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Peter Gabriel volta com um show antigo

Peter Gabriel firmou-se como um músico de conceitos sofisticados. Depois de longa ausência dos palcos, inicia turnê Growing Up para lançar novo disco em shor francamente obsoleto

Por Agencia Estado
Atualização:

Peter Gabriel é uma instituição do rock. Depois de lançar 11 discos com a lendária banda de rock progressivo Genesis (da qual também participou Phil Collins), saiu em carreira-solo nos anos 80 e já lançou desde então dez álbuns sozinho. Firmou-se como um músico de conceitos sofisticados, amparados em máquinas e artefatos cênicos no palco - esteve uma única vez no Brasil, tocando no show da Anistia Internacional, no Parque Antarctica, em 1988, e foi muito aplaudido. Depois de uma longa ausência, Gabriel retornou aos palcos e lançou esta semana sua nova turnê, Growing Up, que promove o recém-lançado disco Up (Virgin/EMI Music). O show foi apresentado na quinta-feira no Madison Square Garden, em Nova York - aquele ginásio gigante onde Godzilla botava seus ovos de ´velociraptores´, no filme de Hollywood. No concerto, Peter Gabriel e sua filha, Melanie, cantam de ponta-cabeça, andando numa "gaiola" de ferro suspensa como se estivessem numa cápsula espacial sem gravidade; depois o cantor passeia de bicicleta pelo palco; entra numa bola de plástico gigante e canta pulando como num ovo domado. Gabriel continua fazendo parte daquela chamada "vanguarda voadora" dos anos 80, que ainda acredita que está rompendo dogmas com shows peripatéticos, cheios de móbiles, erguidos por cabos metálicos e com recursos visuais inéditos. Parece que não tem visto shows de boys bands como Backstreet Boys, Westlife e concertos como os de Britney Spears e Christina Aguilera. Seu conceito ficou francamento obsoleto com a produção megalomaníaca desses astros teens. Growing Up parece ser aquele tipo de turnê que nunca vai passar pelo Brasil, dada a dimensão e o custo de uma produção semelhante. "Eu tenho 52 anos, duas filhas maiores que andam comigo, porém também tenho um filho pequeno de 1 ano que não pode vir, meu pai tem 90 anos, de maneira que estou vivendo os extremos da vida, tenho uma consciência do tempo agora, de minha própria mortalidade. Quando a gente faz música não sabe se vai comover as pessoas agora ou se isso acontecerá amanhã", afirmou o cantor. Antes de abrir seu concerto, no entanto, Peter Gabriel veio ao palco e avisou o público de que este havia tomado a "decisão certa" ao vir até o Madison Square Garden naquela noite. E anunciou uma atração de abertura como há muito não se via no mundo da música negra: o grupo Blind Boys of Alabama. Com quatro cantores e um baterista, todos cegos, do Sul dos Estados Unidos, o grupo tem uma base gospel profunda e parece fundir a tradição do R&B de Ray Charles com o rock primitivo de Little Richard. O grupo, que lançava o disco Higher Ground, tomou a cena, com arranjos vocais maravilhosos para clássicos como House of the Rising Sun. Se os trouxessem ao Bourbon Street, certamente nunca mais os deixariam sair do Brasil. Gabriel também convidou ao palco dois artistas africanos que tocavam instrumentos primitivos e faziam vocalizações tribais. Tiveram menos sucesso, mas ambos participaram do show do cantor. O cantor inglês tocou acompanhado por Davis Rodhes na guitarra, mais o multiinstrumentista Richard Evans, Tony Levin no baixo, Rachel Z nos teclados, Ged Lynch na percussão e sua filha Melanie Gabriel nos vocais. Gabriel mostrou um conjunto denso de novas composições, amparadas por sucessos sedimentados, como Sledgehammer (que ele canta com um paletó de lâmpadas acesas, como Robert Redford no filme O Cavaleiro Elétrico). Entre outras canções, ele mostrou Red Rain, Secret World, My Head Sounds Like That, Animal Nation, Sky Blue, More than This, Mercy Street, Barry Williams Show e Signal to Noise. Peter Gabriel se define como "um maestro do entretenimento" e sente necessidade do conceito visual complementando a música. O problema é que seus comentários são um pouco demodê. Quando ele canta empunhando uma câmera de televisão, enquadrando a si mesmo, ao seu público e à sua banda, diz que quer mostrar que o espectador "se torna aquilo que ele assiste". Mas, na era dos reality shows, a discussão também parece ter evoluído, Gabriel faz um happening antigo, desprovido de contundência. "Quando eu estava na escola não era realmente bom em nenhuma matéria, de maneira que me enviaram ao departamento de orientação vocacional para ver para que eu serviria, ´o que vamos fazer com esse sujeito´", explicou. Então, conta, sugeriram uma série de atividades, como a fotografia e a arquitetura paisagista, duas coisas que ele efetivamente adotou e usa em seus trabalhos hoje. Um de seus trabalhos mais recentes foi a ópera futurista OVO, que inaugurou o Duomo de Londres. Também fez trilha sonora para um filme australiano que fala de um passado não muito distante naquele país, quando as crianças mestiças eram retiradas de suas mães para serem educadas como futuros serventes dos brancos ricos. Multiculturalista, engajado, politicamente consciente, Peter Gabriel precisa apenas acordar para ver que o mundo transformou em mercadoria trivial aquilo que ele usava como arma de originalidade nos anos 80. O repórter viajou a convite da gravadora EMI

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