Produção erudita de Tom Jobim vira disco

Um longo projeto de resgate do trabalho musical erudito de Tom Jobim culmina com o lançamento em CD e DVD de Jobim Sinfônico

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Por Agencia Estado
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Dois concertos em dezembro do ano passado trouxeram à tona uma parte menos conhecida da obra de Tom Jobim ? sua produção erudita. As apresentações, realizadas na Sala São Paulo, foram o ponto culminante de um projeto levado à cabo por Mario Adnet e Paulo Jobim, filho do compositor. Incluiu a restauração de obras, assim como a estréia de duas outras, encontradas ao longo das pesquisas realizadas. O resultado chega agora ao CD e ao DVD, lançados pelo selo Biscoito Fino. "O projeto pretende revelar o lado menos conhecido do compositor. (...) Dedicar-se à música de câmara era um dos grandes sonhos de sua vida, sempre interrompido pelo sucesso da revolução musical que causou", diz a apresentação do disco. A influência da música erudita no trabalho de Tom Jobim já foi bastante comentada e analisada. Ele pretendia mesmo seguir a carreira de concertista, plano frustrado pela professora de piano, D. Lúcia Branco (mestra também de Nelson Freire), que chamou a atenção para "seu polegar muito preso". Ela foi uma das principais influências em sua vida como músico, apresentou-lhe a obra de Bach, Beethoven, Chopin, Debussy, Ravel e o incentivou a compor ? Imagina, valsa que depois ganhou letra de Chico Buarque, foi escrita durante seus estudos com a professora. Outra influência importante no jovem compositor foi o maestro austríaco radicado no Brasil Hans Joachin Koellreutter. Introdutor do dodecafonismo em nossas terras, ele foi o responsável pela formação de quase toda uma geração de músicos brasileiros; e, ao lado de Paulo Silva e Tomás Gutiérrez de Téran, foi um dos primeiros mestres de Jobim que, com ele, estudou harmonia e composição. É preciso ainda falar de Villa-Lobos: sua constante tentativa de união entre o popular e o erudito exercia grande atração no jovem músico. Ao todo, foram selecionadas e gravadas 14 obras. Duas das peças são inéditas em disco: um pequeno prelúdio de 1956 oferecido a Evandro Rosa (colega nas aulas de D. Lúcia) e só agora mostrado; e Lenda, encomendada por Radamés Gnatalli a Jobim, então com 28 anos. Além delas, há também Bangzália, partitura que havia sido perdida mas foi reconstruída por Adnet com base na gravação feita para a minissérie O Tempo e o Vento, na década de 80. A mais conhecida Sinfonia da Alvorada (encomendada para a inauguração de Brasília) ganhou novo registro, assim como Casa Assassinada, trilha da década de 70 para filme de Paulo César Saraceni, que fazia parte do disco Matita Perê. A peça que dava nome ao disco também foi interpretada, com a participação de Milton Nascimento. Em peças como estas fica clara uma das características do projeto, a ampliação da orquestração. Matita Perê foi gravado com pequena orquestra: por questões financeiras, nela atuaram 12 violinos e 5 violoncelos. Nos concertos do ano passado, a seção de cordas da orquestra era composta por 26 violinos, 7 violoncelos, 8 violas e 5 contrabaixos. Imagina, Orfeu da Conceição (com seus quatro movimentos ), A Felicidade, Saudade do Brasil, Canta, Canta Mais, Meu Amigo Radamés, Gabriela e Garota de Ipanema completam o programa.

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