Paulo Padilha apresenta todas as suas faces em CD livro

Compositor paulista lança 'Na Lojinha de Um Real Eu Me Sinto Milionário'

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Por Julio Maria
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Se permitisse ser chamado de sambista, Paulo Padilha estaria na frente de uma ala moderníssima de São Paulo. Mas não. Ainda tímido, parece reverenciar demais a classe para colocar-se no mesmo lote. “Não é verdadeiro para mim começar um show cantando um samba da Portela, por exemplo”, diz, mesmo tendo na ficha corrida de 15 anos uma turnê com um totem portelense chamado Monarco e uma série de sambas autorais.

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Paulo Padilha transbordou ao território do samba assim que começou a pensar fora da caixa. A tradição ficou pequena para o cronista das surpresas em prosa e verso, que ao mesmo tempo soube preservar sementes de Noel Rosa, Assis Valente, Itamar Assunção e Bezerra da Silva colocadas ali quando criança. A cabeça a mil sustentada por anos de bacharelado em Música poderiam parir uma criatura hermética e cheia de academicismos não fosse sua vontade de falar com muita gente. O resultado é algo como: “Se um iPod de 120 gigas pode armazenar 34.285 canções, algo equivalente a 3.428 LPs, precisaríamos de aproximadamente 9 anos, 4 meses e 26 dias para ouvirmos todas as canções de um tocador de MP3 com 120 gigas de memória.” Um cálculo tão complexo quanto real e próximo que aparece em seu reggae de abertura Eu e Minha Ideias Geniais, um dos muitos pontos altos do disco Na Lojinha de Um Real Eu Me Sinto Milionário, lançado pelo selo Borandá que sai em formato CD livro e com uma narrativa em forma de crônica – que vale tanto para as canções do CD quanto para os textos do livreto.

Há momentos de sambas de breque escrachados de Moreira da Silva, como Eu Sou Ela Amanhã, nada simpático à memória da própria sogra, ou de um proposital verniz harmônico e vocal de Paulinho da Viola em Serrei as Pernas da Mesa (Serrei as pernas da mesa / e o braço do violão / Cortei a cabeça do prego / rasguei a pele do tambor / A unha de gato do muro / foi difícil de tirar / Estava firme e seguro / arranquei bem devagar).

Suas frases de efeito seguem desfilando em série e chegam ao limite que separa a graça conceitual do esculacho gratuito na versão em português de Summertime, uma adaptação mais do que livre, “traduzida” frase após frase. “Summertime – só me atrai / and the living is easy – de deslize em deslize / fish are jumping – viche, não adianta / And the cotton is hight – é decote demais.”

A personalidade artística imprevisível de Paulo Padilha chamou a atenção da Arts Midwest Foundation, uma organização que trabalha com música para jovens norte-americanos. Ao assistir a um de seus shows na Casa de Francisca, em São Paulo, um de seus mentores teve certeza de que Paulo Padilha era o homem certo para seu projeto internacional. Entre músicos e professores israelenses, chineses e indianos, ele foi o único brasileiro convidado a dar aulas sobre música a jovens e adolescentes em dez cidades do interior dos Estados Unidos. E ali, a porção sambista deve soar mais alto. “Em trio, vamos brincando com o som dos instrumentos até chegarmos ao nome de cada um.” Antes da viagem, Paulo segue fazendo shows para lançar seu projeto em São Paulo. Domingo (11), às 20h, ele se apresenta na casa Serralheria, na Lapa.

PAULO PADILHASerralheria Espaço Cultural. Rua Guaicurus, 857, Lapa. Informações pelo telefone: 6794.0124. Domingo, às 20 h. R$ 20.

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