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Paulo Szot, da ópera aos musicais da Broadway

Com 'South Pacific', barítono estréia no Lincoln Center Theater, em NY, sua carreira em comédias musicais

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Por Ubiratan Brasil
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O barítono brasileiro Paulo Szot apresentava-se em uma ópera em Boston, nos Estados Unidos, abril passado, quando seu agente fez uma proposta tentadora: participar das audições para o musical South Pacific, que aconteciam na época em Nova York. Um dos principais cantores líricos do País, Szot percebeu ali a possibilidade de realizar um desejo antigo, o de estrelar um musical da Broadway. E, como exibe o tipo físico, o colorido vocal e uma energia cênica que o tornam idealmente talhado para criar o perfil do sedutor Emile de Becque, ele conquistou o papel com o qual finalmente inicia nesta quinta, 3, no Lincoln Center Theater, em Nova York, sua carreira em comédias musicais. Veja também: Ouça trecho da entrevista com Paulo Szot "De repente, minha rotina mudou completamente", conta Szot (pronuncia-se "xót"), que conversou com o Estado por telefone, durante uma folga dos ensaios. "Na ópera, há um descanso de um ou dois dias depois de cada apresentação, mas, neste musical, terei oito shows por semana, com folga apenas na segunda-feira. É um trabalho mais voltado para a atuação." Com isso, sua agenda virou de cabeça para baixo - ele foi obrigado a cancelar compromissos agendados, caso de Manon, de Massenet, em Marselha, e de duas produções na cidade espanhola de Valência: As Bodas de Fígaro, de Mozart, e Madame Butterfly, de Puccini, sob a regência de Lorin Maazel. O esforço, no entanto, compensa - concebido pela lendária dupla Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, South Pacific tornou-se famoso por tratar de racismo e relações inter-raciais ao contar a história, ambientada em uma ilha do Pacífico Sul durante a 2ª Guerra, da enfermeira Nellie Forbush (Kelli O’Hara) que se apaixona pelo elegante proprietário rural francês Emile de Becque (Szot), mas logo se separa ao descobrir que ele tem filhos mestiços. "Não posso fazer nada, isso (o racismo) nasceu comigo", justifica Nellie. Depois de estrear em 1949 e ficar quase cinco anos em cartaz na Broadway, o musical não foi mais montado, o que reforça a importância da nova versão, dirigida por Bartlet Sher. O papel de Paulo Szot foi criado para um dos mais destacados astros da ópera daquela época, o italiano Ezio Pinza (1892-1957), que cantou 750 récitas, em 22 temporadas do Metropolitan Opera, de Nova York. É pela sua voz que se ouve uma das canções mais célebres do musical, Some Enchanted Evening. A seguir, os principais trechos da entrevista do barítono brasileiro. O musical alterou muito sua rotina? Sim, vivo 24 horas em função do espetáculo. Apesar de não exigir como uma ópera, ou seja, eu não canto tanto como, por exemplo, em Bodas de Fígaro, a responsabilidade é enorme. É a primeira vez que atuo com texto falado, então meu grau de concentração agora é maior do que tudo já fiz na vida. Como foram as audições? Inicialmente, eu estava apenas curioso pela experiência, pois não acreditava que um estrangeiro fosse escolhido, especialmente na Broadway, em que o domínio é dos americanos. Mas, na primeira audição, eu já me convenci de que teria chance. Eles analisaram mais a interpretação, pois queriam um cantor de ópera que conseguisse atuar. Depois de escolhido, participei ainda de mais duas audições para escolher o meu par. Como é participar de um musical? Há uma exigência vocal diferente para um cantor lírico? A experiência é fascinante, pois atuamos com uma orquestra com 30 músicos, algo pouco habitual até para a Broadway. Vocalmente, não há muita diferença, pois South Pacific é um exemplo daqueles musicais escritos há 60 anos, ou seja, com uma concepção que se aproximava da ópera. Assim, não preciso cantar como nos musicais modernos. Também não tenho muita coreografia. E a expectativa é grande, porque temos casa lotada até junho. Como ficou sua carreira lírica? Ainda estou negociando minha participação em duas óperas: Sansão e Dalila, em setembro, em São Paulo, e La Bohème, em outubro, no Rio. Gosto muito de cantar no Brasil. Tenho compromissos agendados em 2009 e 2010, mas minha carreira tomou uma nova direção. Essa oportunidade em musicais vai abrir um novo caminho. Como você encara o preconceito na ópera contra o cantor lírico que atua em musicais? Aqui, nos Estados Unidos, também tem isso. É normal entre os puristas, que se fecham em seu mundo. Sempre fui aberto a todo tipo de música - no início da carreira, aliás, preferia musicais a ópera (fiquei emocionado ao assistir Chorus Line). Mas prefiro não falar nada. Cada um deve fazer o que julga ideal. Perfil de Paulo Szot Descendente de poloneses, Paulo Szot iniciou a carreira ao estudar música a partir dos 4 anos: piano, violino e depois o canto. Começou como tenor e depois passou para o registro mais grave de barítono. Com 18 anos, embarcou para a Polônia, onde aperfeiçoou os estudos vocais. Ingressou na Companhia Estatal de Canto Slask, do Grande Teatro de Varsóvia, no qual atuou durante quatro anos. Lá, experimentou pela primeira vez papéis que, mais tarde, formariam a base de seu repertório. Entre seus papéis na ópera, destacam-se Figaro no Il Barbieri di Siviglia (Rossini) e no Le Nozze di Figaro (Mozart); Escamillo, na Carmen (Bizet); Marcello em La Bohème (Puccini); Silvio em I Pagliacci (Leoncavallo); Lescaut, em Manon (Massenet); o protagonista de Eugene Onegin (Tchaikovsky); e Belcore, em L’Elisir d’Amore (Donizetti).

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