PUBLICIDADE

Psicólogo paulistano trocou o divã pelas pick-ups

O DJ Tutu diz que faz um ´trabalho de formiguinha´ e toca samba de raiz, tropicalistas, bossa eletrônica e até marchinha de carnaval

Por Agencia Estado
Atualização:

Na mesma proporção de Janot, o DJ Tutu, codinome de Arthur de Moraes Batusanschy, de 29 anos, faz da discotecagem um projeto de educação musical. É como ambos de vingam da mesmice da programação das rádios e até da imprensa, responsabilizada por repercutir só o que está estabelecido. "A resistência parte mesmo da ignorância em relação à música", diz Tutu, referindo-se tanto ao público como a outros DJs, que têm medo de arriscar, casas noturnas, etc. "O mauricinho e a patricinha que acham que entendem de música geralmente vêm com aquele papo: ´Ah, você toca música brasileira, então tem que tocar Seu Jorge´. Não, eu não tenho que tocar Seu Jorge", frisa Tutu. Os menos informados pedem o óbvio de Tim Maia e Jorge Ben. "É um trabalho de formiguinha formar público, mas hoje vejo o resultado." Paulistano, psicólogo formado pela PUC de São Paulo, Tutu começou a atuar na área gravando fitas cassete para tocar nas festinhas do Centro Acadêmico, porque não havia verba para pagar DJ. "Sempre fui muito baladeiro, agitado. Desde criança adorava música brasileira, gastava toda a grana em CDs. Imagina um garoto de 12 anos enlouquecido com Irene, do Caetano Veloso, que era um bicho de sete cabeças para a maioria. Sempre fui meio outsider", lembra. De pesquisador informal, Tutu começou a levar a profissão de DJ a sério, conciliando-a com a de psicólogo, a partir de 1996, e, como Janot, gradativamente foi levando seu gosto pessoal para as pistas. Deu tão certo que trocou o divã pelas pick-ups definitivamente em 2005. "Sempre quis provar que é possível fazer uma festa só com música brasileira e não se entediar, evitando a vulgaridade do axé, do pagode e do funk carioca", diz Tutu, que também abomina a perda de tempo com trash dos anos 80. "Bato o pé em relação à qualidade", afirma. Ele nem é chegado a fazer malabarismos nas pick-ups. "Toco faixa a faixa procurando contar uma historinha e respeitar o máximo possível a música como ela foi feita." Por isso também evita remixes. Diversifica o repertório com Tropicália, samba de raiz, samba-jazz, bossa eletrônica e até pontos de candomblé e marchinhas de carnaval. No começo, confessa, teve medo de arriscar a tocar gente como Baby Consuelo e Pepeu Gomes, mas perdeu o pudor, defendendo-os pelo quesito do suingue. "Hoje as pessoas até me pedem. Eu adoro", diz. "As pessoas custam a entender que a música brasileira não se limita ao que se chama de MPB. Gilberto Gil é um exemplo de brasileiro que passou por todos os estilos." Ousadia para ele não é apelar para o grotesco do brega, nem "tipo assim" Xuxa, Balão Mágico ou qualquer cretinice dos anos "oitenta", como pedem adultos infantilizados. "Ousar para mim não é colocar um funk carioca, mas uma coisa que as pessoas não esperam ouvir, como Maria Bethânia ou um frevo de Moraes Moreira", exemplifica. Entre seus prediletos estão Clara Nunes ("no mínimo duas músicas por noite"), Marcos Valle, João Donato, Gal Costa e a banda Dona Zica. "Acabo preferindo coisas antigas, mas incluo muita gente nova, como Barbatuques, Bossacucanova." Quanto a produzir um CD próprio, ele que não é músico nem compositor, diz que vive um impasse. "Tenho planos de fazer um trabalho de produção mais com a minha cara, mas não por enquanto." Quinta-feira ele bate ponto no Studio SP. Vai lá que vale a pena.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.