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Quaternaglia celebra trinta anos e lança disco em concerto na Sala São Paulo

Álbum tem obras do compositor Sergio Molina; ainda este ano, quarteto de violões terá outro álbum, dedicado à musica de Paulo Bellinati

Foto do author João Luiz Sampaio
Por João Luiz Sampaio
Atualização:

O quarteto de violões Quaternaglia faz neste sábado, 28, às 11 horas, um concerto na Sala São Paulo para celebrar seus trinta anos de atividades. Formado por Sidney Molina, Fábio Rammazina, Thiago Abdalla e Chrystian Dozza, o grupo vai apresentar obras de seu novo disco, dedicado à produção do compositor Sergio Molina, além de um livro em que trata das obras escolhidas e de sua trajetória de três décadas.

Down the Black River foi gravado em São Paulo com participação do pianista Rogerio Zaghi e do maestro Emiliano Patarra à frente de uma orquestra formada especialmente para o projeto (na apresentação na Sala São Paulo, o grupo será a GRU Sinfônica). O disco traz as obras Almas Cansadas, Quinteto para um Outro Tempo, Down the Black River e Song of the Universal, todas inéditas em disco.

Quarteto Quaternaglia, formado por Sidney Molina, Fábio Rammazina, Thiago Abdalla e Chrystian Dozza Foto: Gal Oppido

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“Elas foram escritas ao longo de um período de quinze anos e, ao nos prepararmos para gravá-las, ficamos surpresos com os elementos que as unem”, conta Sidney Molina. “Ele organiza de modo muito pessoal a influência da música do século 20, em especial de Bartók e Ligeti. Trabalha muito as texturas, propõe jogos bem-humorados de citações e incorpora a tradição da música afro-americana. E a própria história da obra interfere na sua forma. Em Song of the Universal, inspirada no poeta Walt Whitman, há um trabalho de desconstrução de uma canção oculta. Em Down the Black River, que evoca uma imagem amazônica, há um fluxo constante, como o de um rio que leva em si o tempo e o espaço”, explica o violonista.

O Quaternaglia surgiu em 1992 quando um grupo de quatro alunos de Edelton Gloeden resolveu se unir para tocar quartetos escritos pelo compositor cubano Leo Brouwer, nome central para o violão no século 20 e ídolo dos músicos (a primeira formação do grupo tinha Molina, Eduardo Fleury, Breno Chaves e Daniel Clementi). “Naquele momento, além das peças do Brouwer, tocamos também transcrições para quatro violõs de obras de Stravinsky e Villa-Lobos, além da Suiternaglia, que o compositor Estércio Marquez Cunha escreveu para nós quando soube do nosso trabalho.”

O sucesso inicial não deixou de ser uma surpresa. “Inclusive para nós”, lembra Molina. “O repertório para quatro violões parecia muito restrito, muito baseado em transcrições de obras para outras formações. Encomendar novas peças não estava especialmente no nosso radar, mas de repente começaram a surgir autores interessados em escrever para nós.” Um caso que Molina lembra com carinho foi o de Egberto Gismonti. “No final dos anos 1990, recebemos um telegrama dele dizendo que conhecera nosso trabalho e nos convidando para visitá-lo no Rio de Janeiro. Estivemos em sua casa e ele nos deu uma partitura que havia escrito para nós, imagina só.” Com o tempo, o trabalho com novas obras acabou se tornando o carro-chefe do trabalho do Quaternaglia. Ao longo dos trinta anos de atividades, o grupo já estreou cinquenta obras.

Discos

O álbum dedicado à obra de Sergio Molina não será o único lançamento do Quaternaglia em 2022. O grupo também lança este ano, agora pelo selo Guitarcoop, Bellinati’s Mosaic, dedicado a peças do compositor Paulo Bellinati, incluindo uma escrita pelo violonista e compositor Sergio Assad.

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Down the Black River e Bellinati’s Mosaic são novidades para nós em termos de gravação. São as duas primeiras vezes que dedicados um álbum inteiro a um só autor e que atuamos com parceiros. No primeiro caso, com o pianista Rogerio Zaghi; no segundo, com o próprio Bellinati, o percussionista Ari Colares e o guitarrista Swami Jr. E eles têm um significado importante para nós pois mostram duas facetas importantes de nosso trabalho, de um lado o universo camerístico erudito e de outro um diálogo com os ritmos brasileiros. Isso tem muito a ver com o que entendemos que o violão brasileiro pode ser e fazer no século 21.”

Molina conta que a pandemia foi o único período em que o grupo ficou sem ensaiar semanalmente. “Para nós, ensaiar é a grande curtição, o prazer de tocar junto, isso é a verdadeira música de câmara. Temos ensaios fixos, independentemente de termos ou não concertos marcados - e ainda bem que temos! É esse contato íntimo que nos permite, durante os concertos, a liberdade de criar, de ouvir o outro, uma proposta diferente, saber responder, tornando a música mais flexível. Você, no fundo, sabe como o outro funcionar e sabe como reagir a ele ali no palco.”

E se há um plano para o futuro próximo, é exatamente este: estar no palco. “Nós ficamos muito tempo produzindo esses dois álbuns. Agora, queremos tocar bastante, sair, viajar com o grupo, montando quatro ou cinco programas que sejam resumos das peças dedicadas a nós ao longo desses trinta anos.”

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