Rec-Beat ganha mais peso com a música eletrônica e instrumental

20ª edição do evento realça a força da influência africana

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Por Redação
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RECIFE - A diversidade do Carnaval Multicultural do Recife abre espaço para todo tipo de música pop, mas a fórmula vem patinando na mesmice. Dentro da programação, mas com autonomia para experimentar, o festival Rec-Beat mais uma vez destoou do óbvio, em sua 20.ª edição, de sábado a terça. Entre nomes consagrados e revelações - como Luiz Melodia, Man or Astro-Man?, Thiago Pethit, DJ Dolores, Juçara Marçal, Mombojó, Jam da Silva, Marquise Knox, Keziah Jones - a edição ganhou mais peso com a música eletrônica e instrumental dançante latino-americana e brasileira e, principalmente, realçou a força da música de influência africana. 

Curiosamente, um pioneiro instrumento dessa vertente ganhou lugar de destaque: o theremin. Esteve presente nos shows dos sergipanos da Coutto Orquestra (que fazem um misto de cumbia, reggae e marujada com ares de música balcânica), do Man or Astro-Man? (sucessão bombástica de temas de surf-punk-rock), do argentino Axel Krygie e de Dorit Crysler. O som do instrumento ainda apareceu sutilmente nas programações comandadas por Bruno Buarque no show de Lucas Santtana. 

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Austríaca radicada nos EUA, Dorit fez uma das apresentações mais ousadas do festival, tocando sozinha o theremin, além de comandar as programações de seu computador, e cantar belamente um estilo de música contemplativa. O nigeriano Keziah, dono de voz peculiar, também se garantiu sozinho no palco, acompanhado apenas de sua guitarra, tocando um misto de blues, funk, soul e ritmos africanos. 

Outro show nada “fácil” (e igualmente bem-sucedido) infiltrado numa festa como o carnaval foi o de Juçara Marçal, com o repertório de seu álbum Encarnado ao som de cordas eletrificadas, com muita distorção em harmonia com sua imensa voz. Carismáticos, Lucas Santtana e Russo Passapusso representaram a modernidade da Bahia, bem como seus vizinhos sergipanos, mesclando ritmos brasileiros e universais em shows bombásticos e inteiramente dançantes. Thiago Pethit se jogou de corpo e voz num dos melhores shows do evento, pegando no rock com força total, e até desceu do palco para beijar alguns fãs na boca. 

Boas surpresas, porém, não necessariamente estão ligadas às novidades sonoras. O jovem guitarrista americano Marquise Knox, de 23 anos, arrebatou o público que lotou o Cais da Alfândega tocando e cantando blues tradicional com um vozeirão impressionante. Da ala pernambucana, o Mombojó arrastou uma legião de fãs e contou com participação do franco-espanhol Manu Chao. A elegância em pessoa, Luiz Melodia mesclou canções recentes com clássicos, como Magrelinha e Congênito, além de tirar do baú a tocante Salve Linda Canção Sem Esperança.

Um dos shows mais impressionantes foi o de Lucas e a Orquestra dos Prazeres, também pernambucano, apontado como discípulo de Naná Vasconcelos, que se baseia nas mesmas matrizes da cultura afro-brasileira ligadas ao candomblé, como seu conterrâneo. Com 30 pessoas no palco (um contrabaixo, uma viola caipira e os demais instrumentos de percussão), Lucas foi ousado ao abrir a apresentação com seu canto a capela, mas o impacto maior veio quando entrou o som dos tambores. É o tipo de show que só acontece dessa forma no Rec-Beat, pela configuração do espaço, pela qualidade técnica do som e pela valorização do visual, com vídeos impactantes e criativos da cineasta Milena Sá. É a marca da exclusividade fazendo valer a pena viajar até lá.SOBECoutto. Com acordeom, trompete, theremin e programações eletrônicas, a Coutto Orchestra traz álbum Eletro Fun Farra dia 6/3 ao Sesc Pompeia DESCEJam. O bom trabalho de Jam da Silva não repercutiu tanto entre o público, ao entrar depois do show de Thiago PethitO REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA PRODUÇÃO DO FESTIVAL

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