PUBLICIDADE

Pianista brasileiro radicado na Suíça toca em SP

Ricardo Castro apresenta-se na quinta e no sábado com músicos da Osesp, explorando repertório camerístico de Gallet, Scriabin, Poulenc e Almeida Prado

Por Agencia Estado
Atualização:

Dono de um currículo invejável, que inclui trabalhos com alguns dos principais maestros e orquestras do mundo, o pianista brasileiro radicado na Suíça, Ricardo Castro, faz nesta quinta-feira e sábado apresentações com músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), na Sala São Paulo. Parte do Projeto Criadores do Brasil, os concertos desta semana exploram o repertório camerístico, com obras de Luciano Gallet (Suíte sobre Temas Negro-Brasileiros), Almeida Prado (Cartas Celestes - Livro I), Alexander Scriabin (Sonata n.º 4 op. 30) e Francis Poulenc (Sexteto). Luciano Gallet, grande promessa brasileira no campo da composição erudita, morreu muito cedo, aos 38 anos. Sua obra foi preservada graças ao trabalho de Mário de Andrade que, em 1934, três anos após a morte do compositor, reuniu ensaios, composições e escritos de Gallet no livro Estudos de Folclore. Suíte, escrita para piano, flauta, oboé, clarinete e fagote, apesar de tipicamente européia, contém elementos essencialmente brasileiros, fruto de seu trabalho com o folclore nacional - foi ele o responsável pela criação da cadeira de Folclore do Instituto Nacional de Música. A peça de Almeida Prado escolhida para os concertos é a primeira parte de uma série de seis grandes obras para piano encomendada ao compositor pelo Movimento Mário de Andrade. "É uma peça bastante exaustiva fisicamente", afirma Castro, em entrevista. A escolha de obras de Scriabin e Poulenc para completar o programa não foi guiada pelo acaso. Gallet foi fortemente influenciado por Poulenc e outros autores europeus. Da mesma forma, Almeida Prado - que em Cartas Celestes busca representar corpos celestes e seu brilho - encontra espelho no trabalho de Scriabin, obcecado pela construção de partituras que dialoguem com o público por meio de uma linguagem cósmica. Carreira - Castro iniciou sua carreira muito cedo: aos 8 anos, dera seu primeiro recital, na Bahia, seu estado natal. Aos 20 anos, estudante da Universidade Federal da Bahia, ficou imobilizado por causa de uma greve de professores. "Um músico não pode ficar esperando pela greve, ainda mais quando tem 20 anos", lembra. Aluno de Esther Cardoso, foi dela que surgiu a idéia de ele viajar para a Europa. "Queria vir para o Sul do País, mas ela insistia que a situação por aqui também era bastante confusa e que meu futuro estava na Europa." Pôde, no entanto, acompanhar de perto o trabalho de alguns dos integrantes do Grupo da Bahia, que teve em Lindembergue Cardoso sua principal expressão. Partiu, então, para a Europa. "Cheguei na Europa em uma idade bastante complicada, pois ainda não tinha diploma universitário, o que tornara a minha entrada nos conservatórios algo complicado." Estudou na Europa com Maria Tipo e Arpad Gerecz e logo passou a receber prêmios por todo o continente, impulsionando sua carreira no exterior. Em 93 tornava-se o primeiro músico latino-americano a ganhar o primeiro prêmio no Leeds International Piano Competition, na Inglaterra, um dos mais concorridos do gênero. E, desde então, tem vivenciado uma carreira com grandes maestros e orquestras e com um repertório de gravações considerável, com destaque para o conjunto de cinco CD´s dedicados a Chopin (ArteNova-BMG), de quem é prestigiado intérprete, em que ele executa a integral dos Noturnos, os dois Concertos, as quatro Baladas, as Sonatas Op. 35 e Op. 58, as três Polonaises e as Valsas Op. 64. Formação - As andanças pelo mundo da música fizeram com que Castro entrasse em contato com diferentes formas de gestão artística e administrativa. No que diz respeito ao Brasil, ele aponta a má formação e a falta de incentivos como as possíveis causas da condição "escabrosa" das orquestras nacionais. "Muitas vezes, músicos brasileiros alcançam reconhecimento e postos de destaque no cenário internacional e, por puro egoísmo, não compartilham com jovens seus conhecimentos." Postura que, para ele, é algo sem sentido. "Por que eu vou querer ser o único pianista brasileiro conhecido na Europa?", diz. "Quero que, cada vez mais, haja músicos brasileiros fazendo sucesso em todo o mundo, pois isso cria referência e facilita o acesso de estudantes do País em conservatórios de outros países." Professor no Conservatório de Freiburg, na Suíça, Castro esteve, na semana passada, em Nova Friburgo, selecionando um músico para levar para a Suíça, onde ele terá a possibilidade de estudar durante seis meses. "Se não for assim, os jovens músicos não terão possibilidade de ir para fora porque, para conseguir bolsas do CNPq e da Capes, é preciso ter diploma universitário e, com 20 e poucos anos, fica muito tarde para deixar o País." Música de Câmara - Músicos da Osesp e solos do pianista Ricardo Castro. Amanhã às 21horas. Sábado, às 16h30. De R$ 10,00 a R$ 30,00. Sala São Paulo (Praça Júlio Prestes, s/n.º; 3337-5414).

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.