Ao menos um disco dos Beatles deve trazer pesadelos a Paul McCartney. Ele tinha 24 anos quando, por brincadeira ou provocação, os quatro cavaleiros de Liverpool estamparam na capa do álbum de 1966, feito para os Estados Unidos e Canadá, uma foto em que apareciam vestidos como açougueiros, cobertos por pedaços de carne vermelha e partes de duas bonecas esquartejadas. Sobre o colo de um sorridente Paul, havia algo parecido com uma perna humana. As rádios não viram graça e boicotaram o disco. A gravadora recolheu o que conseguiu para trocar a foto.
Hoje, Paul tem 72 anos e prefere visitar uma exposição de Yoko Ono a degustar um churrasco. Sente mais do que enjoo diante de qualquer tonalidade de carne desde o dia em que estava com os amigos em uma fazenda observando os cordeiros brincarem quando uma ficha lhe caiu. “Nós percebemos que estávamos comendo pernas de cordeiro enquanto víamos isso... E dissemos: ‘Opa, esta é a perna de um deles!’”, contou. Isso foi há 30 anos, quando Paul se tornou vegetariano. Há cinco, lançou a maior ofensiva que um popstar já empreendeu contra o consumo de animais.
O Meat Free Monday, ou Segunda Sem Carne, tornou-se a bandeira mais visível de Paul. Depois de ler um documento elaborado pela ONU chamado A Enorme Sombra do Gado, sobre o impacto da indústria animal na produção de gases com efeito estufa, começou a escrever cartas para chefes de Estado em busca de respostas sensíveis. Seu programa acabou sendo adotado por escolas de vários países que retiraram a carne de seus cardápios às segundas. E aos que se perguntavam “mas o que é que eu vou comer na segunda sem carne?”, elaborou um livro com receitas vegetarianas. Mas Paul quer mais.
Com o pretexto de comemorar cinco anos do projeto Meat Free Monday, vai fazer um vídeo com a participação dos fãs. Em seu site, pede que os interessados escrevam em um cartaz uma ou duas frases da música tema da campanha, também chamada Meat Free Monday, e se fotografem ao lado dele. As fotos mais criativas, que devem ser enviadas pelo site até 22 de agosto, serão colocadas no vídeo, com a canção ao fundo.
Paul usa a força que sabe que tem para seduzir três gerações de fãs com uma proposta quase irrecusável para convencê-las de que matar bichos não é legal. A letra da canção parece ter sido feita em três minutos, mas tenta falar com um universo mais abrangente do que o mundo dos vegetarianos. Passa pelo aquecimento global, pelo aumento do nível dos oceanos e pelo derretimento das geleiras. Ao fim de dois minutos e 55 segundos, um contrafilé acebolado é transformado em uma bomba atômica.
Paul foi delicado quando gravou um vídeo para tratar do assunto. “Tente tirar a carne apenas um dia da semana. Isso vai reduzir os bilhões e bilhões de animais que são abatidos para o nosso consumo todo dia, toda semana, todo ano..” Apelou para prováveis doenças causadas pelo consumo dos animais: “Os médicos começaram a dizer que isso é o que está causando algumas das maiores doenças na nossa saúde nos dias de hoje”. E fechou com o recado que percebeu nas entrelinhas do documento da ONU: “Salvar os animais ou não é com você. Comer carne ou não é com você. Mas salvar o planeta não é mais uma questão de decidir. Talvez tenhamos essa responsabilidade pelos nossos filhos, pelo nosso futuro”. Para fãs que receberam tanto dos Beatles, um pedido de Paul pode soar uma ordem.