PercPan reúne 5 mil em Recife

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Por Agencia Estado
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A oitava edição do PercPan - Panorama Percussivo Mundial - teve início ontem, na Praça do Marco Zero, no recuperado centro histórico da capital pernambucana. Durante mais de quatro horas, a partir das 21h15, cerca de 5 mil pessoas assistiram aos shows do Maracatu Nação Pernambuco, do grupo português de tambores Tocá Rufar, do Boi Bumbá (uma combinação dos bois rivais Caprichoso e Garantido, de Parintins, Amazonas) e do percussionista baiano Carlinhos Brown. O PercPan, criado em Salvador em 1994, vinha sendo realizado lá, até o ano passado, sempre no início de cada ano. Em 2001, a produção teve problemas com patrocínio, anunciou e cancelou algumas vezes a realização e, por fim, encontrou apoio financeiro em Pernambuco. Em Salvador, o festival ocupava o palco do Teatro Castro Alves. No Recife, foi para a praça, com entrada franca. A mudança de palco é importante porque afeta diretamente o conteúdo do festival, que vinha sendo considerado o mais importante encontro internacional de tambores. Ao ar livre, tudo tem de soar alto, não há espaço para sutilezas - ou, pelo menos, será mais difícil para a platéia perceber sutilezas. Melhor: aquela platéia espalhada pela praça não está ali para ver e ouvir sutilezas, mas para tomar parte de uma grande e barulhenta festa. Isso, em princípio, não é ruim. Mas o festival que começou na quinta e termina amanhã não é mais o mesmo. Pelo menos, na presente edição. A produção anuncia que, no ano que vem, o PercPan volta para Salvador, entre os dias 10 e 12 de abril. Até o elenco já está escalado - mas é segredo. Outra diferença em relação aos anos anteriores foi a saída do percussionisa Naná Vasconcelos da co-direção artística do PercPan (o outro diretor é o compositor Gilberto Gil, que permanceu no quadro, divindo, agora, a responsabilidade com o percussionista carioca Marcos Suzano). Naná afastou-se por motivos que não ficaram claros. Deixou escaladas as quatro atrações internacionais previstas para as três noites do Recife. Na quinta-feira, Gilberto Gil dedicou a Naná essas três noites. "Ele é responsável básico pela evolução do PercPan", disse Gil. "Que essas noites sejam um abraço no Naná." Dito isso, deixou a cena para a primeira atração da noite, o Maracatu Nação Pernambuco. Não é um grupo tradicional de maracatu, mas uma formação coreografada, formada por gente interessada na manifestação popular. É bonito - é difícil tornar feio um maracatu -, mas tudo vem estilizado demais, embranquecido demais. Ainda assim, não é ruim como o mix dos bois Caprichoso e Garantido, de Parintins. Batizado de Boi Bumbá, o mix foi formado especialmente para o PercPan. Ficou feio em dobro. Essa disputa dos bois, uma tradição de Parintins, sofreu drástica intervenção da indústria cultural, que pretendeu criar no Amazonas um pólo de atração turística tendo a música como ponta-de-lança. Para estabelecer uma comparação: o Boi Bumbá está para o bumba-meu-boi assim como o pagode de mercado está para o samba, ou a música sertaneja de butique para a música caipira de fato. O irrequieto Carlinhos Brown encerrou a noite, apresentando músicas de seu novo disco e alguns sucessos. Brown fez o que se esperava dele: tagarelou, pulou, não quis sair do palco. Mais uma vez, permitiu que a inquietude peripatética ofuscasse o inegável talento. Mas a platéia gostou. Digna do PercPan, de sua proposta original, só mesmo a apresentação dos nove músicos portugueses do Tocá Rufar. Eles resgataram do quase esquecimento a tradição milenar dos tambores de Portugal, tambores sem metal, só couro e madeira - tambores suaves, como os classificou o mestre-de-cerimônias Gilberto Gil. Numa apresentação curta, o grupo mostrou que há muito mais de ritmos portugueses na música brasileira do que se imagina. O repórter viajou a convite da organização do festival

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