Polícia dá um "help" aos Beatles

As 500 fitas com 120 horas de gravações inéditas do grupo, apreendidas em Londres, já eram conhecidas dos fãs. Mas toda toda esta publicidade pode favorecer o lançamento oficial do trabalho pela EMI

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Por Agencia Estado
Atualização:

O que se ouviu primeiro foi um estrondo: cinco gatunos que pirateavam material dos Beatles na Europa foram presos pela polícia inglesa com as mãos em uma relíquia. Segundo as autoridades, foram apreendidas 500 fitas com uma média de 120 horas de gravações, suficientes para gerar 17 CDs inéditos. Os nomes dos criminosos não foram divulgados e, sobre o material, só há informações de que se tratavam de gravações realizadas em janeiro de 1969. Mas a polícia inglesa ou está mal informada sobre o patrimônio histórico de seu país ou está sendo laranja para uma bela jogada de mercado. É verdade que as fitas são dos Beatles e que o material é reluzente, mas, ao contrário do que divulga, os policiais não descobriram a Arca de Noé. Há cópias deste material com fãs do mundo todo. No Brasil, elas são até comercializadas em um câmbio negro. O problema é que os direitos autorais desse material são da Apple, o escritório central dos Beatles, que nunca autorizou sua comercialização. Quem esses policiais podem estar ajudando sem saber é a própria gravadora dos Beatles, a EMI. O escândalo daria mais força para convencer a Apple de que este é o momento para a liberação do material. O episódio traz à superfície uma série de covers, improvisações, trechos de canções e takes não aproveitados das gravações do projeto Get Back, registrado durante 29 dias de janeiro de 1969, quando o quarteto entrou em um estúdio de Londres para tocar e ser filmado. Get Back era uma tentativa dos Beatles de voltar às raízes do rock-and-roll - por isso a presença de covers de Carl Perkins, Buddy Holly e Chuck Berry entre as canções. O projeto, que incluiria um álbum e um vídeo, foi finalizado em um clima pesado entre os integrantes e ninguém gostou do resultado. O grupo engavetou a idéia e foi fazer um outro álbum, Abbey Road, ainda em 69. O projeto Get Back virou o disco Let it Be depois que John Lennon e George Harrison entregaram as fitas originais nas mãos do produtor Phil Spector, que aproveitou o material rejeitado para lançar o álbum de novo nome. As sobras apreendidas das gravações de Get Back são de um período que os Beatles pagariam para não viver. O quarteto anunciaria seu fim logo depois. As fitas recuperadas pela polícia inglesa foram anunciadas como "as últimas preciosidades de um grupo que tem um lugar único na história da música". As cifras que envolvem qualquer lançamento dos Beatles explicam as doses de exagero. Os rapazes se separaram há mais de três décadas e ainda movimentam R$ 200 milhões por ano. A Apple, acostumada a levar décadas para aprovar o lançamento de um projeto, deve ser mais rápida para fazer chegar às lojas DVDs e CDs dos restos daquele 1969. A publicidade foi cortesia da polícia inglesa.

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