Radiohead promete salvar o pop da mesmice

Kid A, quarto álbum da banda, chega às lojas nesta semana. Explorando uma boa textura sonora e uma base rítmica consistente, disco vem marcado por uma grande variedade de influências, de Brian Eno e Phillip Glass a Beatles

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Por Agencia Estado
Atualização:

Kid A é o disco que promete salvar o pop da mesmice. O quarto trabalho do Radiohead, que chega às lojas de todo o mundo esta semana, é a esperança de órfãos da boa música (nomes como Nirvana e Kraftwerk) e dos fãs de bem-sucedidos grupos dos anos 90 (como Massive Attack e Primal Scream). O álbum tem tudo para se tornar uma espécie de marco que decreta a exaustão de um público exigente em relação ao pop internacional, dominado por produções radiofônicas comerciais. Por que Thom Yorke e sua turma são os salvadores do pop? Ao contrário do U2, eles não querem compor sucessos embalados em produção moderna, preferindo criar uma sonoridade cheia de personalidade e inovação. Ao evitar as maneiras tradicionais de lidar com a máquina do pop, a banda consegue se libertar de vícios musicais que tomam conta de nomes como Oasis. E também porque o disco OK Computer foi tão importante que praticamente definiu a cena que impulsionou bandas como Travis, Muse e Coldplay. Acima de tudo, porque eles parecem realmente acreditar em valores que há um bom tempo ficaram em segundo plano na música. Para provar seu ponto, o grupo está lançando o trabalho sem o esquema tradicional de promoção. Eles não estão definindo um single para ser executado pelas emissoras de rádio (cada programador vai poder escolher a faixa que quiser), não vão gravar videoclipes (eles produziram uma série de vinhetas, ou "videoblips", que estão sendo distribuídas na Internet) e não devem fazer muitas aparições na imprensa. Para completar, no início do ano que vem, eles lançam um outro trabalho, com as sobras "menos viajantes" das sessões do disco. Kid A não é parecido com o megahit OK Computer (que consagrou o Radiohead como potência mundial e quase acabou com a saúde dos integrantes da banda) e também não se parece com o trabalho de nenhuma outra banda. Desde que começou a aparecer na Internet, o disco foi associado às experimentações de Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band e ao psicodelismo de trabalhos do Pink Floyd nos anos 70. A verdade é que a banda, firme em seu propósito de criar, de fato, uma sonoridade resultante de sua (sofrida) experiência de equipe, conseguiu atingir um novo patamar. Kid A é o disco que toda banda vai querer fazer daqui para frente - uma caixa sem fundo de influências que vão de Brian Eno e Phillip Glass a Beatles. O Radiohead achou a medida entre uma boa textura sonora e uma base rítmica consistente. Novamente letras sobre desolação e a impessoalidade do indivíduo ganham espaço em faixas com nomes como How to Disappear Completely ("como desaparecer completamente", em que a voz de Yorke aparece completamente robotizada), In Limbo e Everything in Its Right Place. A mensagem do Radiohead fica mais minimalista, com frases mais curtas, que lembram slogans (como "Eu vejo você no próximo mundo" ou "Estou perdido no mar"). O Radiohead é a única banda do momento capaz de fazer arte sem parecer pedante e sem criar um trabalho enfadonho. A ironia é que, como foi visto no filme Meeting People Is Easy, sobre a última turnê do grupo, eles não querem e não estão preparados para o assédio que vem por aí. Boa sorte aos atormentados integrantes do Radiohead - desta vez a coisa vai ser grande.

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