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Projeto recupera obra sinfônica de Tom Jobim

Iniciativa de Mario Adnet e Paulo Jobim, filho do compositor, inclui estréia de peças inéditas, Lenda e Prelúdio, além da restauração e ampliação de partituras originais: Sinfonia Brasília e Bangzália

Por Agencia Estado
Atualização:

Toda a obra sinfônica de Tom Jobim será gravada no início de dezembro por uma orquestra de 68 músicos (pinçados do quadro da Sinfônica do Estado de São Paulo) regidos pelo maestro Roberto Minczuk em dois concertos, nos dias 9 e 11, na Sala São Paulo. O projeto, de autoria de Mario Adnet e Paulo Jobim, filho do compositor, inclui a estréia de peças inéditas - Lenda e Prelúdio -, além da restauração e ampliação de partituras originais de obras como a Sinfonia Brasília e Bangzália. O material será lançado em CD duplo e DVD no início de 2003. Mario Adnet - que também participará, ao lado de Paulo Jobim, ao violão, completando uma equipe de músicos que ainda inclui uma banda de base formada por Duduka da Fonseca, Marcos Nimrichter e Zeca Assumpção - conta que a idéia do projeto é antiga. "De certa forma, nem é nossa. O próprio Jobim provavelmente queria fazer isso, mas não conseguiu", diz. De qualquer forma, há cinco anos Adnet pensa sobre um modo de resgatar as obras. "Cheguei a diversos formatos, mas foi há dois anos, quando comecei a trabalhar com Paulo Jobim, que as coisas começaram a acontecer." Além da recuperação de algumas obras, o projeto Jobim Sinfônico prevê a ampliação de arranjos originais para Orquestra Sinfônica. "Algumas gravações que o próprio Jobim fez, do próprio bolso, possuíam um número menor de instrumentistas, até mesmo por questões financeiras. Então, ele reduzia a orquestração, sempre buscando soluções criativas, visando um equilíbrio perfeito, como no disco Matita Perê", diz Adnet, lembrando que a orquestra que participará do projeto possui cerca de 47 cordas, enquanto a usada naquele disco possuía apenas 17. No início do mês, os participantes do projeto - que está sendo bancado pelo Ibope - reuniram-se para alguns ensaios preliminares, tendo como objetivo, segundo Adnet, ter uma noção exata do que faltava. "Tem sido um trabalho bastante complicado seja no processo de juntar pedaços dispersos de arranjos, na hora de ampliar algumas orquestrações, ou mesmo de digitalizar todo o material, pois algumas notas acabam se perdendo, então é extremamente importante ter a chance de, ao longo do processo, poder checar se o trabalho está funcionando." Concertista - Mario Adnet afirma que a produção sinfônica ocupava uma parte bastante importante, talvez até a mais importante, da vida de Tom Jobim. Ele lembra, por exemplo, que quando começou a estudar piano, ainda jovem, com a célebre Lúcia Branco (professora também de Nelson Freire), pretendia seguir a carreira de concertista. "Mas tinha a mão pequena, o que poderia ser um impedimento." De qualquer forma, foi com Lúcia Branco que entrou em contato direto com a música de Bach, Beethoven, Chopin, Debussy, Ravel. Adnet faz referência, também, ao fato de que Jobim flertou desde cedo com a idéia de compor, estudando desde os 16 anos com o compositor e regente Paulo Silva, figura bastante admirada por Villa-Lobos. O compositor das "Bachianas", aliás, é indicado como uma das grandes influências do trabalho de Tom Jobim, por mostrar, de certa forma, como a linha entre o erudito e o popular pode, em muitos casos, ser mais uma abstração - muitas vezes sem sentido - do que algo que se possa verificar de fato na prática. E, pesando todas essas influências, como definir este Jobim Sinfônico? Adnet diz que o que mais lhe chamou a atenção ao longo destes anos é que "a modernidade dele sempre esteve com ele, desde o início". "Todos falam do período da eclosão da Bossa Nova, mas ele já era moderno antes disso." Adnet também critica a classificação de Jobim como um jazzista, diz que "a música dele é difícil de improvisar". "Sua música é diferente do jazz, mas cabia no jazz norte-americano, estabelecendo um padrão que até hoje é objeto de estudos." Todas as partituras relacionadas no projeto, assim como arranjos de Claus Ogerman, Nelson Riddle e do próprio Adnet, serão editados e disponibilizados para instituições do Brasil e do exterior.

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