria 2001, com nova roupagem. 30 anos depois, Rita abandonou o sotaque caipira que caracterizava a música. No lugar, em meio aos acordes dissonantes, scratches e batidas eletrônicas. "Jeca Tatu, meu herói na época, chama-se hoje John Wayne, um peão boiadeiro milionário. Por isso abandonei o jeito original de cantar", conta. Como não podia deixar de ser, depois do início modernoso Rita volta ao bom e velho rock and roll. Você Vem poderia fazer parte de qualquer disco dos Stones. Nesta mesma linha, construindo a espinha dorsal do álbum, Mentira e Entre sem Bater. "Rock básico, sacana, do jeito que eu gosto", explica. Primeira música de trabalho, Erva Venenosa, versão de Poison Ivy, ganhou uma levada ao estilo de James Brown. Gravada originalmente na década de 50 pela banda The Coasters, foi sucesso na época da jovem guarda com os Golden Boys e nos anos 80 com a banda carioca Erva Doce. "Rebeldade" ? "Rebelde com causa mais serenidade igual rebeldade", diz Rita explicando o título de sua primeira parceria com Beto Lee. Rebeldade, a mais pesada do disco, mostra o bom instrumentista que é Beto. Ainda que nem todo músico virtuoso seja um compositor criativo. Aviso aos Meliantes é das melhores do disco. Destaque para a poesia marginal de Itamar Assumpção. De boca cheia, Rita vocifera os versos: "Vou destruir o Senado, vou depor o presidente/Criar mil planos cruzados e 10 moedas correntes/Jogar no mar viciados, poetas e diferentes/Deportar deputados, reenforcar Tiradentes". Zélia Duncan aparece na balada blueseira Pagu. A parceria, iniciada na turnê de Acústico, rendeu bom fruto. Bem humorada, a música critica o comportamento das mulheres objeto brasileiras. O refrão é explícito: "Nem toda feiticeira é corcunda/Nem toda brasileira é bunda/Meu peito não é de silicone/Sou mais macho que muito ?home?". De bate pronto, após este manifesto feminista, Fernanda Takai e John do Pato Fu oferecem a bonitinha O Amor em Pedaços a Rita Lee e Roberto de Carvalho. "Uma canção sobre o amor e o tempo", explica Fernanda. Cobra é uma das melhores letras já escritas por Rita Lee. Trata da dualidade do indivíduo. Sonoramente, com certeza, a menos pop do disco. Destaca-se a ocarina tocada pela cantora e a percussão quase tribal de Laércio Costa.

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