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Ravi Coltrane promete show "energético"

Saxofonista filho do gigante John Coltrane vem ao Brasil pela primeira vez como atração do palco club do Free Jazz Festival 2000

Por Agencia Estado
Atualização:

Tem gente que jura ter visto o saxofonista Ravi Coltrane tocando no Brasil quando da edição de 1993 do Free Jazz Festival. Reza a lenda, que ele estaria integrando o Elvin Jones Jazz Machine, sexteto liderado pelo influente baterista. Delírio visual. Ravi Coltrane tocou, sim, com o contemporâneo de seu pai, mas deixou o grupo antes que a banda viesse ao País. "Deixei o grupo de Elvin no início de 1993, acho que os shows no Brasil foram no final do ano", esclarece ele por telefone, de sua casa em Nova York. "Engraçado esse boato, tenho pena do saxofonista que pelo jeito não chamou a atenção de ninguém´´, brinca ele. Ravi Coltrane vem pela primeira vez ao Brasil como atração do palco club do Free Jazz Festival 2000. Ele toca dia 21, no Rio, e dia 22, em São Paulo. Ao músico aplica-se a máxima surrada: filho de peixe, peixinho é. Não poderia ser diferente. Filho de um dos gigantes do jazz, o também saxofonista John Coltrane, e da pianista e harpista Alice Coltrane, Ravi Coltrane tem um background familiar absurdo que, não raro, chama mais atenção do que sua música. "Acho que isso vai me acompanhar pelo restante da vida, mas não me preocupo", diz ele. "É impossível ter o controle sobre aquilo que as pessoas pensam de você." Até os 20 anos, a presença de John Coltrane na vida do filho era tão etérea quanto a que o saxofonista tem no ideário dos fãs. Quando Coltrane morreu, de câncer no fígado, em 1967, pouco antes do 41.° aniversário, o filho não havia completado 2 anos. "Tinha uma lembrança distante de meu pai´´, diz ele. Em 1971, a desfalcada família Coltrane mudou-se de Nova York para Los Angeles. "Eu era uma criança que não ligava muito para música, apesar de ter minha mãe sempre tocando piano em casa." Apesar disso, começou a aprender clarineta e mais tarde entrou para a banda marcial da escola. "O jazz não exercia nenhuma influência sobre mim, eu gostava mesmo era de pop radiofônico´´, lembra. A inversão de valores veio aos 16 anos, quando, em poder do saxofone soprano dado de presente pela mãe, o jovem Ravi Coltrane mergulhou de cabeça no universo jazzístico - uma espécie de aproximação espiritual entre pai e filho. "Meu objetivo era aprender algo sobre este homem que foi meu pai´´, diz. Para tanto, o aprendiz foi buscar conhecimento nas gravações de John Coltrane. Inevitavelmente, durante o processo, ia sendo apresentado ao trabalho de ícones do gênero, companheiros de seu pai como Charlie Parker e Sonny Rollins. Em 1986, Ravi Coltrane ingressou no California Institute of the Arts, para fundamentar ainda mais os estudos musicais. Passados cinco anos, diplomado nos saxofones tenor e soprano, ele estava de volta a Nova York para iniciar carreira profissional. O debut foi justamente com o Elvin Jones Jazz Machine. Após a saída do grupo, o músico tocou com instrumentistas da estirpe de Kenny Barron, Herbie Hancock e Wallace Roney. "Tive muita sorte de trabalhar com músicos tão venerados´´, continua. "Foi importante tocar com eles." O estabelecimento de uma identidade própria dentro do universo jazzístico - esse é o intuito de Ravi Coltrane. Ele diz que a atual diversidade musical é uma de suas aliadas. "Vivemos um tempo em que vários estilos musicais convivem harmonicamente." Segundo ele, o ato de ouvir desde Art Tatum até os Beatles, passando por hip-hop e música indiana, é salutar. Seus dois álbuns são prova disso. Ainda que a influência do pai esteja presente, Moving Pictures (1998) e o mais recente From the Round Box flagram um artista criativo em franco desenvolvimento. "Costumamos ser mais espontâneos ao vivo, esperem um show energético", avisa ele, referindo-se a sua participação no Free Jazz Festival.

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