Radiohead, de volta à pulsão original

Politizado nas letras e fino nas melodia, banda reafirma sua relevância na cena da música popular com Hail to the Thief, seu sexto álbum

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Por Agencia Estado
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Não existe um deus ex machina na música, sentenciou o compositor polonês Krysztof Penderecki. Pode parecer absurdo, mas foi sob a influência da música soturna de Penderecki e de suas idéias que Thom Yorke alega ter gestado a maioria das canções que compõem Hail to the Thief (EMI), o sexto álbum da banda britânica Radiohead, a mais em evidência da atualidade. A idéia-chave de Penderecki (que irrita a comunidade erudita pela proximidade que lhe dá com o sucesso) é que a música se assenta sempre sob formas antigas. "Não teria composto a minha Paixão Segundo São Lucas sem a fonte de Bach e o estilo polifônico do século 16 ou escrito minhas sinfonias sem Mahler, Bruckner ou Chostakovich." Hail to the Thief se assenta igualmente sobre formas saturadas do pop que o Radiohead trabalha com tanta delicadeza artesanal. Sem pastiches. Até recentemente, quando lançou o álbum experimental Kid A, o Radiohead parecia crer em algo diferente, no confronto com o consagrado, na provocação, no desregramento. Os críticos não viram muita graça na virada do Radiohead, do artesanato de canções pop para o experimentalismo topetudo. "As peças eletrônicas aparentam diluição e, se comparadas ao trabalho superior de artistas como Autechre e Aphex Twin, soam somente como distração", escreveu James Oldham, do New Musical Express. No entanto, se circunscritos ao seu território natural, o pop rock, o Radiohead seria sempre infinitamente superior aos seus contemporâneos, parece dizer o senso comum. Permitam a discordância. Com Kid A e Amnesiac, seus álbuns "difíceis", o Radiohead forçou com grande habilidade os arames farpados que prendem o pop rock a um imaginário juvenil, impulsivo, glandular. A volta à pulsão original de seu disco mais elogiado, The Bends (1994), ou às tessituras de OK Computer (1997), é fruto mesmo dessa busca de sensações da mística de Penderecki, "a sensação perversa de estar fora do corpo", como diz Yorke. Politizado nas letras (que questionam a legitimidade de George Bush, o larápio do título) e fino nas melodias, com linhas maravilhosas de guitarra em faixas como 2+2=5 e Where I End and You Begin, o Radiohead reafirma sua relevância na cena da música popular.

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