Rita Lee canta Beatles em ritmo de bossa nova

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Rita Lee, como ela mesma diz, "parece cada vez mais estar sofrendo influências de si mesma". Vive voltando na sua máquina do tempo. No CD anterior, 3001, consultou os arquivos e deu de cara com Rolling Stones, os anos 60, os Mutantes e etc. "Também dou uma espiada no baú Tutti Frutti dos 70, faço uma paradinha no presente e gravo um disco de inéditas ou de releituras, depende da veneta", afirma a Loba em entrevista por e-mail à Agência Estado. Ela nunca tinha gravado Beatles. Mas sempre os amou. É "beatleólatra". Em Aqui, Ali, em Qualquer Lugar, a sarcástica veterana ´abrasileirou´ clássicos do quarteto inglês através de uma leitura bossa-novista. "A idéia era gravar Beatles como meu primeiro trabalho de MPB. Tudo começou no Bossa´n´roll quando ´bossa-novei´ algumas músicas dos caras e deu o maior pé. Chupei sem pudores de Sergio Mendes a Trio Mocotó, de Astrud Gilberto a Brigitte Bardot em Búzios, de Nara Leão a Jackson do Pandeiro. Marcos Maynard, grande amigo e hoje presidente da Abril Music, teve a idéia de gravar Beatles. Eu entrei novamente na máquina do tempo e aportei no começo dos anos 90. ´Roquear´ Beatles seria redundante, fazer covers não seria nenhum desafio e tentar modernizar o som dos caras seria muita pretensão, lá fui eu então ´brazucar´ os gringos. Às vezes, a rebeldia está justamente no bom comportamento", informa. Rita conta que pensou em chamar João Gilberto (que sempre diz que ela é uma roqueira com voz de bossa-noveira) para participar do novo CD, mas acabou convidando outro rei da bossa, João Donato, que "colocou seu piano chique em duas faixas" e, assim, deu um toque sofisticadíssimo a esse trabalho. Um dos belos casamentos da bossa com Beatles é em Lucy in the Sky with Diamonds. O piano de Donato faz uma referência a Águas de Março. "Eu precisei me segurar para não cantarolar letra" diz. Ainda em Lucy in the Sky with Diamonds, Rita parece uma garotinha. A jovialidade dos Beatles mostra-se na sua interpretação, mais do que na clássica canção. "Nessa música baixou uma Astrud Gilberto que até Donato comentou ´puxa, você sabe cantar igualzinho a ela´. Astrud ainda tem voz de adolescente, Nara também tinha, essa cantoras bossa-novistas têm esse lance sim, uma eterna jovialidade vocal", concorda. Aqui, Ali, em Qualquer Lugar podia ser perfeito. Mas tem algumas versões (poucas) questionáveis. Ela justifica: "No começo estávamos pensando num disco só em inglês, mas para também poder ser trabalhado melhor aqui fizemos algumas versões. Quando a editora deles (Sony) me avisou que não autorizaria versões que se desvirtuassem das letras originais eu já estava com 10 prontas. Quando eu era fã xiita, eu também tinha pavor de versão, mas aos 53 anos de idade, a gente não pisa tanto em ovos. De vingança, eu vou cantar todas as ´proibidas´ no show!" Uma delas é a versão arrasta-pé de I Want to Hold Your Hand, que ao menos permanece em inglês. "Quando ouvi pela primeira vez esta música nos anos 60 fiquei chocada, porque notei que o bumbão do Ringo tinha uma levada que era puro baião. Fazer dela um forrozinho foi moleza. Aliás, eu também a fiz em português e se chama O Amor É tão Clichê. Ela foi barrada no baile porque não dava para cantar o ingênuo ´quero segurar sua mão´ no país da sacanagem!" Entretanto, no geral, o vício por Beatles, a sua grande referência musical de 1962, rendeu um trabalho legal, bom de ouvir.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.