"Pietá" mostra uma nova revolução

Milton recupera a capacidade de harmonizar tradição e modernidade, com a participação de intérpretes, autores e instrumentistas jovens

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Por Agencia Estado
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Antes de mais nada: Pietá é o melhor disco de Milton Nascimento desde o segundo volume do Clube da Esquina, lançado em 1978. Sem risco de opinião apressada, é quase tão bom quanto os dois Clube da Esquina e ainda quanto os volumes gêmeos Minas e Geraes, do início dos anos 70. Não por coincidência, Pietá aproxima-se dos trabalhos mencionados - por uma série de motivos, da perfeita harmonia alcançada na síntese do regional com o universal (coisa que Milton não conseguiu fazer, nos anos 80 e 90) ao frescor de modernidade obtido com a participação de intérpretes, autores e instrumentistas jovens. Os autores jovens em pauta são, alguns, descendentes de Milton, filhos musicais do Clube da Esquina que vêm trabalhando em espaços alternativos e agora, como reconhecimento do influenciador maior, talvez venham à luz, com suas obras já magníficas - é o caso de Flávio Henrique, autor (em parceria com Chico Amaral, mais conhecido por sua participação como letrista e músico no grupo pop Skank) de Casa Aberta. Há outros: Bena Lobo, filho de Edu Lobo, Kiko Continentino, e há as vozes formidáveis de cantoras que também estão na estrada cantando, infelizmente, para poucos: a paulista (de Santa Rosa do Viterbo) Simone Guimarães (que está terminando de gravar o quarto disco), a belo-horizontina Marina Machado (com discos-solo e outros em parceria com Flávio Henrique), Maria Rita Mariano (filha de Elis Regina, ainda sem disco, maduríssima e fazendo lembrar a mãe em Voa Bicho, de Telo e Márcio Borges). Disco de cordas dedilhadas, sanfonas e tambores, Pietá registra, da tradição do Vale do Jequitinhonha, o Beira-Mar Novo recolhido e adaptado por Frei Chico, canto que dá nome ao único CD do Coral dos Cantadores do Vale, lançado pela Lapa Discos e já fora do mercado, para azar da cultura brasileira. Não é uma volta ao Clube da Esquina, mas sua recriação para os dias de hoje, propondo nova revolução, que Milton Nascimento ainda pode orientar - os nomes e as obras estão dados, como fez nos anos 70 e mudou a MPB.

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