Renato Borghetti mostra disco novo em SP

Paixão no Peito é o 16.º de sua carreira e conta com participação de Hermeto Paschoal. É um disco sem fronteiras, com influências jazzísticas e eruditas, embora o campo melódico e harmônico seja nitidamente gaúcho. Os shows acontecem amanhã e quarta no Teatro Crowne Plaza

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Por Agencia Estado
Atualização:

O gaiteiro-de-ponto e compositor gaúcho Renato Borghetti toca amanhã e quarta-feira no Teatro Crowne Plaza, apresentando o repetório de seu mais novo disco, o 16.º da carreira, Paixão no Peito (RBS Discos, gravadora do Rio Grande do Sul). É um trabalho que tem participação especial de Hermeto Paschoal, em duas faixas (Hermeto contribuiu, como autor, mas sem tocar, com um terceiro número) e do argentino Pedro Aznar, um músico sofisticado como o colega brasileiro. Gaita-de-ponto, ou gaita-ponto, é instrumento parente da sanfona, com botoeiras nas mãos direita e esquerda (o acordeão tem teclas na mão direita), da mesma família do tão tipicamente argentino bandônion. Seu som é o som por excelência da música gaúcha. Renato Borghetti, entretando, foge da redução do "músico regional". Embora a tradição da terra conduza seu trabalho, como compositor e instrumentista, Borghettinho vai além. Músico de sólida formação, um dos mais completos instrumentistas do País, faz de Paixão no Peito (de maneira mais pronunciada do que em outros trabalhos) um disco moderno (como Hermeto é moderno sem deixar de ser alagoano), que usa cores jazzísticas e eruditas no toque. Paixão no Peito afina-se, ainda, pelo peso da marcação rítmica, à música internacional popular contemporânea. Enfim, é um disco sem fronteiras, muito embora o universo melódico, harmônico, de gêneros musicais, de instrumentação sejam tão nitidamente gaúchos. Borghettinho tinha 10 anos quando o pai lhe deu a primeira gaita. Pouco tempo depois, ainda na adolescência, era estrela no Centro de Tradições Gaúchas. Aos 16 anos - tem hoje 36 - tinha carreira definida e havia criado imagem muito peculiar - o cabelo comprido, o chapéu caído sobre o rosto, a bombacha, as sandálias de corda. Em 1984, seu disco de estréia, que levava seu nome, vendeu 100 mil exemplares e foi o primeiro elepê instrumental brasileiro a ganhar o Disco de Ouro, relativo aos números da vendagem. Ainda nos anos 80, Borghettinho apresentou-se no Free Jazz Festival, tocou com Leon Russel e Edgar Winter, fez shows na Europa e nos Estados Unidos; em 1991, ganhou o prêmio de melhor disco (Borghetti) conferido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Abre Paixão no Peito com Cumplicidade, uma parceria do conterrâneo Alegre Corrêa (radicado na Europa) com Ronaldo Saggiorato e Fernando Paiva. A composição tem sabor gauchesco, mas permite que baixo e bateria sugiram um pulso nordestino; Santa Helena da Barra, do próprio Borghetti, evoca a vastidão pampeira, na introdução dominada pela gaita; depois vira baile gaúcho, com certeza, e o instrumentista dá uma de suas impressionantes demonstrações de habilidade; em algum momento, o toque pode fazer lembrar o de Hermeto, que aparece duas faixas depois com um recado de gaita-ponto e fala. Borghettinho retoma o tema e, mais adiante, apresenta o coco Funga-Funga no Cangote, do companheiro nordestino, faixa gravada em 1993 e resgatada agora. Outra presença importante é a do violonista Lúcio Yanel, músico e arranjador em Arrabalera, de Borghetti. Yanel foi o grande mestre de outro gaúcho genial, Yamandú Costa, e gravou com ele, em duo de violões, o primeiro disco do jovem (com produção do acordeonista Luiz Carlos Borges). Nos shows do Crowne Plaza, Borghettinho estará acompanhado por gente que divide com ele as faixas do discos: Daniel Sá (guitarra), Hilton Vaccari (violão), Pedro Figueiredo (saxofone), Marquinhos Fê (bateria) e Ricardo Baungarten (contrabaixo). Além dos números em que a exuberância técnica predomina, Borghettinho tocará algumas de suas delicadas canções de amor, como a comovente valsa chorada Emily, dele mesmo - um primor de sensibilidade. Renato Borghetti. Terça e quarta, às 21 horas. R$ 10,00 (estudantes) e R$ 20,00. Teatro Crowne Plaza. Rua Frei Caneca, 1.360. Tel. (0-11) 289-0985. Até quarta.

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