Quarteto Fauré no teatro do Mosteiro de São Bento

O jovem Quarteto Fauré, que tem Martha Argerich como madrinha e acaba de lançar disco dedicado a Mozart, se apresenta nesta segunda-feira no mosteiro

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Por Agencia Estado
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Eles pegaram carona nos 250 anos de Mozart e, com um recém-assinado contrato de exclusividade com a Deutsche Grammophon, jogaram no mercado um disco que até agora está entre os mais interessantes do pacote de lançamentos em homenagem ao compositor. É de alguma maneira uma primeira consagração para o jovem Quarteto Fauré, que, com Martha Argerich como madrinha, chega a São Paulo para dois concertos no Mosteiro de São Bento: nesta segunda-feira, tocam na série Mosteiro ao Meio-Dia e, no dia 11, na programação dos Concertos Internacionais - Grandes Obras. Martha Argerich diz que não dá para ouvir os músicos do Fauré sem querer mais um pouco. Vindo dela, é um baita elogio. Mas a qualidade individual do grupo aparece associada a um repertório interessante. O disco lançado agora, por exemplo, recupera os quartetos com piano de Mozart. O editor Franz Anton Hoffmeister encomendou três deles a Mozart, mas publicou apenas o primeiro. A explicação só chegou a nós de segunda mão, dada por Georg Nikolaus Nissen, segundo quem "a obra agradou a tão pouca gente que Hoffmeister escreveu a Mozart o liberando antecipadamente de ter que escrever os outros, assim se autoliberou do contrato assinado". A qualidade das peças, percebida hoje, torna difícil explicar o pouco sucesso obtido na época. Afinal, se elas, além de dialogar com outras obras importantes (como As Bodas de Fígaro), determinaram as bases para qualquer outro compositor que se dedicou a esse tipo de formação, por que não obtiveram algum reconhecimento? Quem explica é o musicólogo Ulrich Konrad. "A impressionante qualidade musical dessas peças vai para segundo plano. Precisamos lembrar que, na época de Mozart, a música de câmara ainda era endereçada em sua maioria aos intérpretes e não aos ouvintes. E mesmo que os músicos, mesmo amadores, fossem razoavelmente competentes, eles geralmente esperavam dos compositores obras que não fossem tecnicamente muito difíceis, obras mais fáceis de serem compreendidas, divertidas, afinal, fazer música era, então, a grande oportunidade para o surgimento de relações pessoais." Em outras palavras, o ouvinte preocupado em mergulhar na música e seus significados só surgiria mais tarde. E, se você é um deles, poderá ouvir um dos três quartetos com piano de Mozart (o KV. 478) na apresentação desta segunda do Quarteto Fauré. Composto por Dirk Mommertz (piano), Sascha Frõmbling (viola), Erika Geldsetzer (violino) e Konstantin Heidrich (violoncelo), o conjunto foi criado em 1995, na Alemanha. Alia a temporada de concertos a um trabalho de pesquisa no Conservatório de Karlsruhe, na Alemanha. Em São Paulo, além de Mozart, interpretam também o Quarteto em Mi Bemol Maior, Op. 47, e o Quarteto em Sol Menor, Op. 13, de Strauss. No concerto do dia 11, eles acrescentam à lista de obras o Movimento para Quarteto com Piano, de Mahler. É uma peça das mais interessantes. Foi a única a sobreviver dentre uma série de obras de câmara escritas pelo compositor, então com 16 anos. Não espere encontrar nela o Mahler sinfonista. As influências principais são Schubert e Brahms. Mahler, aqui, está preso, de um lado, a um estilo já bastante pessoal, e, de outro, à tentativa de dominar as formas musicais, o que faz com que a peça muitas vezes soe como um exercício acadêmico. O que não tira nada do seu interesse. Quarteto Fauré. Mosteiro de São Bento. Largo do São Bento, s/nº, Centro, 3285- 5242. Hoje, 12 h. Grátis

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