Prestes a completar 60 anos, no próximo dia 7, o guitarrista baiano Pepeu Gomes comemora quatro décadas de carreira com vários projetos e algumas certezas. Entre os projetos, o relançamento de parte de sua discografia, já nas lojas sob a chancela da Warner Music. São oito álbuns, incluindo o Live in Montreux, de 1980, que o tornou conhecido pelo mundo, além de um disco até então inédito, o Eu Não Procuro o Som, de 1979 - todos vendidos separadamente, a partir de R$ 16,90. Entre as certezas, a de se sentir muito mais disposto agora do que na juventude. “Hoje minha qualidade de vida é bem melhor”, assegura ele. “Nunca fiz cirurgia em parte alguma, sou vaidoso, estou sempre cuidando da saúde, enfim, me sinto ótimo. Mais experiente e muito mais feliz.”
Ao JT, o músico - que aprendeu a tocar violão de ouvido quando criança, fez parte do histórico Novos Baianos, com Baby Consuelo, Moraes Moreira e companhia nos anos 1970, e que conseguiu manter brilho próprio na fase solo - fala da carreira, dos álbuns relançados e da responsabilidade de carregar até hoje a pecha de um dos melhores guitarristas do mundo.
Como nasceu o projeto de relançar parte de sua discografia?
Os meus fãs, após os meus shows, me cobravam muito. Eles me traziam os discos de vinil pra autografar e sempre me perguntavam quando ia sair minha discografia em CD. Então, resolvi relançar algumas das minhas obras com a Warner.
Qual a dificuldade em relançar os álbuns que ainda faltam?
Tenho outras obras em outras gravadoras, e não é tão simples assim, pois temos de agendar reuniões para conseguir a liberação.
Como surgiu a ideia de incluir no pacote Eu Não Procuro o Som?
Esse disco estava pronto na gravadora em 1979, quando fui convidado para ir ao festival de Montreux, pela primeira vez para gravar um disco ao vivo. Por isso, o disco se perdeu com o passar do tempo e, com a ideia do relançamento, ele foi achado. Resolvemos lançar agora.
Ainda dentro das celebrações de seus 40 anos de carreira, quais outros projetos vêm por aí?
Pepeu Toca Novos Baianos, em CD e DVD, será minha releitura musical da obra dos Novos Baianos. Lançar A Voz e a Guitarra do Brasil, com Elza Soares. Estou querendo também fazer a abertura da Copa do Mundo tocando o Hino Nacional na guitarra em um dos estádios onde se realizarão os jogos do Brasil. Sonhei com isso. E terminar meu CD que está sendo gravado em Los Angeles, na Califórnia, para o projeto de lançamento mundial do meu trabalho.
A canção Sexy Yemanjá (do disco homônimo, de 1993) voltou a tocar com a reprise de Mulheres de Areia, na Globo. Você percebeu, talvez, um público mais novo indo atrás de sua obra depois que a novela voltou ao ar?
Com certeza. No show, não posso deixar de tocar essa canção. O público canta junto e dança, e tem adolescente que se surpreende, pois não sabia que a música é minha. É maravilhoso ver os adolescentes, filhos dos meus fãs, descobrindo e curtindo meu trabalho.
Gilberto Gil foi uma pessoa muito importante na sua carreira, não é? Como ele influenciou você?
O Gil, com certeza, marcou muito o início da minha carreira. Eu fazia uns programas de TV em Salvador, e o Gil me viu tocando com minha banda, Os Leifes. Ele estava pra fazer o show de despedida dele e de Caetano no Brasil para ir morar em Londres. Então, foi até a minha casa e pediu ao meu pai para eu tocar com ele. Montamos uma banda e fizemos o show Barra 69. Na época, eu era baixista e, quando o Gil me deu de presente um disco do Jimi Hendrix, eu pirei e tirei todas as músicas daquele disco. Fui dormir baixista e acordei guitarrista. Descobri que me identificava era com a guitarra.
Sua filha mais nova, Isabella, tem 6 anos. Como foi para você voltar a ser pai depois que seus outros filhos já estavam adultos (Pepeu tem seis filhos com a ex-mulher Baby Consuelo)?
Pois é, já tinha ouvido o Eric Clapton comentar que ser pai após 50 anos é muito diferente, e realmente é! Acabei passando por essa maravilhosa experiência e é muito gratificante. A Isabella Shekinah e o Filipe (seu enteado, filho da atual mulher Simone) me renovam a cada dia. Eu até consegui assistir ao parto dela e foi uma experiência sobrenatural. Hoje tenho mais tempo de educar, dar mais atenção, enfim, hoje eu consigo participar de todas as fases da vida dela. Antes da Isabella Shekinah, eu já fazia tudo isso pelo Filipe, meu sétimo filho. Quando conheci a Simone, ele tinha 1 ano e 3 meses. Eu já amava cuidar dele, que, inclusive, neste mês, fez 15 anos. Então quando a Bella chegou ao mundo, eu já estava preparado pra trocar fraldas, fazer mamadeiras e etc... (risos).
Em 1988, você foi eleito um dos dez melhores guitarristas do mundo. Carregar esse título ainda é uma responsabilidade?
Ser considerado um dos dez melhores guitarristas do mundo na categoria World Music não valoriza somente o Pepeu e, sim, todos os guitarristas do Brasil. Sou muito exigente comigo e continuo estudando os instrumentos que toco quase todos os dias, pois sempre acho que, em cada show, eu poderia melhorar na performance. Não resta dúvida que é uma grande responsabilidade e também uma gratificação por tudo que fiz e que venho fazendo para levar o nome da música do Brasil para o mundo!
Discos relançados:
1979 - Eu Não Procuro o Som
1979 - Na Terra a Mais de Mil
1980 - Live in Montreux
1981 - Calor Humano
1982 - Um Raio Laser
1988 - Pedra Não É Gente Ainda
1989 - On The Road (instrumental)
1990 - Moraes e Pepeu no Japão
1993 - Sexy Yemanjá