Prêmio Visa: intérpretes roubam a cena dos compositores

Ceumar, Fabiana Cozza, Mariana Nunes, Celso Sim e Ilana Volcov deram brilho e colorido especial às canções de Leandro Medina, Vitor Santana e Mário Sève

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Por Agencia Estado
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O 9.º Prêmio Visa de Música Brasileira realizado pela Rádio Eldorado, é dedicado aos compositores, mas quem ganhou relevo na segunda eliminatória, ontem no Sesc Vila Mariana, foram os intérpretes. Ceumar, Fabiana Cozza, Mariana Nunes, Celso Sim e Ilana Volcov deram brilho e colorido especial às canções de Leandro Medina, Vitor Santana e Mário Sève. O toque de contraste ficou com Totonho e os Cabra, não apenas no quesito vocal, mas pela sonoridade mais tosca, com programação eletrônica e guitarra, e pelo senso de humor. Antes mesmo de se apresentar, Totonho já chegou fazendo troça quando a mestre-de-cerimônias Roze de Oliveira lia seu currículo, em que consta que ele fora vendedor de buchada de bode na infância. Depois de um tempo nessa função, ele acabou bodeado. "Porque tinha um código em casa: quem não vendesse tinha de comer a buchada", disse provocando gargalhada geral. Sem perder o fio da navalha verbal, foi rápido na resposta quando Roze perguntou sobre seu processo de criação, fazendo trocadilho com a produção dos caprinos. "Componho muito a partir das palavras, vou tangendo elas, vou formando rebanhos, mas nenhuma ovelha pula a minha cerca, porque passo a peixeira nelas", arrematou. Já no show, provocou nova onda de risos quando, por exemplo, soltou um mugido no meio daquela que apresentou como "uma música triste": Abalada. Totonho e seus "cabra" (violão, baixo, guitarra e programações eletrônicas) abriram o set com o coco eletrônico sideral Jaspion do Pandeiro. Nas outras, o compositor expôs sua verve poética inusitada em versos como "os tubarões de Pernambuco não toleram surfistas" (da ciranda Nhén Nhén Nhén) ou "o curandeiro é o hospital mais perto de um brasileiro" (do rock funkeado Pajé). Antecedendo as apresentações, o programa começou com a voz de Roze em off dizendo um texto em homenagem ao ator Raul Cortez (morto na noite anterior) e um único foco no centro do palco onde ele representou Rei Lear. A parte musical abriu com belas vozes femininas, interpretando canções de Leandro Medina. Com graça e doçura contagiantes, a mineira Ceumar foi a primeira a pisar no palco e depois se confessou nervosa com a responsabilidade de ser a primeira da noite. Cantou lindamente Não Sai de Mim (que traz referência a Chega de Saudade) e Mina Banto, abrindo caminho com delicadeza para Fabiana Cozza, muito à vontade, receber o santo em Xangô te Xinga e Pretinha, cheias de uma sensualidade baiana, com voz firme, encorpada e macia ao mesmo tempo. Em seguida, veio Totonho. Depois do intervalo, o mineiro Vitor Santana, um dos mais inspirados compositores mineiros da nova geração. Com uma formação interessante de violão, pandeiro, escaleta e clarone, ele abriu o set cantando sozinho a bela Teixeira, de influência nordestina. Depois, sem pandeiro e com o piano de Flávio Henrique, recebeu Mariana Nunes para um belo dueto na valsa camerística Dois Momentos, a delicadeza dela contrastando com a aspereza dele. Referências ibéricas afloraram em Sol Aberto e em Abra-Palavra, com arranjo que incluiu bateria, imprimiram seu sotaque mais característico da música de Minas. O mesmo grau de sofisticação e diversidade marcou a apresentação das quatro canções de Mário Sève em parceria com Guile Wisnik. Os arranjos reuniram instrumentos acústicos: piano flauta, saxofone, contrabaixo, violão e cello, os dois últimos a cargo de Mário Manga. A interpretação sóbria e ao mesmo tempo provocativa, com detalhes de procedimento teatral sutil, de Celso Sim marcou a modinha Capa Rosa e o samba Torres de Marfim. Ilana Volcov deu conta da intrincada Damasco e os dois encerraram a programação em dueto na bela Toada, momento de grande beleza, que entusiasmou o público.

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