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Rap cubano invade o palco do Sesc

Primeira Base, Anônimo Consejo e os "raperos" Telmary, Rene e Papo Record fazem show em SP para promover a coletânea Soy Rapero - Hip Hop Havana

Por Agencia Estado
Atualização:

A ilha de Fidel Castro não resistiu ao suingue do rap norte-americano. O ritmo não só foi assimilado pelos jovens cubanos como também ganhou identidade própria e mais musicalidade na fusão com a salsa e outros ritmos caribenhos. Uma boa amostra da qualidade do rap feito em Cuba estará no palco da choperia do Sesc Pompéia, hoje e amanhã, onde se apresentam os grupos Primeira Base e Anônimo Consejo, e os "raperos" Telmary (do grupo Free Hole Negro), Rene e Papo Record. Eles vêm para promover o lançamento da coletânea Soy Rapero - Hip Hop Havana, produzido pelos músicos brasileiros Kassin e Guga Stroeter, que será lançada no Brasil pelo selo independente Sambatá. A abertura ficará por conta do rapper Xis, que gravou a faixa-título de seu último disco, Fortificando a Desobediência, em Cuba. Na gravação, ele contou com a participação de Papo Record, Telmary e MC White - integrante do Primeira Base. "Os rappers cubanos são músicos ou entendem de música e isso influencia na sonoridade", conta Xis. "Em relação ao discurso, acho que o deles é mais saudável do que o brasileiro." De um modo geral, as rimas dos cubanos pegam mais leve na crítica ao sistema - que é o mote principal das letras dos rappers brasileiros. Os raperos, ao contrário, apóiam com pequenas ressalvas a revolução promovida por Fidel. "A revolução é boa para o povo pois não há diferença social em Cuba. Todos têm moradia, medicina, educação e estamos protegidos da violência mundial", acredita Papo Record. "Existem coisas no sistema cubano, como no capitalismo, que não são perfeitas. Mas a ilha goza de uma tranqüilidade que, acredito, não existe em outros países", acrescenta Rene. Para Guga Stroeter, está aí a grande diferença entre o rap feito em Cuba e no Brasil. "O rap é música de protesto, mas em Cuba é oficial: todos são filiados à organização Hermanos Saiz, que é parte da União da Juventude Comunista", diz. "É muito diferente do rap paulista, que traz um discurso agressivo do excluído." Algo que certamente é visto como positivo é o apoio que o governo cubano oferece para o hip hop. "A gente recebe incentivo, não em forma de dinheiro, mas com a infra-estrutura das apresentações, com luz, som, palco e alimentação para os artistas", explica Papo Record. "Todo mês há cerca de 20 shows de rap em clubes, anfiteatros, praças e casas de cultura." Outra curiosidade a respeito dos raperos, é que muitos deles cultivam, paralelamente, atividades como medicina, artes cênicas e jornalismo. "Papo Record, por exemplo, é médico. A Telmary, jornalista. O Lester, do Free Hole Negro, é ator e trabalha em diversos filmes e peças teatrais", diz Guga que, assim como Xis, chama também atenção para a formação musical dos raperos. "O MC White canta salsa e Rene é um percussionista auto-didata que transita com igual organicidade pelos ritmos tradicionais e pelo rap". A idéia de gravar a coletânea, diz Guga, surgiu casualmente. Ele e Kassim estavam em Havana, em 2001, para gravar um álbum com participação dos músicos cubanos Roberto Carcasses (piano), Omar Gonzalez (baixo acústico) e François Zayas (percussão). O vibrafone de Guga e outros instrumentos de Kassim completaram a formação instrumental do álbum. "O fato é que gravamos as bases em dois dias e, no terceiro e último dia de estúdio, tivemos a idéia de convidar os raperos para improvisar algo", lembra o vibrafonista. "Com tantas obras de arte interessantes, o disco tomou vida própria e o que se seguiu foi uma deliciosa festa com 16 horas de gravações." É esse espírito festivo que deve tomar conta do palco do Sesc Pompéia, hoje e amanhã. Rappers Cubanos ,com abertura de Xis, hoje e amanhã, na choperia do Sesc Pompeía (r. Clélia, 93. Tel. 3871-7000). R$ 20,00.

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