Projeto usa música para atrair jovens de baixa renda

Educação musical em escolas públicas tem oficinas que misturam ritmos como hip hop e peças clássicas

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Por Bruna Canellas
Atualização:

Idealizado pelo músico e produtor musical, Ney Marques, o projeto Música Educa surgiu no final de 2017, nos palcos do projeto social Meninos Diamantes na Faculdade de Música Souza Lima, em São Paulo. Nos dois anos seguintes, o projeto contou com o apoio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e iniciou as apresentações em escolas estaduais e CEUs, com o objetivo de levar música clássica e popular de forma descontraída para jovens de baixa renda. Após dois anos de pandemia, o programa retorna este ano, em agosto, para uma segunda rodada que irá atender cinco escolas públicas municipais paulistanas. Em princípio, devem integrar o projeto: CEU Meninos, em Sacomã, CEU Capão Redondo, CEU Jaguaré, CEU Butantã, no Jardim Esmeralda e CEU Continental, em Guarulhos. 

Apresentação do grupo Bandolim Elétrico que participa do projeto Música Educa nas escolas de SP Foto: De Fatho/ comunicação

Ao longo de sua carreira profissional, Ney Marques ficou responsável por vários departamentos de musicalização na Fundação Bachiana, escola de música fundada pelo maestro João Carlos Martins, em São Paulo.  Graças a essa experiência, Marques recebeu um aprendizado mais amplo sobre o valor da música, a partir do contato com jovens, principalmente os de baixa renda. Sua experiência pessoal com a música, iniciada ainda jovem, também ajudou a enxergar possíveis caminhos para esses jovens. Segundo o músico, a oportunidade na infância de receber uma educação musical e de descobrir as notas básicas do violão contribuíram muito para sua iniciação musical.  Para ele, essa oportunidade, de os jovens conhecerem a música, é o detalhe que pode fazer toda a diferença na vida deles.  Formado em 1999, o grupo Bandolim Elétrico, composto por Ney Marques (bandolinista), José Antônio Almeida (pianista) e Cássio Poletto (violinista), era contratado para fazer shows em praças e igrejas. E, apesar de o formato não ser destinado ao público infantil, eram justamente as crianças que, ao final, iam para atrás do palco onde tiravam fotos e contavam sobre a satisfação provocada pela experiência que tiveram. Foi a partir dessas experiências que surgiu a ideia de reunir música e jovens.

Idealizado pelo músico e produtor musical, Ney Marques, o projeto Música Educa surgiu no final de 2017 Foto: De Fatho/ comunicação

A segunda fase do Música Educa quer trazer oficinas com uma mistura de ritmos musicais, como o hip hop, já que a principal proposta é levar ao público infantojuvenil um resumo da história da música, desde os clássicos até compositores populares, exaltando a proximidade entre ritmos criados, musicalidades, instrumentos e até mesmo trazer uma percepção positiva para a carreira de músico. O grupo Bandolim Elétrico procura trazer essas adaptações dos clássicos para um ritmo mais atual para que os jovens percebam que música clássica também pode ser interessante – um exemplo é a adaptação que fizeram de peças de Antonio Vivaldi para o hip hop.  O projeto é destinado a jovens de todas as idades dos CEUs, mas eventualmente os parentes dos alunos acabam se envolvendo também nas oficinas e isso é intencional, pois os pais possuem papel fundamental na compreensão do funcionamento de iniciação musical e para entender os benefícios que a música traz para a formação de uma criança. É preciso incentivar a sensibilidade desses pais para que percebam as potencialidades de seus filhos na música ou em outras áreas artísticas. “A música traz uma capacidade de socialização entre as pessoas e abre a mente para você desenvolver emoções”, explica Ney Marques, do Bandolim Elétrico.

O projeto, segundo Marques, valoriza a importância da música na formação desses jovens. Com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, da Faculdade Souza Lima e do projeto social Meninos Diamantes, a segunda fase do Música Educa contará com aulas gratuitas de flauta doce com o professor Rafael Beck, ministradas no YouTube. A intenção é que essas aulas continuem acontecendo nos próximos anos, mas com instrumentos diferentes, como piano e percussão – trata-se de uma forma de ampliar o projeto além das oficinas, que acontecem apenas um dia na semana em cada escola e tem duração de 1h30 min. Serão doadas três flautas doce e um violão de nylon para cada escola, acompanhados de um livro básico com o método de aprendizagem para iniciantes. Segundo o grupo Bandolim Elétrico, o objetivo do projeto é tentar mudar o quadro social dessa juventude das periferias. 

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