PUBLICIDADE

Parceria de Raul e Paulo Coelho pode virar filme

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma das mais ricas e controvertidas parcerias do rock brasileiro poderá virar minissérie para TV, contada por um dos próprios protagonistas. Parceiro de Raul Seixas em sua fase de maior sucesso, o escritor Paulo Coelho planeja escrever um roteiro sobre a história que os dois viveram na década dos 70. Trinta anos depois do disco de estréia, como você avalia o interesse pelo trabalho de Raul Seixas? Paulo Coelho - Trinta anos? Nossa, parece que foi ontem. O que me surpreende é a atualidade do trabalho. A gente não fazia idéia, não tinha noção da repercussão que as coisas iam ter. Eu me lembro da gente pensando na capa, em que ele está com um medalhão. E na contracapa, uma pichação da letra de Rockxixe. Na época, a pichação era a única manifestação possível. A idéia de sair em passeata cantando pelas ruas do Rio em 1973 foi sua? Ter idéia não basta. O que importa é que ele teve coragem de fazer. Foi um momento histórico. Saiu até no Jornal Nacional. Foi surpreendente. Começou só comigo, com ele e nossas mulheres, e terminou com uma multidão carregando a bandeira da sociedade alternativa. Muitos fãs de Raul Seixas o criticam, dizendo que se aproveitou dele para fazer sucesso e que mente ao dizer que escreveu sozinho algumas letras. Você acredita nisso? Essa coisa dos fãs nunca chegou a mim. E se chegasse, o que fica de concreto é o meu trabalho com o Raul. O resto não importa. A parceria de vocês sempre foi conturbada. Há uma história sobre a tentativa de reaproximação na década dos 80, por exigência de uma grande gravadora, mas que você saiu frustrado após Raul ser encontrado desmaiado depois de quatro dias trancado no quarto do hotel. Aquilo foi uma "forçada" de barra da gravadora. A nossa parceria já havia acabado. A parceria emocional havia acabado. As coisas acabam. Até as boas. Mas houve, sim, a tentativa. Como eu estava no Rio e não queria ir para São Paulo, e ele não queria ir para o Rio, escolhemos Itatiaia, no meio do caminho. Hoje, olhando com olhos de 55 anos, vejo que não devia ter aceitado a proposta. Supondo que tivesse dado certo, você acha que sua carreira de escritor não teria acontecido? Não acredito. Naquele momento eu já estava decidido a ir atrás dos meus sonhos. O ano de 1985 foi de transição para mim. Já estava decidido a fazer o caminho de Santiago no ano seguinte. E a história do livro sobre o Raul? Foi em 1991. Eu estava gostando muito, estava quase no fim. Dei para minha mulher ler, ela parou, olhou para uma imagem de Nossa Senhora e disse para eu não publicar. Eu perguntei por que e ela disse que recebeu um sinal. E eu acredito em sinais. Então resolvi me desfazer dele. Fui ao restaurante Antiquarius, no Rio de Janeiro, e falei para o meu editor, Paulo Rocco: quer ver meu novo livro? Abra em qualquer página e leia. Ele abriu e disse: genial! Então eu disse para que gravasse bem porque era só aquilo que iria ler. E o que fez com os originais? O livro foi apagado do meu computador, da minha memória. Preservei só um capítulo que eu falava como conheci o Raul. O resto apaguei e joguei os originais fora. Joguei numa lata de lixo no Jardim de Alá (Leblon, zona sul do Rio), perto de onde o Raul morou, porque não queria colocar fogo. Foram meses de trabalho perdido, mas eu adorei ter escrito. E não pretende retomá-lo? Jamais vou reescrever. Não tenho como fazer outro. Pelo menos da maneira como foi feito. Se eu fosse fazer, não seria em forma de livro. Seria uma coisa visual. Uma outra coisa... Um roteiro, uma minissérie. Eventualmente, um filme.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.