Percussão abre o ano da Osesp na Sala São Paulo

Em três apresentações, Colin Currie interpreta uma peça de James MacMillan sob a regência de Marin Alsop

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Por João Luiz Sampaio
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Foi ainda bebê que Colin Currie descobriu a percussão. “Àquela altura, em um nível muito básico, obviamente. Eu adorava tocar tambor”, ele brinca. A coisa começou a ficar séria mesmo aos 6 anos, quando vieram as primeiras aulas. Aos 13, conta que descobriu a música clássica. “Naquele instante me dei conta de que seria músico”, lembra. E dez anos mais tarde, se tornaria um dos principais percussionistas do cenário internacional, dedicando-se, especialmente, à música contemporânea de autores como James MacMillan, de quem ele interpreta, a partir desta quinta, 10, em três concertos na Sala São Paulo, o Concerto n.º 2.

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As apresentações marcam a abertura da temporada da Osesp. A regência é de Marin Alsop, diretora musical da orquestra, que também a comanda na semana que vem (leia abaixo). Desta quinta, 10, a sábado, 12, o programa tem ainda Machine, de Jennifer Higdon, e a Sinfonia n.º 1 de Mahler. O destaque, no entanto, é o concerto de MacMillan, coencomendado pela Osesp. “É uma peça repleta de vida, de energia e, ao mesmo tempo, profunda”, diz Currie.

O percussionista conversou com o Estado na tarde de segunda, 7, na Sala São Paulo, ao lado de seu colega da Osesp, o percussionista e maestro Ronaldo Bologna. Os dois chamam atenção para a diferença que o Concerto n.º 2 guarda em relação ao de n.º 1. O primeiro foi um dos grandes sucessos de MacMillan. “Era uma peça mais angustiada, carregada de ansiedade”, afirma Currie. “Ela pede sempre novos graus de profundidade, vai cada vez mais fundo. Olhando para a partitura do n.º 2, a sensação é de que são mundos quase totalmente opostos. E há outro aspecto, que é o fato de que o primeiro foi escrito para orquestra de câmara”, completa Bologna.

O próprio compositor, em entrevista publicada no site da Osesp, trata dessa questão. Para ele, a nova peça, de alguma forma, beneficiou-se do que ele chama de “um alcance maior, mais robusto, e de uma paleta de cores mais amplas”, por fazer uso de uma orquestra sinfônica completa. Currie chama atenção ainda para a presença de um novo instrumento, o alufone, que combina sons do vibrafone e de sinos. Foi ele, aliás, que o apresentou a MacMillan. “É um som fascinante”, conta ainda o músico.

MacMillan teve importância fundamental na carreira de Currie. Ele lembra que foi após ouvir o seu Concerto n.º 1 que se deu conta da importância que a música nova poderia ter em sua trajetória. “MacMillan é um autor que sugere novas possibilidades, e isso me atrai nele, assim como em outros autores. O seu primeiro concerto me fez refletir sobre o que estava sendo feito de novo na arte musical e, especificamente, com relação à percussão”, ressalta o escocês. “A percussão está entre os instrumentos mais antigos e, ao mesmo tempo, seus intérpretes estão entre os mais interessados pelo novo”, garante Bologna.

O interesse pelo novo não se pauta por escolas ou tendências estéticas específicas. “É essa capacidade de ir além, de sugerir algo novo, que me interessa”, diz Currie, definindo o seu compositor ideal. “Mas é interessante encomendar obras a autores que não estão acostumados com a percussão, como aconteceu quando trabalhei com Einojuhani Rautavaara. O resultado, nesses casos, não costuma carregar vícios. E, além disso, o olhar fresco pode revelar ideias musicais surpreendentes. Meu gosto estético é amplo, mas, em todo o caso, a possibilidade de ser surpreendido é fascinante.”OSESP Sala São Paulo. Pr. Julio Prestes, 16; 3223-3966. 5ª, 6ª, 21h; sáb., 16h30; dom., 11h (grátis). R$ 42/ R$ 194 (5ª, ensaio aberto, 10h; R$ 10)Angela Meade será uma das solistas do concerto que a Sala SP recebe na programação da semana que vem Na próxima semana, a Osesp vai apresentar, sob regência da maestrina norte-americana Marin Alsop, uma das principais obras coral-sinfônicas do repertório: o Réquiem de Verdi. Escrita em 1874, é uma das mais importantes criações de seu autor que, grande mestre da escrita operística, emprestou enorme dramaticidade ao recriar musicalmente a missa dos mortos da tradição católica. 

Essa contradição entre obra sacra e obra dramática - que na música de Verdi se dissipa e se transforma em um todo coeso e original - chama de cara a atenção do ouvinte, como destaca a soprano norte-americana Angela Meade, uma das solistas das apresentações. “Para encontrar o equilíbrio entre esses dois mundos é preciso saber manter a urgência da música e do texto, o que vai manter o drama ao mesmo tempo em que será possível respeitar a seriedade do contexto sugerido pela peça”, diz ela, que terá ao seu lado a meio-soprano norte-americana Michelle De Young, o tenor ucraniano Dmitro Popov e o baixo francês Nicolas Teste. 

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Meade é um dos novos nomes da cena lírica internacional. Formou-se nos Estados Unidos e seus primeiros sucessos aconteceram no Metropolitan de Nova York. Autores como Donizetti e Rossini, do período conhecido como bel canto, foram fundamentais no início da sua trajetória. “No fundo, bel canto diz respeito à beleza do canto. Assim, não importa a época ou o compositor, para mim é fundamental ter em mente a beleza do som, à qual se soma a intenção dramática do texto”, explica ainda ela.

Angela Meade acaba de lançar um disco com uma ópera pouco conhecida de Donizetti, Le Duc D’Albe. Foi sua primeira gravação em estúdio. E ela se diz feliz por ter acontecido com uma ópera rara. “Descobrir músicas perdidas ou pouco tocadas é uma paixão que está presente em minha vida desde muito cedo. Tenho, claro, me preparado para o grande repertório mas, no fundo, estou sempre à espera de mais uma partitura obscura”, revela. Enquanto isso, seus planos incluem cada vez mais papéis de Verdi. E também de Wagner. “Ainda que Wagner não esteja nos meus planos imediatos, tenho certeza de que em algum momento nossos caminhos vão se cruzar”, acrescenta a soprano.

Bom ar O ar-condicionado do Municipal voltou a funcionar. No Facebook, o maestro John Neschling anunciou: “Que não seja este o motivo para que vocês percam o Réquiem de Brahms este fim de semana”.

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