Phil Woods traz o bebop ao Free Jazz

Um dos bastiões do gênero, saxofonista apresenta-se na última noite do evento

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

À beira dos 70 anos (ele os completa no dia 2), o saxofonista Phil Woods toca na última noite do Free Jazz Festival, no Jockey Club de São Paulo, no domingo. É uma das grandes estrelas jazzísticas do evento, tendo tocado com Dizzy Gillespie, Quincy Jones, Clark Terry, Bill Evans, Michel Legrand, Thelonious Monk, com o Modern Jazz Quartet e na trilha do filme Blow Up, de Antonioni, entre outras peripécias. Derradeiro bastião do bebop na linha parkeriana, ele toca em São Paulo com seu quinteto, que inclui os músicos Brian Lynch (trompetista), Bill Charlap (piano), Steve Gilmore (baixista) e Bill Goodwin (baterista). Phil Woods não é, de maneira alguma, um ignorante em matéria de música brasileira. Muito pelo contrário: é quase um expert. Freqüentava a casa de Tom Jobim em Nova York e gravou, anos atrás, Astor & Elis, um disco em homenagem a Piazzola e Elis Regina, que considera "a maior de todas as cantoras". Gravou, entre outras canções do repertório da diva, Nada Será como antes (Milton Nascimento) e Dois pra lá, Dois pra cá (João Bosco & Aldir Blanc). Quando garoto, o sr. tomou lições musicais com Lennie Tristano. Pode-se dizer que ele foi uma influência? Phil Woods - Não, Lennie não foi uma influência, eu era muito jovem. Dizzy Gillespie foi uma influência, a principal. Ele é um gigante do jazz e também foi o meu melhor amigo. É a primeira vez que o sr. toca no Brasil? Não, estive aí em 1976, tocando com Dizzy. Estive em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Foi muito agradável. Encontrei Jobim, um dos meus grandes amigos, e também Elis Regina, João Gilberto. Dizzy foi incrivelmente influenciado pela música brasileira. O sr. também gravou um disco em homenagem a Elis Regina e Piazzola (Astor & Elis, pela Chesky Records), com Duduka DaFonseka na percussão. Como foi que aconteceu isso? Foi Jobim quem me apresentou a Elis. Quando ouvi sua música, fiquei pasmo. Ela é, para mim, a maior cantora de todas. Também conhecia muito Astor Piazzola, outro grande amigo. Então, foi muito natural para mim gravar um disco celebrando a arte desses dois amigos. Amo a música de Elis, ouço o tempo todo. Ela está até hoje influenciando jovens cantoras em todo o mundo. Aqui nos Estados Unidos, há toda uma geração que foi formada ouvindo ou sendo influenciada por Elis. Ao longo da carreira, o sr. manteve relações próximas com outros gêneros da música popular, com artistas como Carly Simon, Steely Dan e Billy Joel. Como o sr. vê o rap? Não conheço muito. Do que ouvi, tenho a dizer o seguinte: é música para garotos de 13 anos, não é para músicos sérios. Mas o sr. já esteve próximo do rock, não? Rock é música de dinheiro. É uma música de m... Eu prefiro uma música que tenha humanidade, que possibilite reflexão, que seja uma expressão artística. Como o sr. está vendo esse ataque dos Estados Unidos ao Afeganistão? O sr. apóia o presidente Bush? Ele é o meu presidente e vou dar o apoio que puder. Não há soluções mágicas para uma crise dessa proporção. É muito difícil saber o que fazer. Mas eu espero que a América saia disso amadurecida, que cresça com a crise. E que páre de apoiar ditadores, modifique sua política externa. Onde o sr. vive? Moro no condado de Monroe, que fica a 7 milhas a oeste de Nova York, na Pensilvânia. Naquela região onde caiu um dos aviões seqüestrados. O que o sr. vai tocar aqui em São Paulo? Vou tocar coisas antigas, músicas de Benny Carter, muito bebop, swingin´ jazz, e também algumas surpresas. Espero ver você por lá.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.