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Presos formam banda de rock e lançam CD no Rio

CD demo da banda, gravado numa cela, com um show para cerca de 200 pessoas no teatro da penitenciária, onde eles têm até um fã-clube, foi lançado hoje

Por Agencia Estado
Atualização:

Os quatro foram condenados por latrocínio e estão há seis anos atrás das grades, na Penitenciária Lemos Brito (LB), centro do Rio. No fim do ano passado, decidiram sair da rotina da prisão e formaram o grupo Missionários do Rock, usando instrumentos emprestados por amigos. Hoje foi um dia especial para esses jovens de vinte e poucos anos, que comemoraram o lançamento do CD demo da banda - gravado numa cela - com um show para cerca de 200 pessoas no teatro da penitenciária. Pelo menos lá dentro eles são considerados ídolos e já têm até um fã-clube - acabam de ganhar o festival de bandas formadas em presídios do RJ. O show de hoje contou com a presença do baixista Renato Rocha, que gravou os dois primeiros discos da Legião Urbana, banda cultuada pelos detentos do LB. Ele foi convidado pelo empresário da banda, Arthur Nogueira, um amigo do guitarrista André Daltro que já foi técnico de som da Plebe Rude, de Nando Reis e do Afro Reggae. Daltro, de 25 anos, líder da banda, foi preso quando tinha 19. "Foi um acidente. Saí para me divertir e um amigo meu mexeu com uma menina que estava com um policial civil", conta. O policial foi morto e ele, condenado como co-autor do crime. Os amigos dizem que testemunhas foram compradas para enquadrá-lo no crime de latrocínio (roubo seguido de morte), cuja pena é de 20 anos. "A cadeia é um lugar onde qualquer um pode vir parar. Sempre trabalhei e me diverti. O que me trouxe foi uma pedra no caminho." O baixista Luciano Wanderley, de 26, está há seis anos e sete meses na prisão. "Saí para roubar uma cooperativa de taxistas com uns amigos só de onda, foi safadeza mesmo, e deu no que deu", diz ele, que até o fim do mês terá o direito de progredir para o regime semi-aberto. "Aqui dentro foi bem proveitoso. Me formei em cursos de informática, conheci a música e larguei os vícios. O crime não compensa", conta. "Só queremos uma oportunidade", diz o vocalista Paulo Geovani, de 28. Para ele, a melhor maneira de conseguir aprender alguma coisa dentro da prisão foi se envolver com a música. "A cadeia não existe só para formar criminosos", diz o baixista Renato de Souza. As músicas da banda falam sobre esperança, honestidade, arbitrariedade e hipocrisia, entre outras coisas. Aguardado para o lançamento do CD, o secretário estadual de Direitos Humanos, João Luiz Pinaud, não compareceu. "Agora, o sistema penitenciário tem como norte os direitos humanos", disse a subsecretária Wanda Ferreira. A banda tem um site na internet, ainda em construção: www.missionariosdorock.hpg.com.br.

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