Peça homenageia Clara Nunes no Rio

A intenção dos autores e produtores, os mesmos que há dois anos levaram ao palco a vida de Dolores Duran é reviver os shows da cantora que morreu há 18 anos durante uma cirurgia

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Por Agencia Estado
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Se, ao assistir à peça Clara Nunes - Brasil Mestiço, que estréia nesta quinta-feira no Teatro III do CCBB, você sentir vontade de cantar e dançar os sambas que estão no roteiro, não se acanhe. A intenção dos autores e produtores, os mesmos que há dois anos levaram ao palco a vida de Dolores Duran é reviver os shows da cantora e as rodas de samba em que ela garimpava seu repertório, cheio de clássicos. Mais que biografia, a peça é uma homenagem a Clara Nunes que morreu há 18 anos. Seus discos, quando relançados, esgotam-se em poucas semanas e seus sucessos ainda são cantados em shows e casas noturnas, apesar de ausentes das rádios. Foi, aliás, essa paixão por Claridade, como os amigos a chamavam, que deu origem ao projeto de levar sua vida e suas músicas para o palco. "Decidimos dar a coleção de 17 discos da cantora de aniversário a Ana Velloso, produtora do espetáculo e ela adorou", conta Gustavo Gasparini, que assina a direção e escreveu a peça com Ana Velloso e Vera Novello. Houve uma pesquisa imensa, facilitada pelo fato de a cantora ter dado muitas entrevistas e seu arquivo pessoal ser organizado pela família", conta Ana Velloso, que vai viver Clara no palco. Uma grande responsabilidade, já que a cantora unia voz vigorosa com performance que criou estilo. "Não tento imitá-la, mas depois de estudar muito sua vida, acho que consegui chegar perto da imagem que temos dela." Clara Nunes nasceu em Minas Gerais, em 1943, foi tecelã e tornou-se cantora na adolescência. Gravava boleros e sambas-canções sem muito sucesso até que, em 1968, num festival de música em Juiz de Fora, cantou Você Passa e eu Acho Graça uma volta de Ataulfo Alves à composição, amparado por Carlos Imperial, no auge por causa da Jovem Guarda. Foi um hit imediato mas ela ainda teria de brigar muito para escolher seu repertório. "Clara tinha de quebrar dois tabus, o de ser cantora, quando as gravadoras achavam que mulher não vendia disco e escolher o samba, um gênero que, mais uma vez, era considerado ultrapassado", conta Vera Novello. "Foi quando ela bateu o pé e lançou o elepê Claridade, de onde saiu o sucesso Contos de Areia, que vendeu quase 500 mil discos." Depois de Claridade e Contos de Areia vieram outros recordes de vendas e ela lançou compositores como Dona Ivone Lara (Alvorecer), Candeia (O Mar Serenou) ou Xangô da Mangueira (Quando Eu Vim de Minas). Ao mesmo tempo, Clara Nunes se preocupava com questões sociais e culturais. Em 1977, no auge do sucesso, abriu um teatro com seu nome onde se apresentavam sambistas e cantoras novas como Marina Lima. Num tempo em que as religiões africanas eram discriminadas, não hesitava em apresentar-se com figurinos trazidos das cerimônias de candomblé e cantar sambas inspirados em pontos de macumba. Sua morte, pouco antes de completar 30 anos, em abril de 1983, num pouco explicado incidente durante uma cirurgia, causou comoção nacional. Não só porque ela ficou em estado de coma durante quase um mês, mas porque estava no auge do sucesso. Seu velório, na quadra da Portela, parou o bairro de Madureira e atraiu mais de 50 mil pessoas. "Decidimos contar sua vida em cinco blocos e o difícil foi escolher as músicas; só com os sucessos, chegamos a mais de três horas de espetáculo. Então, decidimos apresentar 29 músicas inteiras e outras 15 como vinhetas", acrescenta Gasparini.

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