
15 de janeiro de 2016 | 03h00
Rico Dalasam, somente aos 26 anos, pode se reconectar com a hereditariedade cultural vinda de sua mãe. Ela deixou Itabuna, município no sul da Bahia, aos 13 anos, para trabalhar em uma casa de família em São Paulo. E aqui nasceu Jefferson Ricardo da Silva, o Rico, figura das mais coloridas do hip-hop nacional.
A imagem criada pelo jovem da Bahia formou-se na cabeça dele a distância. O rapper foi capaz de pisar em solo baiano - e pernambucano, cearense, paraibano e potiguar - em outubro e novembro do ano passado, quando passou por esses Estados em uma turnê por festivais de música independente durante um mês. O impacto foi profundo. E estará em abundância no primeiro álbum do rapper paulistano, ainda sem nome, cuja previsão é ser lançado em maio deste ano. “Claro, com conexão com a internet, a gente pode ouvir qualquer tipo de som. Mas nada se compara a ouvir a música local estando lá. A canção está englobada pela cultura local”, explicou o rapper. “Fui impactado por isso. Escrevi muita coisa (do disco de estreia) nessa passagem por essas paisagens nordestinas.”
Thiago França faz disco para o carnaval
Hoje, Dalasam exibe pedaços desse novo repertório na estreia da turnê Fervo do Dalasam, em uma especial apresentação no Sesc Pompeia, em São Paulo. O rapper, agora, é acompanhado por uma banda e planeja, a cada novo show, ter um convidado distinto. Neste primeiro, ele se junta a Thiago Pethit, músico que há tempos reverbera entre pop o rock no cenário paulistano e musical. Dalasam mostra Quero Ser Seu Cão, composição do convidado em parceria com Helio Flanders, enquanto Pethit se joga em Deixa, faixa que integra o primeiro EP do rapper, Dalasam, lançado no ano passado.
Com Modo Diverso e suas cinco faixas - entre elas, Aceite-C, um dos hits mais tocados nas festas descoladas e inclinadas ao hip-hop paulistanas -, Dalasam pediu passagem ao longo de 2015. Nunca escondeu a sexualidade (por que o faria, afinal?) e, dessa forma, figurou como desbravador do queer rap brasileiro, algo já consolidado nos Estados Unidos. Deu início a uma importante quebra das barreiras de gênero no hip-hop, falou, fez sua militância. Figurou nas reportagens de comportamento da sexualidade dentro do rap.
Mexeu na ferida e, ao passar dos meses, a cada show, a cada festival e a cada apresentação no exterior (passou por Europa e Estados Unidos), garantiu o espaço para a sua música. O novo ano deve fortalecer a figura musical de Dalasam, com um primeiro álbum e mais um punhado de shows pelo País. O álbum, ele conta, une o “vento do Nordeste”, com algumas referências de música árabe, que sempre lhe chamava a atenção. Ainda há o “dedo na ferida”, como diz o rapper, mas existe espaço para a celebração. “O EP (mais combativo) serviu para as pessoas saberem que existo. Consegui ser claro com aquelas músicas. Dizer como eu amo, como eu me vejo. Agora, o disco tem a intenção de celebrar, de não querer deixar de mexer o corpo, do começo ao fim, até nos momentos das canções mais românticas.”
É o caso da música Paz, Coroas e Tronos, única já lançada desse trabalho de estúdio. Na capa, Dalasam mostra a época em que usava cabelo, barba e sobrancelhas descoloridas, exibidos por uma máscara de guerreiro medieval comprada durante um festival de música em Manchester, na Inglaterra. “É a imagem de um soldado, mas um tipo anti-herói. Uma desconstrução completa, um cara negro com cabelos claros”, ele diz.
A posição conquistada, agora, será defendida. “É preciso manter a cabeça fria, pés no chão. Seria presunção dizer que as coisas já estão prontas. É uma construção constante.”
FERVO DO DALASAM
Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93, Pompeia, tel. 3871-7700.
Sexta, às 15h. De R$ 6 a R$ 20. Com participação de Thiago Pethit
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