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Rita Lee estréia "Yê Yê Yê de Bamba" em SP

A roqueira mostra no Directv a versão cênica do CD Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar, com versões para músicas dos Beatles, que já vendeu mais de 250 mil cópias

Por Agencia Estado
Atualização:

A cabeça pesava bem menos que o normal. Os olhos, estalados, viam imagens de cores fortes que se misturavam e criavam novas figuras. A cadeira do cinema não a segurava mais. Lá estavam Paul McCartney, John Lennon, George Harrison, Ringo Starr e a roqueirinha Rita Lee Jones, lado a lado, na fantástica viagem a Pepperland do filme Submarino Amarelo. Foi assim que os Beatles esbarraram em Rita pela primeira vez. Na estréia do filme em São Paulo, ela correu para as sessões e se drogou até não poder mais. Ficou por lá de um dia para o outro, segundo relato da própria, vidrada nas sessões que assistia tentando, literalmente, não perder um minuto da viagem. A droga foi abandonada, os Beatles não. Aos 54 anos, quase 40 de rock-and-roll, ex-Mutantes, ex-Tutti Fruti, mãe de três filhos, casada, adepta dos diálogos via e-mail e defensora dos animais, a cantora vê sua vida artística vigorada depois de perder os pudores em mexer com o "sagrado" e gravar só canções dos ídolos ingleses. Seu recente álbum Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar, tradução para a música Here, There and Everywhere, de Lennon e McCartney, saiu no final do ano passado e já vendeu mais de 250 mil cópias. Um feito e tanto nos dias de hoje. O show, com o nome adaptado para Yê Yê Yê de Bamba, estréia amanhã em São Paulo, na casa de shows Directv Music Hall. Na temporada carioca, sediada no Canecão, sua apresentação foi vista por quase 12 mil pessoas. Casa lotada em todos os cinco dias, a produção se viu obrigada a agendar uma sessão extra. A idéia da gravação, que partiu do presidente da gravadora Abril Music, Marcos Maynard, chegou a ser ponderada por Rita Lee no início. Aquilo parecia loucura demais. Ela seria fustigada pelos críticos, ridicularizada pelos jovens, apedrejada em praça pública pela ala ortodoxa dos beatólatras. Nada disso aconteceu. Rita, como se tivesse recebido carta branca para fazer o que lhe desse na telha, passou a colecionar elogios até pelas versões em português que fez para If I Fell, que virou Pra Você eu Digo Sim; Can´t Buy Me Love, vertida para Tudo Por Amor; e a própria Here, There and Everywhere, que ficou Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar. A ousadia seria ainda maior se a editora Sony, responsável pela obra dos Beatles, não tivesse acionado os freios. "A alegação dos gringos burocratas da editora Sony foi que, nas versões para o português, eu teria me distanciado muito das letras originais", conta a artista. A restrição pode até ser conservadora demais para uma empresa que controla os direitos de um grupo tão revolucionário. Mas não é descabida. Entre as músicas proibidas estava I Want To Hold Your Hand, que, na voz de Rita, virou O Bode e a Cabra. Eis uma das partes da versão: "O bode saiu com a cabra / E iam andando a pé / O bode pisou a cabra / A cabra gritou méééé." A pérola, originalmente, vem sendo cantada desde os anos de jovem guarda por grupos como Renato e Seus Blue Caps. Mas não teve desculpas. Foi demais para a cabeça dos executivos britânicos. Rita Lee então - e para isso lhe serviu o tropicalismo - encheu-se de alma transgressora e deu um jeitinho no improvável. Em cada apresentação que fará em São Paulo vai inserir no repertório uma das canções que não puderam entrar no disco. Mais ainda: vai gravar todas as músicas na esperança de lançá-las em um álbum ao vivo, conforme contou na entrevista ao Jornal da Tarde, por e-mail. "Como não dá para tocar todas as proibidas num só show, cada dia escolhemos uma delas e mandamos bala. Ao vivo não tem problema algum, mas não sei se será possível a liberação delas para disco ao vivo." Às vésperas de colocar o pé na rua para sair em turnê, a eufórica Rita Lee recebeu uma notícia que pesou-lhe a alma. A morte de Cássia Eller quase a afundou. A estréia no Canecão, feita no piloto automático, virou quase que um tributo à "menina ensolarada com voz de trovão", como se referiu à amiga. Cássia Eller ganhou comentários durante todo o show. Depois da segunda canção, Nem Luxo nem Lixo, Rita confessou sua desmotivação. "Faz uma semana que a Cássia se foi. Fiquei muito abalada. É esquisito ter que estar aqui hoje. São as irmãs mais novas que seguem a trilha das mais velhas, com muito mais rebeldia, mais desacato e mais voz." O show transcorre com o apoio de um vistoso grupo à qual Rita Lee se refere como sua "Talebanda". Estão nele o baterista João Barone, integrante do Paralamas do Sucesso, o tecladista William Magalhães, da Black Rio, e o baixista Dadi Carvalho, ex-integrantes dos grupos Cor do Som e Novos Baianos. As boas notícias continuaram a chegar e serviram para amainar a perda. Além de platéias tomadas e satisfeitas, e da vendagem surpresa nas lojas, acordos estão sendo feitos para que a roqueira leve suas versões à Europa e aos Estados Unidos no segundo semestre. E aí só uma intervenção divina para prever o que mais pode acontecer à carreira de Rita no exterior. Se os ingleses gostarem de O Bode e a Cabra, quem haverá de ser contra? Rita Lee. Estréia amanhã, às 22h. Directv Music Hall (Av. dos Jamaris, 213. Tel. 3191-0011) Até dia 3 de março. Preços: de R$ 40 a R$ 150.

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