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Paulinho e Gudin, juntos no palco

Após anos de amizade e admiração mútua, Paulinho da Viola e Eduardo Gudin vão dividir o palco pela primeira vez, a partir desta sexta-feira, no Sesc Pompéia

Por Agencia Estado
Atualização:

De um lado, o estilo requintado do músico carioca Paulinho da Viola. Do outro, a bossa nova genuinamente paulista de Eduardo Gudin. Em comum, a devoção ao samba de primeira qualidade, a admiração mútua e, agora, o teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo, onde vão se apresentar a partir de amanhã e até o início de fevereiro, sempre de sexta a domingo. É a primeira vez que Paulinho e Gudin se encontram num palco, após anos de amizade. É um momento único para quem for conferir o espetáculo. Se depender da vontade dos dois, vai-se travar um diálogo musical para lá de inspirador. O show seguirá o seguinte roteiro: Eduardo Gudin sobe primeiro ao palco, acompanhado de seu grupo - Toninho Pinheiro, na bateria, Lito Robledo, no baixo, Ronen Altman, no bandolim, Jorginho Cebiom, na percussão, além da cantora Luciana Alves. Abrirá a apresentação com alguns de suas famosas composições, como Verde (feita em parceria com o José Carlos Costa Netto), ou a inédita Sensação (em parceria com Luiz Tatit). E como bom paulista que é, o compositor prestará homenagem ao aniversário de São Paulo, com a canção Paulista (dele e Costa Netto) - uma espécie de hino de amor à cidade, que ficou famosa na voz de Leila Pinheiro. "Na Paulista, os faróis já vão se abrir/E um milhão de estrelas prontas pra invadir/Os Jardins onde a gente aqueceu/Numa paixão/Manhãs frias de abril", diz um trecho. Haverá outra declaração de amor à Paulicéia desvairada, na música Longe de Casa Eu Choro (dele e Paulo Vanzolini). Ele preparará o campo para o amigo carioca adentrar. Juntos então, Eduardo Gudin e Paulinho da Viola vão executar o samba Ainda Mais, composto pelos dois. Vale ressaltar que tal parceria endossa o respeito que Paulinho tem pelo trabalho do Gudin, já que poucas vezes o instrumentista carioca concede letras a canções alheias. Incluíram ainda no repertório do espetáculo três choros: Pensamento, de Gudin, que vai ser interpretado por Paulinho; Rosinha, Essa Menina, de Paulinho do Viola, que, por sua vez, será lembrado por Gudin; e Cochichando, de Alberto Ribeiro, Pixinguinha e João de Barro. Na terceira parte do show, Paulinho da Viola fica sozinho e livre para seguir um repertório próprio. Vai tocar Dança da Solidão, Retiro, Ruas Que Sonhei (composição de 1970, que há tempos ele não cantava), As Rosas não Falam (de Cartola), entre outras. O grand finale, quando Paulinho e Gudin voltam a se unir, ficará por conta dos sambas Velho Ateu (de Gudin com Roberto Riberti) e Timoneiro (de Paulinho). É um espetáculo feito ao gosto da dupla, que pôde pincelar as canções, particularmente, mais representativas. Segundo eles, a demora desse encontro nos palcos se deu puramente por incompatibilidade da agenda de ambos. Depois que partiu do Sesc o convite para reuni-los num mesmo show, os dois se entusiasmaram com o projeto. "Moramos em cidades diferentes e cada um tem seu trabalho, viagens", comenta Paulinho da Viola. "Temos uma afinidade grande, achei a idéia muito boa." Eles são amigos desde os anos 60. Eduardo Gudin lembra que começou a compor aos 16 anos. Dois anos depois, ouviu, pela primeira vez, um disco de Paulinho da Viola, trazido pelo tio. E se surpreendeu com a habilidade musical daquele sambista. "Passei a acompanhar a carreira de Paulo e foi uma revelação musical o estilo dele", diz. Mas só em 1969 ele se encontrou pessoalmente com Paulinho da Viola. Foi no festival de música da TV Record. Paulinho conquistou o primeiro lugar com a música Sinal Fechado e seu fã, Gudin, ficou em quarto lugar com Gostei de Ver (interpretada por Márcia), que acabou marcando-o como compositor de sambas. O "mestre" Paulinho também não lhe poupa elogios. "Ele tem dado uma grande contribuição com as obras que gravou. Gosto muito do trabalho dele", comenta. Ambos costumam - e gostam de - dividir o palco com outros músicos. Paulinho da Viola já esteve em shows com diversos músicos, entre eles, Elton Medeiros, os integrantes do Nó em Pingo d´Água, Antônio Nóbrega e Toquinho. Para Gudin, então, as parcerias em shows são uma constância, já que ele é um compositor e instrumentista, não um intérprete. Mônica Salmaso, Leila Pinheiro, Vânia Bastos e o próprio Vanzolini são só alguns nomes que já o acompanharam. Para eles, não importa a procedência do samba. Seja do Rio, de São Paulo, ou de outro Estado brasileiro qualquer, o samba se comporta como universal. Guardada as devidas proporções, já que o gênero acaba recebendo influências muito específicas de região para região. "Acho que há poucas diferenças e a graça é ser assim. O que se vê de diferente é na linha de compositores", pondera Paulinho. "No Rio, temos inúmeros materiais sobre escolas de samba. Por que não se escreve livros sobre o carnaval, as escolas de samba de São Paulo?" Eduardo Gudin acredita que o samba seja universal, mas sempre com a cidade do Rio como referência ou ponto de partida. "Cada local tem suas características, umas regiões com mais samba, outras menos. Adoniran Barbosa, por exemplo, fazia um samba típico, quase um dialeto", afirma ele. Discussões à parte, o show de Paulinho da Viola e Eduardo Gudin é samba e ponto final. Merece ser conferido. Paulinho da Viola e Eduardo Gudin. Amanhã e sábado, às 21 horas; domingo, às 18 horas. De R$ 10,00 a R$ 25 00 e R$ 12,50 (estudantes). Teatro do Sesc Vila Mariana. Rua Pelotas, 141, em São Paulo, tel. (11) 5080-3000. Até 2/2.

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