Rádio MEC lança jóias da música brasileira

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Por Agencia Estado
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Nelson Sargento grava seu repertório romântico, o flautista Carlos Malta recria o clima dos coretos do interior e Diana Pequeno relembra canções brasileiras dos últimos cem anos. Os três discos são lançamentos do selo Rádio MEC, criado há dois anos e que agora ganha regularidade. É pequeno e voltado para uma fatia de mercado que não interessa às grandes gravadoras (para quem vender menos de 100 mil exemplares é pecado), mas tem uma particularidade: não é iniciativa de músicos ou produtores independentes e sim de uma das emissoras da Rede Brasil, que reúne rádios e televisões públicas de todo o País. "Quando assumimos a rádio, descobrimos que havia um estúdio sinfônico de 56 canais, excelentes técnicos e muitos músicos que não conseguiam gravar ou fazer seus discos chegar às lojas", conta a gerente da Rádio MEC, Maristela Rangel Pinto, que vinha da TV Educativa. "Então foi só reunir todo mundo e trabalhar. O primeiro disco foi Eu e Eles de Hermeto Pascoal. O selo reeditou também a Estória de João-Joana, único cordel criado por Carlos Drummond de Andrade, musicado por Sérgio Ricardo. No lançamento do selo, uma festa no Bar do Tom, Hermeto subiu ao palco literalmente às cambalhotas e acompanhou todos seus afilhados ao piano. Ele não decide o elenco do selo, mas aprova integralmente. E o cardápio é eclético. Nelson Sargento reuniu em Flores em Vida um repertório que não estamos acostumados a ouvi-lo cantar. O compositor de Agoniza mas não Morre, mostra uma face mais romântica e recebe a visita de Emílio Santiago (em Labirinto de Dor) e de sambistas no coro, como Walter Alfaiate, Luiz Carlos da Vila e Tia Zélia da Mangueira. Como Nelson é mais falado que ouvido em disco (tem outro disco com Elton Medeiros, cantando Cartola), este já nasce antológico. Carlos Malta, cria musical de Hermeto, é mais gravado porque trabalha com grupos variados. Desta vez, juntou músicos de banda para recriar o clima das retretas de interior em Tudo Coreto. "Os grandes músicos vêm dessas bandas e das militares. Não fui criado ouvindo-as, mas elas sempre me fascinaram. Então, decidi fazer esse disco do jeito que elas tocam, só metais e percussão", adianta Malta. O repertório vai na mesma linha e ninguém estranhe estarem faixas clássicas como Até Amanhã (Noel Rosa), Arrastão (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), Ladeira da Preguiça (Gilberto Gil), ao lado de dobrados e frevos do próprio Malta. Quem conhece essas bandas sabe que seus maestros, geralmente excelentes músicos, tocam o tradicional, mas têm o ouvido atento às novidades e ao gosto popular. Em Cantigas, Diana Pequeno junta Villa-Lobos, Chiquinha Gonzaga, Catulo da Paixão Cearense, Carlos Gomes e até Castro Alves, com modinhas cuja autoria se perdeu e músicas dela mesma. O esquema é óbvio como todas as boas idéias. Sua voz doce e afinada se faz acompanhar de poucos instrumentos, geralmente um violão ou piano, e percussão discreta. O selo Rádio MEC fica devendo ainda os discos de Wilson Moreira, Entidades I, com arranjos de Paulão Sete Cordas, maestro onipresente no samba de Zeca Pagodinho e Velha-Guarda da Portela; de Telma Tavares e do Sincronia Carioca, grupo instrumental que tem em Daniela Spilman a sua integrante mais famosa. Ela é saxofonista da banda feminina de Altas Horas, programa de Serginho Groisman nas madrugadas de domingo, na Rede Globo, e tem um público fiel que a segue pelos bares do Rio. Dos três discos que ela gravou, só Rabo de Lagartixa, chegou às lojas. Os três discos já estão gravados, mas não ficaram prontos a tempo. Estão prometidos para março. Mesmo assim, já estão marcados para 2002 outros nove lançamentos, entre eles o de João de Aquino, que vai reproduzir o som dos conjuntos e orquestras de baile dos anos 50 e 60, Hermeto com sua banda, Paulo Moura e o pianista João Carlos Assis Brasil.

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